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28/09/2010 - 15h15

''Precisava sustentar minhas filhas, então, fui ser jornalista'', diz Jabor sobre hiato na carreira de cineasta

CARLOS HELI DE ALMEIDA
Colaboração para o UOL, do Rio
  • Arnaldo Jabor fala sobre A Suprema Felicidade em entrevista coletiva no Festival do Rio (28/09/2010)

    Arnaldo Jabor fala sobre "A Suprema Felicidade" em entrevista coletiva no Festival do Rio (28/09/2010)

Quando decidiu abandonar a cena cinematográfica, quase 20 anos atrás, Arnaldo Jabor vinha de uma série de sucessos comerciais, reconhecidos internacionalmente. “Eu Sei Que Vou Te Amar (1986) tinha feito mais de 4 milhões de espectadores, um público de ‘Tropa de Elite’ hoje, ganhou prêmio em Cannes (melhor atriz, para Fernanda Torres), mas a conta não fechava. Precisava sustentar minhas filhas e então eu fui ser jornalista”, lembrou o realizador carioca de 69 anos, durante a coletiva de lançamento de “A Suprema Felicidade”, longa-metragem com o qual retoma a carreira de cineasta, que chega aos circuitos em 29 de outubro.

“Fazer cinema no Brasil tinha virado algo angustiante nos anos 80, o preço do ingresso começou a subir, a platéia passou a escassear, a produção a diminuir de ritmo e diretores começaram a morrer, como o Gláuber (Rocha), o Leon (Hirszman) e o Joaquim Pedro. A gente levava de 3 a 4 anos para fazer um filme novo. O que me fascinou no jornalismo era o seu imediatismo, você escreve sobre alguma coisa e seu pensamento sai impresso no dia seguinte”, comparou Jabor.

As crônicas que publicou nos principais jornais do país ao longo de quase duas décadas acabariam, no entanto, a alimentar o desejo de voltar ao cinema. “Tinha escrito muitas coisas sobre minha juventude, minha mãe, meu pai, meu avô, a vida na Urca, bairro onde minha família morava nos anos 50, as experiências envolvendo a primeira visita ao puteiro, as aventuras da minha turma de bairro. Percebi que, se eu quisesse fazer um filme, poderia partir desse material”, disse o autor de clássicos como “Toda Nudez Será Castigada” (1973), que não se sentiu intimidado com a volta. “Fiquei nervoso só na primeira semana de filmagem, depois fluiu normal. O que me deixou impressionado foi o aparato tecnológico do cinema de hoje”.

ASSISTA AO TRAILER DE "A SUPREMA FELICIDADE"

Jabor esclarece, no entanto, que “A Suprema Felicidade” não é um filme autobiográfico. “É uma revisão crítica, às vezes amarga, das experiências que vivi na adolescência. Mas também não deixa de ser um filme pessoal", esclareceu. A seu lado, o produtor Francisco Ramalho Jr. quis corrigir a impressão de que trata-se de uma trama nostálgica, como vem aparecendo aqui e ali na imprensa. “Não é um filme voltado para trás, para o passado. Essa nostalgia de que falam não existe. Embora descreva a trajetória de um jovem de seus 5 aos 19 anos de idade, conta a história tão contemporânea como qualquer outro filme de hoje”, observou o produtor.

“A Suprema Felicidade” descreve as descobertas de Paulo no Rio de Janeiro dos anos 40, 50 e início dos 60. Filho de um militar rigoroso (Dan Stulbach), o garoto cresce admirando o senso de liberdade do avô (Marco Nanini). Adolescente, apaixona-se por uma jovem (Tammy Di Calafiori, a Lorena da novela “Passione”, da Rede Globo, que encarna Marilyn Monroe em um cabaré da cidade. Na fase adolescente, o personagem é interpretado por Jayme Matarazzo, filho do diretor de TV e cinema Jayme Monjardim, em seu primeiro papel como protagonista. “O Paulinho assiste a transformação da família em pessoas reprimidas e busca a liberdade de viver. É um rapaz muito acanhado dentro da repressão da época”, analisou Matarazzo.

Jabor se desdobrou em elogios ao rapaz, que apareceu pela primeira vez para o público interpretando o próprio pai na minissérie “Maysa – Quando Fala o Coração” (2009), dirigida por Monjardim. “O papel do Jayme no filme é o do observador, é um trabalho muito difícil, a interpretação está no olhar, não no que é dito, mas ele fez muito bem”, comentou o diretor, que demonstrou-se contra o modismo dos preparadores de elenco. “Não acredito nisso. Ator não é abajur, não é um objeto de cena. Gosto de trabalhar junto ao ator. Muitas coisas que estão no filme partiram de sugestões feitas por eles. A composição da Tammi, por exemplo, foi um trabalho muito dela, fomos descobrindo como fazer comigo”.

O diretor também desmistificou “essa história de que o ator entra no personagem”. Ele, que já trabalhou com nomes como Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo, Zezé Motta, Darlene Glória e Sônia Braga, entre tantos outros, minimiza o poder da máscara: “Em cinema, não existe personagem; o personagem é o ator, ele não interpreta ninguém, ele é”.

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