Sala confortável, som nem tanto: testamos um dos cinemas populares de SP
Se a ideia das novas salas populares de cinema de São Paulo é competir com as do Cinemark, como afirmou o prefeito Fernando Haddad no lançamento do projeto, o caminho foi aberto, mas ainda há o que melhorar, principalmente em termos de estrutura. O UOL assistiu a uma sessão de “Os Dez Mandamentos” na noite desta quarta (20), no CEU Butantã, um dos 20 espaços do Circuito SPCine, que até maio deve chegar a 15 Centros de Educação Unificada e a cinco centros culturais, todos na periferia –quatro deles já foram inaugurados.
Montada no teatro Carlos Zara, no mesmo prédio da biblioteca Jornalista Roberto Marinho, a sala tem 450 lugares, é confortável, conta com boa ventilação, poltronas com assento reclinável e amplo espaço para circulação e acessibilidade. Com extintores de incêndio e saídas bem sinalizadas, o cinema, no geral, proporciona uma boa experiência ao espectador, que não precisa pagar pelo ingresso. Basta se dirigir à bilheteria uma hora antes do filme e retirá-lo.
Atualizado semanalmente, o cardápio de filmes é variado, com três sessões diárias às quintas, domingos e quartas, que misturam blockbusters e produções menores, especialmente as nacionais. Dos quatro longas atualmente em cartaz nas quatro salas inauguradas, três são brasileiros: “Os Dez Mandamentos”, “O Escaravelho do Diabo” e a animação “O Menino e o Mundo”. No CEUs Jaçanã e Quinta do Sol, o público também pode assistir a “Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme”, que é exibido em versão dublada em 2D.
Pontos negativos: diferentemente da imagem, o som não é perfeito. Mesmo contando com o sistema Dolby 5.1, o mesmo da maioria das salas comerciais, é possível escutar interferências externas e ecos durante a projeção, que atrapalham a compreensão de falas do filme. No ápice de “Os Dez Mandamentos”, na cena em que Deus escreve suas ordens em uma pedra no alto da colina, a voz grave do “todo poderoso” soava quase ininteligível em alguns momentos. O mesmo aconteceu em outras passagens do filme, que foram prejudicadas pela acústica do local, originalmente um teatro.
O quesito alimentação também pode ser melhorado no CEU Butantã. Não há lanchonetes nem ambulantes circulando no local. Quem quisesse comer antes da sessão era obrigado a sair do CEU e ir ao mercadinho mais próximo, localizado a 300 metros da sala. Para atender ao público, há dois banheiros simples e limpos, com dois reservados cada um. Na noite desta quarta, o UOL não encontrou sabonete para lavar as mãos na pia do banheiro masculino.
Procurada pelo UOL, a SPCine afirmou que está avaliando as interferências constatadas pela reportagem e que possíveis soluções já estão sendo estudadas na próxima etapa do projeto do circuito. Sobre as lanchonetes diz que "o regimento interno dos CEUs impede a comercialização de produtos e alimentos nas dependências do espaço, norma que, por sua vez, está sendo reavaliada pela Prefeitura de São Paulo junto à empresa de cinema e audiovisual."
De volta ao cinema
Independentemente desses detalhes, o público, que compareceu em bom número —cerca de 200 pessoas—, aprovou as salas gratuitas. O teatro Carlos Zara encheu principalmente com jovens, crianças e famílias, algumas vindas de caravana do bairro Caxingui, zona oeste da capital.
“Nem reparei em estrutura do lugar. Tem uns 20 anos que não vou ao cinema. A última vez que fui na praça da Sé, nem lembro qual filme vi”, disse a copeira Maria Moreira, 57, que aproveitou para ver duas sessões em sequência, o nacional “Sinfonia da Necrópole” e “Os Dez Mandamentos”. “Como moro aqui perto, vim direto do serviço.”
“O outro CEU aqui do Butantã, onde tem a Etec [Escola Técnicas Estadual], é melhor. Tem lanchonete. Mas gostei muito. O ingresso está muito caro hoje em dia, tem que baixar esse preço. Agora vou começar a vir sempre”, afirma a diarista Maria do Carmo Souza, 48, que não ia ao cinema há 11 anos, quando assistiu a “Dois Filhos de Francisco”.
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