Festival do Rio: Com maioria de mulheres, diretora defende seleção plural
Há um mês, quando o Festival do Rio divulgou a lista de filmes selecionados para a Première Brasil, mostra competitiva de cinema brasileiro, o que mais chamou atenção foi a quantidade de títulos dirigidos ou codirigidos por mulheres --sete de um total de nove longas de ficção--, um feito inédito para o evento, e provavelmente para todos os festivais de cinema do país.
“A gente priorizou e prioriza a qualidade. Não fizemos nenhuma concessão, é importante dizer isso”, frisa a diretora do festival, Ilda Santiago. Na seleção do evento, que vai de quinta (5) até 15 de outubro, estão trabalhos como “Aos Teus Olhos”, de Carolina Jabor, “As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas e Marco Dutra, “Como É Cruel Viver Assim”, de Júlia Rezende, e “Praça Paris”, de Lúcia Murat. “Mas foi uma boa descoberta nos darmos conta de que essa seleção tinha tantas mulheres”, diz.
No entanto, Ilda, que lidera a equipe que escolhe os filmes para o evento, vai na contramão daqueles que defendem apenas o critério artístico para a seleção. “Hoje em dia, a gente absolutamente não pode deixar de pensar em uma composição mais plural, mais igualitária, não só de mulheres e homens, mas obviamente de tudo que é a construção do país, do que nós queremos ser”, afirma.
De qualquer maneira, é uma vitrine e tanto para o trabalho das mulheres no cinema brasileiro, onde elas ainda são minoria (em 2017, dos 106 filmes nacionais lançados, apenas 22 são dirigidos ou codirigidos por mulheres), apesar de cada vez mais se mobilizarem para ocupar espaços em todas as funções, da direção à fotografia, até a crítica.
“Se eu te disser que isso está mudando, provavelmente vou tomar pedrada, um monte de gente vai dizer que não está. Mas hoje existe um engajamento, um pensamento mais concreto em relação a isso”, diz Ilda sobre a presença das mulheres no nosso cinema.
“O que está acontecendo hoje, essa presença maior, é resultado de uma batalha que está longe de terminar. Mas todos nós temos que estar cientes da necessidade de ter uma visão mais plural, mais cidadã. No momento que a gente se dá conta de onde existe o problema, aí sim começamos a construir um país diferente”, acredita.
Temas quentes
Outra maneira em que um festival de cinema pode ajudar a construir um país diferente é através dos temas presentes nos filmes exibidos, e Ilda acredita que a seleção deste ano reflete o momento de polarização social que o país vive.
Entre as questões que estarão presentes na Première Brasil, há a herança da escravidão (“Açúcar”), a violência urbana (“O Animal Cordial”), linchamentos virtuais e pedofilia (“Aos Teus Olhos”), a condição da mulher (“Boas Maneiras”), entre outros.
“Acho que isso é quase inevitável. E não é uma coisa só de Brasil. Até em países onde o mercado dita mais a regra, hoje há um grande volume de filmes que questionam o mundo que a gente está vivendo e a forma como a gente está vivendo, seja do ponto de vista social, ecológico, ou de como percebemos o mundo. Eu não tenho a menor dúvida de que a Première Brasil de fato é capaz de demonstrar isso”, diz a diretora.
Grandes festivais e Oscar
Saindo da produção nacional para o panorama mais amplo do cinema internacional, o Festival do Rio mais uma vez se destaca por prontamente trazer para o público brasileiro os filmes de maior destaque no circuito de festivais, que estão pavimentando seu caminho até o Oscar, como “A Forma da Água”, de Guillermo del Toro, que abre o evento.
“Hoje os filmes saem logo e as pessoas ficam sabendo deles com muita rapidez. O que a gente faz é ter uma sintonia direta com o público, e o interesse deles é de ver esses filmes que foram os grandes títulos em Cannes, em Berlim, em Veneza, em Toronto”, explica Ilda, acrescentando que conseguir trazer esses títulos é fruto de um trabalho de consolidação do festival no mercado interno e externo.
Entre esses filmes, ela destaca títulos como “Detroit em Rebelião”, de Kathryn Bigelow (“Guerra ao Terror”), “O Formidável”, de Michel Hazanavicius (“O Artista”) e “Me Chame pelo seu Nome”, de Luca Guadagnino, sendo que os diretores destes dois últimos marcarão presença no Rio.
“Obviamente é importante trazer esses filmes, que são os mais esperados, mas a gente busca também criar uma seleção de descoberta. Tem também um número ilimitado de grandes esperanças, de grandes descobertas”, conclui.
A programação completa do Festival do Rio pode ser consultada no site do evento. Veja na galeria a seguir alguns dos destaques do festival este ano.
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