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Reabertura do Belas Artes é marcada por música, discursos e fila gigante

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

19/07/2014 20h52

Após três anos fechado por perda de patrocínio e aumento do aluguel, o Cine Belas Artes foi devolvido ao público às 16h deste sábado (19) em um evento que contou com música ao vivo e a presença de uma multidão que chegou cedo para garantir ingressos para as primeiras sessões.

Antes da abertura das portas, a banda Mustache e os Apaches animou o público que se concentrava em frente ao cinema, na Rua da Consolação. Em seguida, o administrador do cinema André Sturm ao lado do prefeito Fernando Haddad, do senador Eduardo Suplicy e do secretário de cultura Juca Ferreira cortaram a faixa e discursaram brevemente.

André agradeceu à equipe de centenas de pessoas que trabalharam mais de 18 horas por dia para que tudo estivesse pronto. Seu agradecimento  também se estendeu às milhares de pessoas que militaram pela volta do Belas Artes. Um painel ao lado da bilheteria homenageia as mais de 100 mil pessoas que participaram do abaixo-assinado contra o fechamento do espaço.

Vaias ao prefeito

O prefeito Fernando Haddad recebeu vaias de parte do público em todas as vezes em que foi mencionado. Ao pegar o microfone, ele pediu respeito. "Isso não tem nada a ver com partido. Vamos respeitar esse momento que é tão importante para a cidade".

Depois dos discursos políticos, um pequeno tumulto se formou em frente às bilheterias, que estavam com ingressos mais baratos, R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia. No entanto, a aglomeração foi logo controlada por seguranças e uma equipe do cinema.

A professora de português Aminah Haman foi uma das que acompanhou o fechamento do cinema, em 2011. Hoje ela voltou com os amigos Márcia, Pedro e Bruno para celebrar a reabertura. "A reabertura representa uma conquista e esse cinema é um símbolo para a nossa cidade".

Aminah e os amigos chegaram por volta do meio-dia e esperavam conseguir ingressos para a sessão de "Medos Privados em Lugares Públicos" das 22h. O filme ficou mais de três anos em cartaz no Belas Artes antes do fechamento. "Talvez por falta de tempo, não consegui assistir da primeira vez, mas agora não vou deixar passar", disse ela.

Entre os primeiros da fila também estava Antônia Hermínia Salles, de 80 anos, que frequenta o espaço desde 1948. O Belas Artes abriu as portas pela primeira vez em 1943, com o nome de Cine Ritz. "Vinha para namorar. Saía do cinema nas nuvens. Soube da reabertura pela TV e não quis perder. Deixei um monte de visita lá em casa me esperando", disse ela, na fila para a sessão de "O Estudante". 

A primeira sessão da reabertura

"Aos Ventos que Virão", de Hermano Penna, foi o filme escolhido para a primeira sessão de reabertura. O diretor estava presente e falou da importância do cinema.  "É uma belíssima conquista da cidade. Uma prova de que quando se quer é possível conseguir". Penna também é diretor de "Sargento Getúlio" (1983), filme que se baseia na obra de João Ubaldo Ribeiro. Na sessão, antes do filme, o fato foi lembrado por um dos espectadores que puxou uma salva de palmas em homenagem ao escritor, que morreu nesta sexta (18), no Rio de Janeiro.

Personalidades presentes

A primeira sessão também contou com a presença da apresentadora Marília Gabriela, que ressaltou a permanente presença de filmes engajados na programação. "O fechamento foi uma tristeza porque representou um momento em que a inteligência foi posta de lado", disse ela, que contou ainda que frequenta o cinema desde os anos 1960, quando se mudou de Campinas para São Paulo.

A cineasta e apresentadora Marina Person circulava pelo saguão atenta às mudanças da decoração comandadas pelo arquiteto Roberto Loeb. "O Belas Artes foi muito importante para a minha formação. Vi muitos filmes aqui", contou ela. Person não pegou nenhum ingresso para o primeiro dia. "Só vim aqui para prestigiar mesmo esse momento tão importante". 

Outro cineasta, Rubens Rewald, também estava no local e comemorava a conquista do movimento Cine Belas Artes, do qual foi um dos participantes. "A crença reverteu a lógica do capital. Esse movimento de sucesso não estava ligado a partido nenhum e apenas com organização e vontade fez a coisa acontecer", disse ele.

As primeiras sessões já haviam começado por volta das 17h e os amigos Andressa Cardoso, Giovana Paschoal e Cauê Pereira Costa ainda estavam na fila que já chegava à rua Bela Cintra. No entanto, eles acreditavam que entrariam em breve. "As sessões vão até às 22h. Acho que até lá conseguiremos ingressos para alguma delas".