Co-produção entre o Chile e o Brasil, exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2008, o drama "Tony Manero", de Pablo Larraín, empresta seu nome do famoso personagem interpretado por John Travolta em "Os Embalos de Sábado à Noite", grande sucesso nas telas de todo o mundo em 1977.
O protagonista do filme, o desempregado cinqüentão Raul Peralta (Alfredo Castro), é obcecado por Tony Manero. Passa seus dias assistindo continuamente ao filme, decorando suas falas e ensaiando os números de dança, sonhando ganhar um concurso de imitadores do famoso ator na TV. Nas horas vagas, porém, o aparentemente pacato Raul é um serial killer, matando pessoas impunemente no auge da ditadura de Augusto Pinochet, em 1978.
Cena do drama "Tony Manero", dirigido por Pablo Larraín |
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Em São Paulo para acompanhar as primeiras sessões deste segundo filme de sua carreira dentro da 32ª. Mostra Internacional de Cinema, neste final de semana, o diretor e co-roteirista Pablo Larraín, de 32 anos, reconhece que poucos diretores de sua geração se interessam pelo tema da ditadura. Para ele, no entanto, trata-se de assunto essencial e não só para o seu país: "Acho que o filme é muito latino-americano, porque diversos países do continente tiveram essa mesma experiência, tanto da ditadura, quanto da imitação da cultura norte-americana".
Outro tema muito presente na história é o da impunidade. "Raul mata as pessoas e nada lhe acontece, tanto quanto aos repressores da ditadura", afirma. No filme, policiais e militares são vistos policiando incessantemente as ruas, numa situação em que há estado de sítio e toque de recolher, praticando prisões e espancamentos sem qualquer procedimento legal.
Lançado há pouco no Chile, o filme teve recepção dividida. "Há os que amam e os que odeiam o filme. A opinião pública no Chile é muito polarizada sobre o tema da ditadura", comenta o diretor.
O impressionante protagonista, que é visto em cena praticamente todo o tempo, é um experiente ator e diretor de teatro, também co-roteirista do filme e que, curiosamente, fala pouquíssimo. "Ele não tem mais do que seis falas em todo o filme, tudo o que ele diz não ocupa nem meia página do roteiro", diz Parraín. Quase todo o elenco vem do teatro chileno.