Primeiro filme de Portman como diretora foca infância do escritor Amos Oz
O Festival de Cannes mergulha nesta sexta-feira (15) na história dos judeus da Europa central com duas estreias muito aguardadas: um filme húngaro sobre o Holocausto e o comovente trabalho de Natalie Portman sobre a desilusão da terra prometida.
Os primeiros anos do Estado de Israel são evocado no primeiro filme dirigido por Portman, "A Tale Of Love and Darkness", a partir da autobiografia do israelense Amos Oz.
O longa conta a história da família do escritor, de judeus do leste europeu que, forçados pelo antissemitismo, foram para a terra prometida. Um percurso que ecoa a história da família de Natalie Portman. Em foco, a infância do pequeno Amos, filho único, e sua estreita relação com a mãe.
Portman interpreta a mãe, Fania, que perde gradualmente a esperança ao longo do tempo, conforme suas ilusões desaparecem. Amos Oz aparece em pessoa na tela, no início e no final do filme, onde escreve em hebraico a palavra "mamãe".
O filme foi rodado em hebraico, a língua fluente da israelense-americana. Jerusalém é a cidade natal da atriz, que ela deixou aos 3 anos para ir viver nos Estados Unidos.
O longa desliza pela feliz juventude de Fania em Rivne (atualmente na Ucrânia), mas se concentra no período de 1945-1953, um ano após o suicídio da jovem mulher de 39 anos, quando Amos tinha apenas 12.
Mulher e mãe amorosa, Fania afunda na depressão, uma vez que "a vida não cumpriu nenhuma das promessas de sua juventude", segundo Amos Oz.
Na tela, as histórias pequena e grande se entrelaçam. Lá fora, os judeus de Jerusalém, pobres, dão boas-vindas à proclamação do Estado de Israel. Em breve haverá a guerra entre judeus e árabes.
Adolescente, Amos foge de sua família para viver em um kibutz. Ao longo de sua vida, o escritor questionará as razões para o suicídio de sua mãe.
"O Filho de Saul"
Outro aspecto da história judaica é abordado no terceiro filme em competição em Cannes, "Saul Fia" (Son of Saul), do húngaro Laszlo Nemes, que conta a história de Saul Auslander, um deportado judeu forçado a participar na Solução Final em Auschwitz, no Sonderkommando, unidade de prisioneiros que trabalhava nas câmaras de gás.
Um dia, no coração do inferno, Saul descobre um jovem rapaz que sobrevive, mas apenas brevemente, ao gás, e no qual ele acredita ter reconhecido seu filho. Desolado, ele então fará de tudo para tentar dar-lhe um enterro.
Laszlo Nemes, de 38 anos, cuja família --de judeus da Ucrânia-- foi assassinada em Auschwitz, decidiu, depois de encontrar uma coleção de textos escritos por membros do Sonderkommando, tratar este assunto relacionado a sua história pessoal.
"Eu me perguntava qual era a impressão que os judeus tinham quando chegavam na rampa em Birkenau. O que viam? E quais foram suas últimas horas? Me projetar foi a força que me conduziu a fazer o filme", explicou, comovido, à AFP.
Filmando de perto seu herói em seu cotidiano insuportável, o diretor assumiu o desafio de mostrar as coisas a partir da perspectiva de Saul, e fazer com que o espectador veja o que ele vê, quase sempre deixando o horror borrado ou fora de foco.
"Ele está no meio da usina da morte, ele já não olha para a usina, ele não olha mais os deportados, ele não olha mais os cadáveres. O que ele olha é tudo o que está relacionado a sua busca por tentar enterrar aquele garoto que ele acha que é seu filho", ressalta.
O diretor disse que tentou "encontrar uma forma diferente de representar o inferno dos campos de extermínio" porque, em sua opinião, "o assunto é geralmente tratado de forma insatisfatória".
"Os filmes muitas vezes têm esta tendência de querer mostrar demais", acrescentou.
Opressivo, visualmente pontuado pelos movimentos e gestos de Saul, o filme também é marcado por sons arrepiantes do forno crematório: de metal batendo, passos e rufar de mãos na porta da câmara de gás, o farfalhar dos corpos que são jogados em carrinhos, que rangem ao ser empurrados, gritos de ordens em alemão, trechos de conversas em várias línguas...
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