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Cinema colombiano sai da marginalidade direto para o Oscar

Gonzalo Domínguez Loeda

Da EFE, em Bogotá

16/01/2016 08h39

O cinema colombiano viveu historicamente na escuridão com apenas pequenas luzes, como "La Estrategia del Caracol" e "Soñar no Cuesta Nada", uma realidade que foi mudando até este ano chegar a seu auge com a indicação de "O Abraço da Serpente" (previsto para estrear em fevereiro no Brasil) ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

O crescimento exponencial fez com que 36 filmes colombianos estejam previstos para estrear em 2016, um sucesso que em boa parte se deve à renovação da temática e da linguagem no cinema do país, mas também aos apoios e estímulos do governo. As superações de estilo e temas, que até agora marcavam a cena da Colômbia, tem muito a ver com os novos nomes que surgem como Ciro Guerra, diretor de "O Abraço da Serpente", e César Augusto Acevedo, autor de "A Terra e a Sombra".

Acevedo, por exemplo, ganhou o troféu Caméra d'Or (Câmera de Ouro) do Festival de Cannes no ano passado com uma aposta que exemplifica o novo cinema do país: uma expressão inovadora e mais próxima do cinema francês que, além disso, aborda o tema da pobreza das zonas rurais da Colômbia que em pouquíssimas ocasiões tinham aparecido nas telonas locais. Um passo além foi dado por Guerra, com uma produção rodada quase integralmente em preto e branco e que ainda por cima foi gravada em idiomas indígenas.

Seu filme também dá espaço a uma visão inovadora, como ele mesmo reconheceu ontem depois de receber a notícia da indicação ao Oscar, já que a história narra as perspectivas da Floresta Amazônica a partir da visão indígena. Apesar de ocupar 42% do território nacional, a Amazônia da Colômbia é uma grande desconhecida para a própria população. Por isso, para Guerra, a indicação é uma oportunidade para que o público "avalie e aprecie" a região, assim como os povos que a habitam.

Longo caminho

Apesar do sucesso, o caminho para chegar ao Oscar foi "muito longo", já que durante bastante tempo eles pensaram que "não era possível de fazer", revelou Guerra. Mesmo com todas as dificuldades presentes, o cinema colombiano melhorou muita sua condição graças às diferentes leis de incentivo.

A maior mudança foi a criação do FDC (Fundo de Desenvolvimento Cinematográfico), um instrumento de financiamento que se nutre do dinheiro procedente da contribuição fiscal criada pela lei 814 de 2003 para conseguir com que os recursos gerados pelo cinema voltem para o próprio setor. Em outubro, o FDC anunciou uma contribuição de 9,73 bilhões de pesos colombianos (quase R$ 12 bilhões) a 42 projetos que ganharam as convocações de Ficção, Formação e Estímulo Integral.

Neste sentido, a ministra de Cultura, Mariana Garcés, destacou que é importante que os estímulos financeiros através do FDC tenham uma visibilidade como a indicação de "O Abraço da Serpente". "Por isso, foram criadas leis que estimulam o setor e permitem que uma nova geração de cineastas trabalhe", ressaltou.

Outro órgão que permitiu essa mudança foi o Proimágenes Colombia, entidade que visa promover a produção audiovisual internacional através da Comissão Fílmica Colombiana. No entanto, o grande gargalo na indústria continua sendo o acesso do público a seus filmes, já que os colombianos mantêm certa distância do próprio cinema.

Conforme ressaltou a produtora de "O Abraço da Serpente", Cristina Gallego, o filme estreou em 26 salas, contra as 730 destinadas ao mais recente episódio da saga "Velozes e Furiosos". "Tínhamos que render igual a eles. É preciso trabalhar essas coisas. Esse é o passo seguinte", destacou.

A ministra da Cultura tem a mesma opinião. Segundo ela, o cinema colombiano precisa ter uma "política de distribuição mais certeira". "Temos que acreditar mais em nós mesmos em comparação ao mercado comercial", enfatizou ela, salientando que a política da "audiência obrigatória" não funciona.