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"Deu para voltar no tempo com 'O Hobbit'", diz Peter Jackson, que vê longa como "destino"

O cineasta Peter Jackson (direita) dirige o ator Martin Freeman, que interpreta Bilbo Bolseiro, em uma cena de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", o primeiro filme da trilogia que se passa em período anterior a "O Senhor dos Anéis" - Todd Eyre/Warner Bros.
O cineasta Peter Jackson (direita) dirige o ator Martin Freeman, que interpreta Bilbo Bolseiro, em uma cena de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", o primeiro filme da trilogia que se passa em período anterior a "O Senhor dos Anéis" Imagem: Todd Eyre/Warner Bros.

Ian Spelling*

Do Hollywood Watch

12/12/2012 05h00

Para Peter Jackson, todos os caminhos levam de volta à Terra Média - mais cedo ou mais tarde. É difícil acreditar, mas "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" vai estrear em 14 de dezembro, quase dez anos depois do lançamento de "O Retorno do Rei" (2003), terceiro e último filme da elogiada franquia "O Senhor dos Anéis" (2001-2003).

"É verdade, parece que faz um século que filmei os 'Anéis', mas deu para voltar no tempo com 'O Hobbit'", diz Jackson, diretor, corroteirista e coprodutor tanto da primeira trilogia como da segunda. "Usamos vários dos mesmos atores e técnicos, então, a impressão era a de que não fazia muito tempo que tinha acontecido."

O intervalo entre um e outro foi enlouquecedor para quem estava ansioso para ver "O Hobbit". A princípio, Jackson optou por não dirigir o que seriam dois filmes; em vez disso, convocou o mexicano Guillermo del Toro, decidindo ficar apenas como produtor e corroteirista – opção que imediatamente pôs em dúvida a realização do projeto, já que a Warner Bros. confiava cegamente em Jackson, o verdadeiro mestre da Terra Média, e relutava em confiar centenas de milhões de dólares a outra pessoa.

Como era de se esperar, aconteceram todos os tipos de atrasos: Jackson brigou com o New Line Cinema, estúdio que lançou "O Senhor dos Anéis", por causa dos lucros da trilogia. Problemas de direitos autorais complicaram a situação ainda mais, assim como os problemas financeiros da MGM, coproprietária dos direitos sobre o livro de J.R.R. Tolkien. Sem saber se a produção teria futuro ou não, Del Toro desistiu e foi substituído por Jackson, para alívio do estúdio e dos fãs.

Porém, mesmo depois de resolvidas as questões iniciais, de Jackson ter assumido a direção e de a dona da New Line, a Warner Bros., concordar em financiar "O Hobbit", o longa foi novamente adiado – por problemas com o Sindicato dos Atores da Nova Zelândia e, depois, quando o próprio cineasta teve que parar por causa de uma úlcera.

Não é à toa que até ele duvidou de que "O Hobbit" saísse do papel. Entretanto, por telefone de seu escritório em Wellington, o neozelandês confessa que tentou continuar confiante e manter uma "atitude razoavelmente otimista" em relação ao projeto, apesar de todo o tumulto.

Usamos vários dos mesmos atores e técnicos, então, a impressão era a de que não fazia muito tempo que tinha acontecido.

O diretor Peter Jackson sobre os quase dez anos que se passaram entre "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit"

"Eu acredito muito em destino", ele diz, "não de uma forma religiosa, mas acho que, de alguma forma, as coisas acontecem porque têm que acontecer. É uma experiência que já se repetiu várias vezes na minha vida".

Jackson continua falando do filme com grande entusiasmo. A aventura de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) é um pouco menos perigosa que a enfrentada por Frodo (Elijah Wood) em "O Senhor dos Anéis" e Jackson descreve o primeiro como "mais bem humorado" que o segundo -- mas são os treze anões de Erebor, principalmente Thorin Oakenshield (Richard Armitage), que enfrentam um desafio maior, pois têm que salvar suas terras e recuperar seu tesouro de Smaug, um dragão que cospe fogo e vive nas Montanhas Solitárias.

O que deixa Jackson mais animado, porém, é a transformação do conto de J.R.R Tolkien no roteiro de dois filmes que viraram três. Ele conta que, ao ver as imagens que tinha feito para a versão de dois longas, convocou a produção, os atores e, depois, a Warner Bros., e decidiu que, com alguns meses de fotografia adicional, "O Hobbit" ficaria melhor como uma trilogia. "Uma Jornada Inesperada" estreia este ano, seguido por "A Desolação de Smaug", em 2013, e "Lá e de Volta Outra Vez" em 2014.

"É importante não esquecer que não é só uma questão de adaptar o conto que Tolkien escreveu", Jackson afirma. "Há também os apêndices, ou seja, basicamente 125 páginas de anotações resumidas que foram publicadas no fim de 'O Retorno do Rei'. Dessa forma, adaptamos 'O Hobbit' e o expandimos da maneira que o próprio Tolkien, a certa altura da vida, teria feito, revisando a história original que escreveu."

Eu acredito muito em destino, não de uma forma religiosa, mas acho que as coisas acontecem porque têm que acontecer. É uma experiência que já se repetiu várias vezes na minha vida.

Peter Jackson, sobre a crença de que "O Hobbit" sairia do papel

Jackson prossegue dizendo que "O Hobbit" tem a reputação de ser "traiçoeiro" porque "ao mesmo tempo em que apresenta uma história épica, o ritmo não acompanha. É um livro relativamente fino, numa história contada em 'ritmo alucinante' por Tolkien".

"Ele foi escrito quase como se fosse uma história de ninar para as crianças", Jackson define. "É corrido, e acho que é por isso que se tornou tão popular entre as crianças. Acontece que, como estava rodando um filme -- e a intenção era fazê-lo no mesmo estilo de 'Anéis', com o mesmo tipo de narrativa, só mudando a história e os personagens -- descobri que a sequência de Lake Town, por exemplo, que no livro é descrita em três ou quatro páginas, se quisesse manter todos os elementos cinematográficos, apresentar os personagens e desenvolver as relações entre eles, além da dinâmica da história, teria que expandi-la para trinta páginas de roteiro."

Uma das marcas registradas de Jackson são suas participações especiais em praticamente todos seus filmes, incluindo os três longas da trilogia "O Senhor dos Anéis". Onde os fãs devem esperar vê-lo em "Uma Jornada Inesperada"?

"Ah", começa ele, rindo, "nos seis ou sete primeiros minutos."

* Ian Spelling é jornalista freelancer de Nova York