Festival de Cinema Chinês traz para SP dramas premiados e comédia pastelão
“Amigos perdidos na Tailândia se metem nas mais alucinantes enrascadas porque não conhecem a cultura e os costumes locais”. A sinopse à la “filmes da Sessão da Tarde” é do longa “Perdidos na Tailândia” e se ele não tivesse sido dirigido e estrelado por chineses, seria facilmente confundido como mais uma continuação de “Se Beber Não Case”.
O título é apenas um entre os mais de 700 filmes produzidos todos os anos pela China continental, sendo que pouquíssimos são exibidos fora do país. Com a pretensão de apresentar aos brasileiros a diversidade dos longas chineses --que vão além de Hong Kong e o kung-fu--, o Instituto Confúcio, com curadoria da brasileira Anamaria Boschi e do chinês Sun Lidong, promove a partir desta quinta-feira (1º), em São Paulo, a 1ª Mostra de Cinema Chinês. A abertura será nesta quarta apenas para convidados.
Ao todo, serão exibidos 12 filmes, a maioria vencedores de festivais como Berlim e Veneza, além de superproduções comerciais. “Escolhemos desde blockbusters passando por comédias, ao estilo ‘Se Beber Não Case’, além de dramas e suspenses. A maioria dos filmes chineses exibidos no Brasil até então foram feitos em Hong Kong e Taiwan e são de kung-fu. Fugimos disso”, conta Anamaria.
Um dos destaques da programação é o drama “A Montanha do Buda” (2010), que tem no elenco a atriz Fan Bingbing. Neste ano, a estrela ocupou o 4º lugar entre as atrizes mais bem pagas do mundo. Pouco conhecida fora da China, ela atuou principalmente em produções locais, mas também já participou de alguns blockbusters de Hollywood, como “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”, como a teleporte Blink. O filme narra a história de três jovens que lutam para ganhar a vida, seja como cantor independente ou como vendedor de comida ambulante, até que eles alugam o quarto de uma cantora de ópera que está de luto pela morte do filho.
Já o filme de abertura, "Carvão Negro", ganhou o Urso de Ouro em Berlim no ano passado. O longa conta a história do policial Zhang Zili que foi gravemente ferido enquanto trabalhava num caso de homicídio numa fábrica de carvão.
“Nosso objetivo é mostrar filmes que representem a China urbana e rural e apresentar as suas contradições. Embora o país cresça sem parar há anos, ele ainda é bastante rural”, conta Anamaria. A curadora cita os dramas “Último Trem Para Casa” e “Caminhado Para a Escola” como exemplos desses aspectos. O primeiro usa como pano de fundo o maior deslocamento de pessoas do mundo, quando cerca de 150 milhões de chineses lotam o sistema ferroviário do país para visitarem suas famílias durante o ano novo chinês. Entre eles está o casal Zhang, que pretende encontrar a filha Qin, deixada com a avó há 16 anos.
O segundo é “Caminhando Para a Escola”, dos diretores Peng Jiahuang e Peng Chen. O filme conta a história de um garoto que vive em uma aldeia e quer ir à escola com a sua irmã. Mas a escola está do outro lado do rio e a travessia é feita por meio de um perigoso cabo de suspensão.
Suspenses e filmes de arte
Sun Lidong lembra também que a além das comédias e dramas, a China tem produzido muitos filmes independentes e suspenses de tirar o fôlego. Um deles, segundo Sun, é “Amnésia Vermelha”, dirigido por Wang Xiaoshuai. O filme conta a história de uma viúva que passa os dias se preocupando com os filhos já crescidos e a mãe idosa. Até que um dia ela começa a receber telefonemas anônimos que remetem à época da Revolução Cultural.
De acordo com Anamaria, nenhum dos filmes que vieram para o Brasil foram censurados e, embora os enredos não contestem o governo, os temas abordados perpassam diversos momentos da história recente chinesa. Ela cita como exemplo a Revolução Cultural, a política do filho único, o governo comunista, a explosão econômica, a poluição e a população rural. “Esta também foi uma de nossas preocupações quando escolhemos os filmes. Queríamos títulos que abordassem a China real”, disse Anamaria.
Desses 12 títulos, dois são documentários. “Eu Estou Aqui”, do diretor Fan Lixin, mostra os bastidores do programa “Super Boys”, uma versão chinesa do “The Voice” só com garotos e que se transformou em um fenômeno de audiência por lá. Em meio às disputas de música, o diretor apresenta diversas mudanças pelas quais a socidade chinesa está passando. O outro documentário é “Marcas da Juventude”, do diretor Billy Chung. O filme acompanha a rigorosa preparação dos jovens chineses antes da prova do vestibular no país, mostrando a pressão exercida pelos pais, amigos e governo pela melhor colocação.
“Por conta da burocracia entre os dois países, ainda estamos muito longe de conseguir estabelecer uma parceria de coprodução”, explica Anamaria. “Mas festivais como esses ajudam a diminuir essa distância”. A curadora lembrou ainda que até hoje apenas dois filmes brasileiros estrearam no circuito comercial chinês: “Tropa de Elite 2” e “Na Estrada da Vida”, documentário da década de 80 que conta a história da dupla Milionário e José Rico.
Os filmes do 1º Festival de Cinema Chinês serão exibidos no CineSesc até 7 de outubro.
Confira a programação completa no CineSesc:
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