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Veterano Al Pacino ofusca até Catherine Deneuve em seu dia de rei em Veneza

Neusa Barbosa

De Veneza, para o UOL

30/08/2014 11h56

Na fila por uma possível premiação como melhor ator pelo drama do texano David Gordon Green, "Manglehorn", e brilhando também fora da competição na comédia dramática "The Humbling", de Barry Levinson, Al Pacino ganhou todas as atenções neste primeiro final de semana no Festival de Veneza.

Não teve para ninguém, nem mesmo a musa Catherine Deneuve, vista nesta manhã de sábado (30) em outro filme da competição, o drama romântico francês "3 Coeurs". Os jornalistas só lotaram mesmo a sala de coletivas do festival, com muitos ficando de pé nas laterais, para ouvir Pacino, que não economizou carisma participando das coletivas dos dois filmes.

Muito empolgado e usando um cabelinho espetado e um óculos escuro azul-espelhado, que não tirou do rosto na sala de coletivas, o ator de 74 anos, cerca de 50 filmes nas costas, um único Oscar - por "Perfume de Mulher" (1992), de Martin Brest -, deixou claro que, na vida real, não tem a mais remota semelhança com os personagens deprimidos dos dois filmes, o ator Simon Axler, em "The Humbling", que adapta muito livremente o romance "A Humilhação", de Philip Roth, e o chaveiro Angelo Manglehorn, no drama de David Gordon Green.

"Posso até estar deprimido, mas nem percebo. Tive meus momentos em baixa, mas nunca mergulhei assim", declarou. Porém, ao lembrar de um de seus personagens mais famosos, admite: "Pensando bem, acho que Michael Corleone estava deprimido em 'O Poderoso Chefão 2'". Ele diz que nunca pensou em abandonar a carreira, como Simon. "Não gosto de metáforas, mas até agora o avião não está para pousar."

Ele riu muito quando lhe perguntaram se algum dia seduziu uma lésbica, como a interpretada por Greta Gerwig ("Frances Ha") em "The Humbling": "Não, isto é o filme!". Em cenas aqui, ele também não se constrangeu em falhar na cama, nem aparecer envelhecido e fragilizado fisicamente, ou totalmente aloprado no consultório de um veterinário, depois de convencer o médico a aplicar-lhe um analgésico indicado para cavalos após levar um tombo e ter uma insuportável dor na coluna.

Situações sem nenhum glamour como essas fazem parte do jogo para Pacino desde que, como ele mesmo diz, "você tenha apetite e paixão para continuar fazendo filmes". Quando lhe perguntam sobre as mudanças ocorridas em Hollywood nestas várias décadas em que trabalha, ele dispara: "Nunca soube o que é Hollywood. Me dizem que fica em Los Angeles (risos). Eu fiz cinema em Nova York.  Mas minha relação com Hollywood não é inamistosa, só não é tão nítida. E depois, as coisas mudam sempre, não quer dizer para melhor ou para pior. Como na vida, simplesmente mudam. Fiz grandes filmes lá. Fiz 'Dick Tracy' e me diverti muito".

Sem medo do mito
Indagado se achou assustador contracenar com Pacino, Chris Messina (da série "The Newsroom"), que interpreta seu filho em "Manglehorn", disse que não. "Al é um ator muito generoso e já nos conhecíamos. Para mim e meus amigos, ele é o nosso Marlon Brando", elogiou.