A ditadura na Argentina, o exílio na Alemanha, um drama familiar, a revisão do passado e uma pitada de paranormalidade formam a receita de "As Lágrimas da Minha Mãe - Berlin-Buenos Aires", primeiro longa de ficção e espécie de autobiografia do cineasta peruano Alejandro Cárdenas-Amelio.
![]() Alex é um adorável menino que tem o poder de mexer objetos com o olhar. É através dele que a história do filme é contada |
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Todos esses ingredientes dão um sabor difícil de identificar ao filme. Nos primeiros minutos, "Berlin-Buenos Aires" parece navegar em direção à crítica ao regime ditatorial na Argentina da década de 1970 através do difícil exílio do casal Carlos e Lizzie.
Aos poucos, o enfoque passa para a relação do casal. Lizzie é politizada e atua em causas sociais produzindo documentários para uma TV. Carlos trabalha com pintura e é capaz de produzir suas obras de olhos vendados. Este contraste fará com que a tensão entre eles aumente ao longo do tempo.
Tudo isso sob o ponto de vista de Alex, o filho do casal, que conta a história em flashback e tem o poder de mover objetos com o olhar. Este parece ser uma metáfora sobre o cinema e seu espectador, relação que ganha o reforço das pequenas cenas filmadas por Alex e seu pai no loft berlinense onde vivem. Mas falta algo para que essa relação possa ser melhor compreendida. No contexto da narrativa, a paranormalidade de Alex soa um pouco mais do que um traço pitoresco do personagem.
O cineasta viveu na Argentina, Brasil, Itália e Alemanha. Seu primeiro longa, o documentário "Alias Alejandro" (2005) é sobre o seu reencontro com o pai, um dos líderes do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru, grupo guerrilheiro marxista peruano) e que foi preso por terrorismo. Também em "Berlin-Buenos Aires" o ponto de partida é o reencontro do Alex, já um jovem adulto, com seu pai. Porém, ao final da exibição deste filme, fica a impressão de que Cárdenas-Amelio ainda não conseguiu acertar todas as contas com o seu passado.