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Em "Rio, Eu te Amo", Montenegro vive mulher libertária, diz Waddington

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

08/09/2014 17h15

Com um time de 11 diretores brasileiros e estrangeiros, "Rio, Eu te Amo", o terceiro filme da franquia “Cities of Love”, estreia nesta quinta (11), e mostra a atriz Fernanda Montenegro em um papel inusitado: uma moradora de rua que decidiu por um jeito "libertário de viver a vida", definiu Andrucha Waddington, o diretor de um dos segmentos que integram o longa.

“Esta foi uma história que ouvi no bar de alguém que encheu o saco de prestar contas à sociedade. Era de uma figura lendária. Me contaram essa história há uns 10 anos e fiquei com a ideia de fazer um filme”, comentou o cineasta em entrevista coletiva nesta segunda (8).

Andrucha admitiu que, quando foi contatado pela produção para contar uma história de amor sobre o Rio, durante quatro meses ficou sem saber o que fazer. “As histórias escolhem a gente, e aquela ficou na minha cabeça e nunca tinha virado roteiro. A gente pesquisou mais de 100 moradores de rua e muitos diziam que não queriam voltar para casa. A rua tem uma magia sobre quem passa a morar nela e me fez constatar que aquela história não era absurda”, afirmou.

Para protagonizar a moradora de rua, Waddington escolheu nada menos que Fernanda Montenegro. Contracenando com ela, está o comediante Eduardo Sterblitch, que viveu o neto da personagem.

“Ela simplesmente era um pessoa que encheu o saco e decidiu ter um modo anárquico e libertário de viver a vida. Todo mundo tem direito de viver da maneira que quiser. Essa foi minha premissa. Desde o princípio, pensei nos dois, Fernanda e Eduardo. Ela, uma velha que estava sem ver o neto há uma década. E os dois se reencontram. Ela mostra que é feliz daquele jeito. O grande barato era o espanto do neto ao acreditar na avó. É uma história de amor da mulher, da forma completamente anárquica que vive e um reencontro desses dois familiares”, disse.

Para Sterblitch, atuar com Fernanda Montenegro foi mais que um “presente”. “A minha intenção foi só passar a bola certa e ela fazer o gol muito bem. Foi um orgulho grande”, disse.

Na coletiva realizada nesta segunda, na casa de shows Miranda, no Rio, estiveram presentes dois diretores estrangeiros que vieram exclusivamente para o lançamento no Rio: a libanesa Nadine Labaki e o mexicano Guillermo Arriaga. Também estava presente o brasileiro Carlos Saldanha, internacionalmente conhecido por animações como "A Era do Gelo" e "Rio", além de um total de quase 20 pessoas, entre produtores, cineastas e atores, que formaram a mesa para conversar com a imprensa.

“Rio, Eu te Amo” conta histórias de amores passageiros, eternos, em crise, amargos ou repletos de ternura. Para celebrar o amor no Rio, o longa reúne 26 estrelas nacionais e internacionais, entre elas Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Vincent Cassel, Jason Isaacs, Cláudia Abreu, John Turturro, Emily Mortimer, Marcelo Serrado, Harvey Keitel e Vanessa Paradis.

Lista dos sonhos

Segundo o produtor Josh Skurla, da Empyrean Pictures, a ideia de incluir o Rio de Janeiro na série "Cities of Love", que já teve Nova York e Paris como panos de fundo, surgiu em 2006 numa conversa com os idealizadores durante o Festival de Cannes.

“A gente criou uma lista dos diretores dos sonhos, todo o mundo que queríamos aceitou. Apresentamos o projeto, e muitos nos disseram que amavam o Rio. Foi um processo orgânico e natural”, afirmou Skurla.

Em termos de liberdade, o produtor garantiu que, apesar de um roteiro que os diretores tinham que seguir e das regras de apenas dois protagonistas por historia, a “licença era total”.

A produção, que levou mais de sete meses de filmagem, custou cerca de R$ 20 milhões, afirmou Skurla ao UOL. Só a Riofilme investiu R$ 2 milhões na produção.

Segundo Pedro Buarque, da Conspiração Filmes, o calendário apertado de gravações exigiu um enorme esforço de logística. “É mais do que um filme,  é um projeto ambicioso. A gente vai exportar esse filme para muitos países nos cinco continentes. Tem um lado inédito no Brasil. A criação de um movimento paralelo nas redes sociais com mais de 1 milhão de fãs só no Facebook”, disse.

Trailer de "Rio, Eu te Amo"

Buarque ainda conta como foi o processo de escolha dos diretores. “O que pesou na nossa escolha do diretor foi o talento artístico, eram profissionais respeitados, que a gente achava que tinham coisas em comum. Fizemos questão de escolher diretores de países distantes para traduzir pontos de vista distintos.”

Na opinião de Sérgio Sá Leitão, da Riofilme, distribuidora gerida pela prefeitura do Rio, o  projeto favorecerá a indústria cinematográfica local. “É um projeto à altura da excelência da cidade. O Rio está muito bem representado no filme. Além da promoção da imagem da cidade, esse é um investimento. É um projeto que, desde o princípio, nos interessou do ponto de vista artístico, cultural e do impacto que pode ter no desenvolvimento da cidade”, argumentou Sá Leitão.

Polêmica do Cristo

Apesar das grandes expectativas que rondaram o seu lançamento, o longa gerou polêmica ao ter um de seus episódios vetados pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, que não autorizou o uso da imagem do Cristo Redentor no curta "Inútil Paisagem", dirigido por José Padilha e estralado por Wagner Moura. Em julho, porém, a Igreja voltou atrás e liberou o curta.

De acordo com os produtores, por pouco o episódio de Padilha não entrou na versão final do longa. “A gente nunca imaginou que isso fosse acontecer. O filme do José Padilha tinha um roteiro um pouco maior, e a cena do Cristo ganhou importância. A gente nunca imaginou que a Igreja fosse ter essa postura. O filme não é religioso, mas graças a Deus eles [da Arquidiocese] voltaram atrás e viram que não tinha razão para aquilo. Foi muita correria”, contou Pedro Buarque.