Para Alê Abreu, liberdade de criação em "O Menino e o Mundo" é diferencial
Um dos escolhidos para estar na grande festa de Hollywood, onde estão na disputa gigantes da animação como a Pixar, o brasileiro Alê Abreu fala sem complexos e com muito orgulho de "O Menino e o Mundo", seu surpreendente e imaginativo filme, que concorre no domingo (28) ao Oscar de melhor animação.
"É um filme totalmente livre, feito com uma liberdade total e radical, que encontrou um espaço nesta festa da indústria de Hollywood", diz Abreu, em entrevista à Agência Efe.
"Portanto, isto para nós já é uma vitória. É um reconhecimento muito lindo e importante para nossa animação", acrescenta, sobre sua indicação à estatueta.
Abreu tocou o céu com "O Menino e o Mundo", um ambicioso e muito criativo filme, tanto por sua beleza formal como por sua penetrante mensagem.
Com um orçamento de meio milhão de dólares (cerca de R$ 2 milhões), "O Menino e o Mundo" triunfou em festivais de todo o globo, e lutará pelo Oscar contra o favorito "Divertida Mente", além de "Anomalisa", "Quando Estou com Marnie" e "Shaun: O Carneiro".
No entanto, o cineasta brasileiro discorda de que se trate de "uma competição" entre os indicados, e argumentou que todos são "trabalhos muito diferentes, com linguagens diferentes e intenções diferentes".
Singular e original são, sem dúvida, dois dos adjetivos que melhor cabem a "O Menino e o Mundo", um relato de aprendizagem e descoberta do mundo por uma criança que deixa seu lar para tentar encontrar seu pai.
Utilizando desenhos esquemáticos, com formas básicas, e uma paleta multicor cheia de matizes e sensualidade, Abreu descreve com poesia a viagem do menino pelos campos de algodão, as fábricas e a grande cidade enquanto reflete sobre o abuso dos recursos naturais, a exploração dos trabalhadores e a ordem frente à liberdade.
"É a possibilidade de olhar as coisas, o mundo, através dos olhos do personagem, de uma criança", define Abreu.
O diretor conta que a inspiração para "O Menino e o Mundo" surgiu enquanto trabalhava em um documentário animado sobre a história da América Latina, no qual queria traçar as semelhanças entre os diferentes países.
"Nasceram como colônias de exploração, tiveram ditaduras, sufocaram movimentos sociais de libertação nacional em nome de interesses econômicos", enumera.
No entanto, na metade da pesquisa, Abreu se deparou em um de seus cadernos de desenho com o personagem do menino que se tornaria o protagonista de "O Menino e o Mundo".
"Nesse momento pensei que era como se ele estivesse me chamando para conhecer sua história, para descrever sua história", acrescentou o cineasta.
Além disso, Abreu afirmou que a ideia da busca do pai é muito habitual no cinema latino-americano e que, simbolicamente, remete "à busca da pátria, de algo que nos dê sustentação".
Quase sem diálogos e com fragmentos que lembram o frescor visual das comédias do cinema mudo, "O Menino e o Mundo" se apoia em uma trilha sonora que tem um papel quase de protagonista, "outro personagem da história", segundo Abreu, e que abrange desde os sons tradicionais brasileiros ao rap.
O diretor aponta ainda que a animação e a composição da trilha sonora foram feitas paralelamente, por crer que a música deveria "traduzir o universo lírico" das imagens.
Desde que começou sua carreira, há 12 anos, em uma escola de animação de São Paulo, Abreu desenvolveu uma trajetória constante, em que se destacam os dois longas-metragens, "Garoto Cósmico" (2007) e "O Menino e o Mundo" (2014).
"Lembro quando entrei na escola de animação. Podia contar com os dedos de uma mão quantas pessoas trabalhavam no cinema de animação (brasileiro), fazendo filmes ou curtas naquele momento", lembra.
No entanto, Abreu indica que, com "muito esforço", o cinema de animação do Brasil foi crescendo, "um passo após outro, embora ainda esteja em construção".
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