Concorrente ao Oscar, drama polonês "Ida" revisita fantasmas do Holocausto
Indicado ao Globo de Ouro e integrante da pré-lista de nove candidatos ao Oscar de filme estrangeiro, o drama polonês "Ida", do diretor Pawel Pawlikowski, afirma sua vocação para a sobriedade a partir da fotografia sutil em preto-e-branco, garantindo prêmios como o da Associação Americana dos Diretores de Fotografia. O filme estreia nesta quinta (25).
Apesar de o filme revisitar um tema exaustivamente retratado no cinema, as marcas do Holocausto, o roteiro, assinado por Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz, o faz de maneira singular, a partir dos olhos de uma jovem noviça, Anna (a estreante Agata Trzebuchowska).
A madre superiora do convento (Halina Skoczynka) revela a Anna que ela tem uma tia e insiste que deve conhecê-la antes de assumir seus votos de freira. Este encontro com Wanda Gruz (Agata Kuleska) sustenta o eixo da história, já que as duas representam sempre polos opostos de uma realidade cuja complexa dramaticidade cresce a cada cena, sem que para isso o diretor recorra a qualquer excesso melodramático.
Aos 18 anos, Anna não conhece nada além do convento, lugar protegido das contradições do mundo lá fora. O ano é 1962. A Segunda Guerra há muito ficou para trás e a Polônia é um país socialista, sob influência da URSS. Wanda foi parte ativa do movimento de resistência antinazista e, depois, do sistema judicial que puniu os carrascos dos judeus. O que Anna não sabia até ali é que ela mesma é vítima do Holocausto.
Seu verdadeiro nome é Ida Lebenstein e foi entregue ao convento ainda bebê. Seus pais desapareceram. Mas Wanda tem uma ideia de onde podem estar enterrados e leva a sobrinha a uma viagem de dolorosa descoberta de suas raízes.
A espinha dorsal da história é este confronto permanente entre Anna/Ida, jovem inocente que resiste ao próprio mundo externo, e a tia madura, vivida, cínica, conhecedora de vícios e prazeres que a sobrinha abomina, mas desconhece.
A direção de Pawlikowski evita qualquer maniqueísmo e permite que essas duas excepcionais intérpretes desdobrem as camadas de personagens muito ricos, que procuram lidar com o peso do passado e da história de um país muito particular. A experiente Agata Kuleska, em especial, é um primor na composição de uma personagem cuja amargura nunca se afasta de uma singular dignidade.
Claramente, são maiores as possibilidades de escolha de Anna/Ida, a partir de seus próprios novos sentimentos e de contatos como o saxofonista Lis (David Ogrodnik), que se apresenta num hotel em que as duas se hospedam.
Melhor ainda que o diretor acredite mais na força das belas e contundentes imagens do que num palavrório excessivo, deixando a história encontrar o próprio ritmo suavemente, abrindo as portas à participação da imaginação e dos sentimentos do espectador.
Trailer legendado de "Ida"
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.