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Obama diz que Sony cometeu erro ao suspender "A Entrevista"

Do UOL, em São Paulo

19/12/2014 17h06

O presidente norte-americano Barack Obama disse durante um pronunciamento na Casa Branca, na tarde desta sexta-feira (19), que a Sony errou ao cancelar o lançamento do filme "A Entrevista", que retrata em tom de comédia o assassinato do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Um. A decisão do estúdio ocorreu após um ataque hacker a seus sistemas de dados, que revelou desde e-mails corporativos, a salários de executivos e atores da empresa.

"A Sony é uma corporação que sofreu significantes perdas, sou simpático a suas preocupações. Mas acho que eles cometeram um erro. Eu gostaria que eles tivessem falado comigo antes. Eu teria dito que eles não fossem por esse caminho e que não se intimidassem por esses ataques criminosos."

"Não podemos viver em uma sociedade em que um ditador de algum lugar imponha censura aos Estados Unidos. Se eles estão fazendo isso com um filme satírico, imagine o que eles não farão quando tiver um documentário ou um noticiário que eles não gostem?", disse Obama.

Sobre a resposta que os EUA estão preparando para a Coreia do Norte, Obama disse que o país irá responder à altura, mas que não informaria como se daria esse contra-ataque em uma entrevista coletiva.

Em seguida, Obama ironizou a atitude da Coreia, que nesta manhã foi diretamente responsabilizada pelo ataque pelo FBI. "Uma coisa interessante sobre a Coreia do Norte é que decidiram lançar um ataque por causa de uma comédia satírica com Seth Rogen e James Franco [risos]. Adoro eles, mas é uma comédia. E a decisão da Coreia mostra o tipo de governo que eles têm. Eles causaram danos sérios. Vamos responder, mas não é uma resposta que anunciaremos aqui hoje."

Obama também considerou os danos econômicos que esse tipo de ação pode trazer para a economia americana.

"Não apenas a indústria de filmes, mas a da mídia e o setor privado, temos que antecipar que teremos falhas como essas. Elas podem ser sérias e devemos levá-las a sério. Mas não podemos nos intimidar da mesma forma que não cancelaríamos um jogo de futebol por conta de uma ameaça de ataque", continuou o presidente. "Esse tipo de ataque pode afetar não só filmes, mas também toda nossa economia."

Neste sábado (20), o governo da Coreia do Norte ofereceu ajuda para investigar o caso e disse que não tem nenhuma relação com o incidente.

O caso

O FBI, órgão federal de investigação dos Estados Unidos, anunciou nesta sexta-feira (19) que a Coreia do Norte foi responsável pelo ataque hacker à Sony Pictures.

"Como resultado da nossa investigação e em colaboração com outros departamentos e agências do governo, o FBI agora tem informações suficientes para concluir que o governo da Coreia do Norte é responsável por essas ações", disse a agência em comunicado. "Estes atos de intimidação são um comportamento inaceitável de um Estado", acrescentou o texto.

Segundo o FBI, a conclusão se baseia em análise técnica do malware usado no ataque, que tem ligação com o programa usado por agentes coreanos em outras ocasiões. Além disso, também foram identificadas coincidências entre a infraestrutura usada no ataque e outras ações cibernéticas maliciosas que o governo americano atribui diretamente à Coreia do Norte.

Com o anúncio do envolvimento da Coreia do Norte no ataque, fica claro que a principal motivação foi a comédia "A Entrevista", em que James Franco e Seth Rogen interpretam dois jornalistas recrutados pela CIA para exterminar o líder norte-coreano Kim Jong Un.

O filme gerou críticas do governo norte-coreano desde seu anúncio, e sua estreia foi cancelada na última quarta-feira, após ameaças de ataques terroristas aos cinemas que exibissem o longa. “A Sony Pictures não tem planos futuros de lançamento para o filme”, disse o porta-voz do estúdio.

A estreia da comédia também está cancelada “até segunda ordem” no Brasil, de acordo com a assessoria de imprensa da Sony no país. O filme estava programado para estrear em circuito nacional no dia 29 de janeiro.

Anteriormente, a Sony estudava lançar “A Entrevista” online, sob demanda. No entanto, de acordo com a “Variety”, o filme não deve ser lançado nem em DVD, em uma decisão sem precedentes na história de Hollywood. Segundo o site especializado “The Wrap”, o prejuízo do estúdio pode chegar a US$ 90 milhões (cerca de R$ 230 milhões).

Desde o dia 24 de novembro, o Guardians of Peace vem divulgando centenas de dados sigilosos do estúdio, como documentos de folhas de pagamentos, endereços e e-mails constrangedores trocados entre executivos.

Nova ameaça

Nesta sexta, depois do anúncio do cancelamento da estreia, os hackers fizeram novas ameaças, exigindo que o filme jamais seja "lançado, distribuído ou vazado em qualquer formato como, por exemplo, DVD ou pirataria".

Por conta do caso, a Fox divulgou também que não irá lançar em março, como previsto, o longa "Pyongyang", do diretor Gore Verbinski, estrelado por Steve Carell. Baseado na graphic novel de Guy Delisle, o suspense retrata experiências de um ocidental que trabalha na Coreia do Norte por um ano.

"É muito sábio da parte de vocês que tenham tomado a decisão de cancelar o lançamento de 'A Entrevista'", disse a mensagem, segundo a CNN. "Nós garantimos a segurança dos seus dados, a menos que vocês criem problemas adicionais."

"E queremos que tudo relacionado ao filme, incluindo seus trailers, bem como a sua versão completa em qualquer site de hospedagem seja deletado imediatamente”.

Em entrevista coletiva nesta quinta, o secretário de imprensa da presidência americana Josh Earnest disse que o ataque à Sony é considerado "uma séria questão de segurança nacional" e que o governo está considerando uma série de respostas possíveis para quando as investigações do FBI e do Departamento de Justiça forem concluídas. Earnest também teve o cuidado de não afirmar que a Casa Branca acredita no envolvimento da Coreia do Norte.

Paulo Coelho quer distribuir o filme

O escritor Paulo Coelho surpreendeu seus seguidores nesta quinta (18) ao oferecer à Sony US$ 100 mil para adquirir os direitos sobre o longa "A Entrevista", cujo lançamento foi cancelado depois que hackers norte-coreanos invadiram os sistemas do estúdio e divulgaram informações confidenciais.

"Vou postar (o filme) de graça no meu blog. Por favor, entre em contato comigo via Sony Pictures do Brasil", publicou o escritor brasileiro, que já vendeu mais de 165 milhões livros no mundo, em sua conta no Twitter.

Em seguida, o autor de "O Alquimista" completou: "A oferta para a Sony Pictures vale até as 12h desta sexta-feira. Vocês recuperam 0,01% do orçamento, e eu posso dizer 'não' para ameaças terroristas".

O escritor conversou com a reportagem do UOL nesta quinta-feira (18) explicando o motivo de sua proposta.

"Eu acho uma ameaça a qualquer artista em qualquer lugar do mundo. Na minha juventude acompanhei o caso de Salman Rushdie [autor do polêmico livro "Versos Satânicos"]. Os editores suspenderam, mas depois resolveram publicar. Foi um horror. Teve editor assassinado, teve livraria queimada, mas a liberdade de expressão foi mantida. A Sony abriu um precedente terrível", disse o escritor brasileiro.