Falta de diversidade racial entre indicados ao Oscar gera debate e boicote
As semanas antes do Oscar normalmente são dominadas por especulações de quem sairá da cerimônia com uma estatueta na mão. Mas, neste ano, uma polêmica tomou conta das discussões em torno da premiação depois de, pelo segundo ano seguido, nenhum ator ou atriz negro figurar entre os 20 indicados nas quatro categorias de atuação.
A controvérsia cresceu a ponto de alguns atores anunciarem um boicote à cerimônia e de reabrir-se uma discussão sobre mudanças tanto na estrutura de indicados ao Oscar como na escolha e composição dos membros da Academia com direito a voto.
Os primeiros questionamentos surgiram logo depois que as indicações foram anunciadas, há uma semana, quando se espalhou pelas redes sociais a hashtag #OscarsSoWhite (#OscarsTãoBrancos, em inglês) junto a críticas pela falta de diversidade racial entre os atores concorrentes.
Também foi criticada a ausência de "Creed: Nascido para Lutar", que tem um protagonista negro, entre os indicados para melhor filme, assim como "Straight Outta Compton: A História do N.W.A.", que tem elenco predominantemente negro e recebeu indicações nas três premiações das associações de escritores, produtores e atores, além de ser reconhecido como o melhor do ano pelo Instituto de Cinema da América.
Boicote
Desde então, a polêmica só fez crescer. A atriz Jada Pinkett Smith, que é negra, anunciou que boicotará a cerimônia deste ano, que será realizada em 28 de fevereiro.
"Implorar por reconhecimento ou mesmo pedir por isso é degradante", disse ela um vídeo publicado no Facebook. Seu marido, o ator Will Smith, protagonista de "Um Homem Entre Gigantes", disse nesta quinta-feira (21) que fará o mesmo.
"Não nos sentimos confortáveis de estar lá e dar a entender que está tudo bem", disse Smith em entrevista ao programa "Good Morning America".
Ele era cotado para estar entre os indicados a melhor ator depois de sua indicação ao Globo de Ouro, assim como o também negro Idris Elba, indicado a melhor ator coadjuvante na mesma premiação por seu papel em "Beasts of No Nation".
Outros atores - negros e brancos - também se manifestaram contra a falta de diversidade, como o britânico David Oyelowo, o americano George Clooney e a mexicana-queniana Lupita Nyong’o, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2014.
O diretor Spike Lee, indicado duas vezes e premiado somente no ano passado com um Oscar honorário pelo conjunto da obra, também disse que não irá à cerimônia, mas negou que tenha endossado um boicote ao Oscar deste ano.
Já a atriz Whoppi Goldberg, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1991 por seu papel em "Ghost: Do Outro Lado da Vida", disse durante o programa "The View", da rede ABC, que um boicote não funcionaria e só prejudicaria o comediante Chris Rock, que apresentará a cerimônia deste ano - ele é apenas o segundo negro a cumprir a função, sendo a outra foi a própria Goldberg.
A atriz opina que o problema não está na premiação, mas sim na indústria cinematográfica. "Temos essa discussão todos os anos, e todos os anos ficou louca da vida. O problema são as pessoas que poderiam ajudar a fazer filmes nos quais haja mais negros ou latinos e mulheres - o dinheiro não vem por causa da ideia de que não existe um lugar para filmes de negros."
Decepção
Por sua vez, Chris Rock vem sendo pressionado pelo rapper 50 Cent e pelo cantor Tyrese Gibson para desistir de ser o apresentador da cerimônia. Rock falou pouco sobre o assunto, mas postou uma foto sua no Twitter com o comentário: "Oscar: o BET Awards branco" - uma referência ao Black Entertainment Television, que celebra as conquistas de afro-americanos e outras minorias nas artes e no esporte.
A própria presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas - organizadora do Oscar -, Cheryl Boone Isaacs, que é negra, expressou seu desapontamento com a falta de diversidade racial na premiação deste ano.
"Claro que estou desapontada, mas isso não deve ofuscar a grandeza (dos indicados)", disse Isaacs ao site "Deadline". Em um comunicado posterior, ela afirmou que a Academia está "tomando medidas drásticas para alterar a composição de seus membros para aumentar a diversidade entre eles".
Foi uma referência direta à falta de diversidade racial entre os próprios membros da Academia. Um levantamento feito pelo jornal Los Angeles Times em 2012 chegou à conclusão de que 94% deles são brancos e 77%, homens. Negros eram cerca de 2% e latinos representavam menos de 2%.
Mudanças
Segundo o jornal "The New York Times", podem ser anunciadas já na próxima semana mudanças na estrutura das indicações ao Oscar e composição do corpo votante, após uma reunião anual de seu conselho.
O jornal americano diz que uma das mudanças mais simples e de fácil aplicação seria voltar ao número de dez películas indicadas à categoria de melhor filme, em vez das oito deste ano. Acredita-se que, se fosse assim, filmes como "Creed" e "Straight Outta Compton" poderiam estar entre os concorrentes.
Outra alteração possível (mas menos provável) é a ampliação do número de indicados nas categorias de atuação de cinco, estabelecido desde os anos 1930, para dez.
Em entrevista à BBC, o ator americano Dustin Hoffman engrossou o coro de críticas ao dizer que há um "racismo subliminar" na Academia e que as mudanças propostas já chegam "atrasadas".
"Não tinha me tocado que 95% dos membros da Academia são brancos. Acho que isso responde uma série de perguntas", disse Hoffman. "Esta foi a primeira vez que fiquei feliz em não ser indicado."
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