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Em Cannes, Iggy Pop diz que trocou as drogas por um bom vinho

Thiago Stivaletti

Colaboração para o UOL, de Cannes

19/05/2016 11h25

Depois do sucesso de “Amy”, o documentário sobre Amy Winehouse que estreou em Cannes no ano passado, o festival decidiu ficar mais rock’n’roll. Esta quinta (19) foi o dia de Iggy Pop, 69 anos, botar pra quebrar com um merecido documentário sobre sua vida e carreira, “Gimme Danger”, dirigido pelo americano Jim Jarmusch – o mesmo de “Paterson”, que está na competição e é um dos favoritos à Palma de Ouro.

Iggy começou dizendo que não ajudou muito o diretor nas imagens de arquivo. “Sou o tipo de cara que joga as coisas fora. Mas procurei pessoas que podiam ter arquivos meus, como seguidores bizarros, traficantes, bootleggers [pessoas que gravam sua música ilegalmente]”, brincou.

Pop, cujo nome de batismo é James Osterberg, só viu o filme pela primeira vez na noite de quarta e lembrou do início dos Stooges nos anos 1960. “Oh meu deus! Eu era um produto daqueles tempos. (...) Tinha a cabeça aberta cheia de sangue a cada quatro shows. E os estúdios eram amorfos, a gente era como uma ameba que entrava no corpo deles.”

Só digo que todo mundo devia parar com essa porcaria. Hoje, curto apenas um bom vinho.
Iggy Pop, sobre as drogas

Dos anos de sexo, drogas e rock’n’roll, as drogas foram as únicas que ficaram para trás. “Só digo que todo mundo devia parar com essa porcaria. Hoje, curto apenas um bom vinho. Maconha é OK para muita gente. Mas o que acontece com drogas é assim, né? Que tal um pouco mais desse vinho, um pouco mais desse beque, dessa mescalina?... E por aí vai”, disse, matando a sala de rir. “Hoje me regenerei de coisas que pus pra dentro. E quando não estou nesse negócio, tento ir pra cama mais cedo.”

Uma repórter pediu que ele comentasse a “situação do mundo” hoje. “Segundo Iggy Pop?”, retrucou. “Creio que as pessoas precisam manter um bom nível de desconexão. As coisas estão ficando conectadas demais o tempo todo. Tudo se tornou negócio, e essa foi a ideia mais idiota de utopia que podíamos ter. O que você quer que eu diga? Que o mundo é amor? Sim, precisamos de mais amor. Isso também é verdade”, filosofou.

“Gimme Danger” foi comprado pela Amazon para lançamento em seu serviço de streaming nos Estados Unidos, logo depois de um lançamento pequeno nos cinemas americanos. No Brasil, não há previsão de lançamento nos cinemas – é possível que o filme vá direto para o video on demand.