Shia Labeouf chega calmo a Cannes, mas se nega a falar sobre cenas de sexo
Nos últimos anos, Shia Labeouf decidiu construir uma estranha carreira de ator mais polêmico de Hollywood. O astro dos três primeiros filmes da franquia “Transformers” foi acusado de plagiar outros artistas em seus trabalhos; usou um comentário também plagiado para se desculpar; irritado, abandonou a sala no meio da entrevista coletiva de “Ninfomaníaca” no Festival de Berlim, em seguida foi à sessão de gala com um saco na cabeça com os dizeres ‘Não sou mais famoso’; e depois “revelou” que uma mulher teria abusado sexualmente dele num encontro com fãs. Como outros antes dele, também anunciou há dois anos que ia interromper a carreira de ator e sumir.
Seria lindo se fosse verdade, mas não é. Shia chegou a Cannes para apresentar “American Honey”, da britânica Andrea Arnold, que foi recebido com frieza no festival – havia muitos lugares vazios na coletiva, algo estranho para um filme de pegada pop com uma grande estrela americana. Ele chegou um pouco irritado, mas bem mais comportado do que em Berlim. Os jornalistas tiram fotos perto da mesa antes da coletiva começar. “Por quanto tempo vamos fazer isso?”, provocou. “Por uma hora”, ironizou um repórter grosseiro. Depois, ele acabou relaxando e nem pensou em ir embora.
A pergunta que poderia ter lhe irritado foi a mesma de Berlim: como foi fazer as cenas de sexo. “Ainda não vi o filme, então não sei do que você está falando. A cena no mato? Não é uma cena de sexo. É uma cena longa, com muitas coisas nela”, respondeu. Sim, quando ele puder ver o filme vai “descobrir” que há bastante sexo na cena.
O filme segue a linha do famoso “Kids”, de 1995, ou o recente “Spring Breakers – Garotas Perigosas”: jovens americanos inconsequentes viajam pelos EUA curtindo uma vida de muito sexo, muita droga, muita bebida, muita música e alguma pancadaria. Para ganhar dinheiro, garotos e garotas usam o corpinho e o carisma para convencer solitários e desinformados a fazer a assinatura de algumas revistas.
Shia vive Jake, um dos líderes do grupo, bom vendedor que seduz as donas de casa inventando uma mentira atrás da outra. Um dia, de passagem pelo Texas, ele conhece e se encanta por Star (a novata Sasha Lane), uma jovem perdida que embarca no grupo. Eles vivem uma relação de tapas e beijos, com direito a fortes cenas de sexo.
“No primeiro dia de filmagem, eu estava me preparando pra viver aquele macho alfa, chega a diretora e me pede para ensaiar uns passos com uma música da Rihanna. Não gostei”, brincou.
Para se preparar, ele viajou por uma semana pela Costa Pacífico com um grupo de vendas semelhante ao do filme. “Sou parte de uma classe mais pobre, é o lugar de onde venho. Em Bakersfield, a cidade do meu pai, por exemplo, a única coisa que existe é uma prisão”.
Rebelde, Star às vezes larga o grupo para acompanhar homens dispostos a pagar por ela. Mas a história tem umas inverossimilhanças meio difíceis de engolir: bonita, com 18 anos, ela se mete com homens mais velhos e mal intencionados, mas nunca chega a sofrer nenhuma ameaça de estupro ou violência física. Bastante sorte.
Sem falar no fato estranho de um grupo ainda conseguir vender tantas revistas hoje em dia, com celulares, notebooks e tablets cheios de informação por todo lado. “Comecei o roteiro antes dessa onda de tecnologia. Na verdade as pessoas não compram a revista, e sim a pessoa que está vendendo. Mas é verdade, ninguém mais compra revista, nem eu”, se enrolou a diretora. “A van dos garotos é um microcosmo do sonho americano, com pessoas tentando ganhar suas vidas para realizar seus sonhos.”
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