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Roteirista de "Babel" quer provocar diálogo sobre religião em novo longa

Javier Roibás Veiga

30/09/2014 17h38

O diretor mexicano Guillermo Arriaga, conhecido por roteirizar os longas "Babel" e "21 Gramas", afirmou que a saga cinematográfica "El pulso del mundo", na qual dirige o primeiro filme, "Falando com Deuses", procura "provocar o diálogo entre os seres humanos" em um momento no qual "o mundo se decompõe rapidamente".

Em entrevista concedida à Agência Efe no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, ele defendeu a necessidade de impulsionar o diálogo em momentos nos quais "mais do que nunca precisamos de tolerância".

"O mundo sofre uma série de conflitos muito fortes e desnecessários que poderiam ser resolvidos eficientemente através do diálogo e da tolerância", afirmou o mexicano.

O projeto coletivo "El pulso del mundo" é uma saga composta por quatro longas-metragens, cada um abordando um tema "tabu", como religião, política, sexo e vícios. A expectativa é que participem dele até 40 diretores.

Para Guillermo Arriaga, esse é o momento de falar destes temas e deixar de "justificar" determinadas condutas. Em sua aposta pelo entendimento global, o autor tomou as rédeas de "Falando com Deuses", primeira parte da saga que foi apresentada em 30 de agosto no Festival de Veneza e composta por nove curtas-metragens de 12 minutos nos quais, além de Arriaga, outros oito diretores, entre eles Héctor Babenco, dão visões pessoais sobre a religião.

Sobre as possíveis comparações do projeto com o documentário "Zeitgeist", o mexicano disse que a "visão pessoal", na maioria dos casos, representa um diálogo maior com o espectador do que o gerado através de um enfoque mais científico.

"Meu trabalho é fazer com que haja um balanço no filme. Que não sejam repetidos temas ou situações", disse o diretor.

Ele lembrou que teve que rejeitar algumas vezes o material apresentado por alguns cineastas.

"Tenho que ver o filme como um conjunto com coerência, não como nove segmentos separados. É difícil dar nota para pessoas que você admira tanto", ressaltou.

O filme também contou com a participação do escritor peruano Mario Vargas Llosa, que se encarregou de ordenar os curtas-metragens que compõem o filme. "Ele decidiu dar esta ordem de caráter histórico. Desde a posição religiosa mais fundamental com Deus e a natureza até a mais contemporânea que é o ateísmo", destacou.

Arriaga ressaltou que os outros filmes da saga ainda não têm data de lançamento, já que primeiro precisam conseguir financiamento para filmar.

Quanto a sua participação nos próximos filmes, o autor disse que não as dirigirá, mas que ficará encarregado da produção.

"Morro de vontade de dirigir (os seguintes filmes). Eu quero trabalhar com eles, mas quero que haja variedade de diretores. Eu já tive a minha parte", acrescentou.

O mexicano, que alcançou maior reconhecimento por seu trabalho como roteirista em filmes como "Babel" e "21 Gramas", afirmou que é "muito mais difícil" escrever do que dirigir, dado que a primeira das tarefas "é ter que criar um mundo a partir do nada", enquanto com a segunda é preciso "interpretar", mas destacou que gosta de ambos os lados.

"Falando com Deuses", que foi exibido no Festival do Rio, é a segunda experiência de Guillermo Arriaga como diretor de um longa-metragem, e a ideia dele é continuar escrevendo e dirigindo.

"Minha carreira é para escrever e dirigir. Escreverei somente para mim. A menos que seja alguém que admire muito, alguém por quem tenha uma admiração especial. Alguém do tamanho de Bertolucci", destacou.