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Homenagem a Charles Chaplin encerra Mostra de SP com orquestra ao ar livre

Carlos Minuano

Do UOL, em São Paulo

02/11/2014 12h08

A chuva que caiu no fim da tarde deste sábado (1°), em São Paulo não atrapalhou a sessão especial ao ar livre em homenagem ao centenário de Carlitos, que encerrou a 38° Mostra Internacional de Cinema no parque Ibirapuera. Foram exibidos o curta “Corrida de Automóveis para Meninos” (1914), no qual o personagem criado por Charles Chaplin aparece pela primeira vez, e o longa “O Circo” (1928), último filme mudo do ator e diretor britânico.

A trilha dos filmes, incluindo a do longa, refeita por Chaplin na década de 1960, quando o filme ganhou uma cópia restaurada, foi executada ao vivo pela Orquestra Experimental de Repertório, da Fundação Teatro Municipal, com regência do maestro Carlos Eduardo Moreno. O filme começa com a canção “Swing Little Girl”, cantada pelo próprio Chaplin, na época com 79 anos.

A sessão começou pontualmente às 20h. A noite úmida não espantou o público. Centenas se acomodaram no gramado ainda molhado. Capas de chuva viraram esteiras improvisadas e vários guarda-chuvas permaneceram abertos, de prontidão. Sem emitir uma palavra, Carlitos, um dos personagens mais famosos do cinema, provocou risadas na plateia, formada por gente de todas as idades.

Ouviu-se muitas risadas principalmente durante uma das sequências certamente mais hilárias do filme, quando Carlitos corre desesperadamente de um cavalo e acaba preso na jaula de um leão. O estilo inconfundível marcado pelo chapéu-coco, bengala, e andar desengonçado, que se tornou um ícone do cinema mudo, encantou até quem nunca tinha visto o vagabundo e atrapalhado criado por Chaplin.

Foi o caso do pequeno Gustavo Cordeiro, de oito ano, que se divertiu com as muitas caras e bocas de Carlitos. Mas ficou intrigado com um detalhe: “Ele era mudo mesmo?”, perguntou aos pais. A mãe do menino Vanessa Castro explica se tratar do mesmo personagem do desenho animado a que ele assiste na televisão. Ela declara ser fã de Carlitos desde criança e explica por quê. “Transmite tudo por meio da mimica, alegria e tristeza.”

Humor, crítica social e poesia

Nas aventuras atrapalhadas de Carlitos há bem mais do que piadas. Por trás do cômico, Chaplin tece críticas que permanecem atuais. Em “O Circo”, o vagabundo de chapéu-coco, tenta se inserir no picadeiro como artista. Não consegue e vai como operário, mas as confusões em que se envolve o levam para o centro da arena, transformando-o na principal atração do espetáculo. “Mostra a divisão de classes e a desigualdade social”, observa Tiago Abreu, professor.

Ele conferiu a sessão junto de um grupo de amigos, todos educadores. A colega Dinalva Torres também elogiou o filme. Para ela o que faz a obra de Chaplin genial é abordar temas universais. “Ele usa o humor para se aproximar do público. Embora possamos chamar de comédia, os filmes tocam em questões centrais da alma humana”, defende Torres. “Falam de ideias que não envelheceram”, acrescenta Juliana Almeida.

Um pouco mais nostálgico, Carlos Nelessen assistiu ao filme saboreando algumas doses de rum. O grupo trouxe a bebida de uma viagem recente a Cuba. “Filmes do Chaplin me lembram a infância”, disse.   

A procura por bons filmes fez com que Gabriela Ferreira encontrasse Carlitos. “Depois de assistir ‘Dogville’, me animei a entender melhor a crítica que o diretor faz”, diz. O filme de Lars von Trier, de 2003, sem cenário, questiona efeitos especiais no cinema americano. “Na obra de Chaplin, o importante não é o cenário, mas a poesia.”

Após a exibição, uma imitadora de Carlitos ganhou a atenção de algumas pessoas que ainda permaneciam no local, fazendo mimicas e distribuindo flores. Daniele Santiago, que acompanha o sósia do personagem de Chaplin pela cidade aos fins de semana, informou que se trata de um laboratório, mas sem fins comerciais ou de pesquisa. “Queremos ver reação do público diante do inusitado.”