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Filmes premiados vão a "júri popular" no Festival de Berlim

16.fev.2013 - O diretor iraniano Kamboziya Partovi posa com seu Urso de Prata de melhor roteiro por "Parde" no 63º Festival de Berlim - Britta Pedersen/EFE/EPA
16.fev.2013 - O diretor iraniano Kamboziya Partovi posa com seu Urso de Prata de melhor roteiro por "Parde" no 63º Festival de Berlim Imagem: Britta Pedersen/EFE/EPA

Gemma Casadevall

17/02/2013 15h11

Berlim, 17 fev (EFE).- O Festival de Berlim fechou neste domingo as portas de sua 63ª edição com o tradicional "Dia do Espectador", uma jornada de "gorjeta" na qual os Ursos cedidos pelo júri internacional ficam sob o julgamento soberano do poder popular.

"'O Dia do Espectador' é, às vezes, a última oportunidade do público assistir um Urso de Ouro em uma sala comercial", afirmou o diretor do Berlinale, Dieter Kosslick, ao abrir o festival e em alusão à sorte que os grandes triunfadores podem ter em Berlim.

Essa afirmação é uma brincadeira reincidente feita pelo diretor, desde 2001 à frente do Festival de Berlim. Isso porque, essa situação já aconteceu com diversos Ursos anteriores, que nasceram e morreram no festival berlinense, ou seja, não chegaram às salas comerciais.

Um famoso exemplo deste caso ocorreu com o sul-africano "U-Carmen", uma versão da ópera de Bizet filmada no subúrbio da Cidade do Cabo. Apesar da surpresa de ter se consagrado com o Urso de Ouro em 2005, o filme acabou desaparecendo do circuito logo após o término da festival.

No entanto, o diretor não prevê um destino tão drástico aos vencedores desta edição do Festival de Berlim, cujo júri, presidido pelo cineasta chinês Wong Kar Wai, repartiu seus prêmios pelo leste da Europa: o Urso de Ouro foi para o romeno "Child's Pose" ("Pozitia Copilului"), enquanto o Grande Prêmio do Júri ficou com "An Episode in the Life of an Iron Picker" ("Epizoda U Zivotuberaca Zeljeza"), do sérvio Danis Tanovic.

O primeiro, dirigido por Calin Peter Netzer, está amparado no ótimo trabalho da atriz Luminitja Gheorghiu, e o segundo - Urso de Prata de Melhor Ator para Nazif Mujic, um cigano extraído da vida real -, conta com o total prestígio do diretor, que, por sinal, já levou o Oscar com "Terra de Ninguém" (2001).

As melhores perspectivas comerciais giram em torno de "Gloria", do chileno Sebastián Lelio. O filme, que levou o Urso de Prata de Melhor Atriz com Paulina García, é centrado na história de um personagem que injeta otimismo na platéia e, por isso, saiu de Berlim aclamado e com distribuidores para todo o mundo.

"É a mensagem que todas, e todos, queremos ouvir: adultos que se conhecem dançando e desfrutando a vida, o sexo, o álcool e do quase proscrito prazer de fumar", apontou Ulla Schmidt, que, aos 55 anos de idade, se identificou com a mulher sem complexos de "Gloria".

"Ela é o Dr. Jekyll, e a romena o Mr. Hyde", acrescentou esta conhecida crítica, que no festival também viu o filme premiado com o Urso de Ouro se inspirar na história de outra fumante, de idade e condição social similar à chilena, mas em uma versão negativa.

Neste aspecto, Paulina representa todo otimismo vital, enquanto a romena Luminitja Gheorghiu dá vida a uma manipuladora que usa toda sua influência para tirar seu filho do atoleiro, já que o mesmo atropelou e matou uma criança de família humilde em um acidente de carro.

O Berlinale, que se opõe radicalmente ao elitista Festival Cannes, não precisa necessariamente do "Dia do Espectador", já que o festival está aberto a todos os cidadãos. Tanto é que, ao longo de seus dez dias de programação, 300 mil entradas foram vendidas.

É um festival que causa fervor nos berlinenses e, por isso, viabiliza esse dia adicional, após a cerimônia de entrega dos Ursos, como uma forma de reconhecimento.

É um público diverso e bem informado, que guarda as horas nas filas para assegurar sua entrada, seja para as estreias de gala ou para as seções de cinema experimental, em pleno inverno berlinense.

"O júri fez o de sempre: repartir os prêmios segundo os compromissos de seus membros. E desta vez, como não havia franceses, não houve prêmio para Juliette Binoche, por exemplo", raciocinou Dieter Merkel, um estudante de 29 anos que não possui parentesco com a chanceler Angela Merkel.

Entre os 19 filmes da mostra competitiva, a França apareceu como a mais presente das cinematografias "clássicas" europeias, destacando nomes como Juliete Binoche, Catherine Deneuve e Isabelle Huppert. No entanto, nenhuma das produções francesas acabou sendo premiada.

O cinema anfitrião, com apenas um filme na competição - "Gold" - e com o diretor Andreas Dresen no júri, também não assegurou nenhum prêmio.

Essa lógica cidadã poderia ser justificada com o Urso de Prata de Melhor Diretor entregue a David Gordon Green, de "Prince Avalanche", que era defendido no júri pelo ator americano Tim Robbins.

"Meu Urso de Ouro é para Jafar Panahi", opinou Mariana Latorre, uma colombiana que passou por Berlim e não conseguiu ver o filme do cineasta iraniano - "Pardé"-, mas considera que o mesmo merece o prêmio máximo por toda sua coragem e resistência.

O filme obteve o prêmio de melhor roteiro, um prêmio com que o Festival de Berlim perpetua seu compromisso com os cineastas que, como Panahi, desafiam o regime de Teerã e continuam fazendo um bom cinema.