Topo

"Já recebi cartas dizendo 'deixe Harry em paz'", diz intérprete de Draco Malfoy

Ator Tom Felton participa de evento em Las Vegas, nos EUA (20/05/2010) - Getty Images
Ator Tom Felton participa de evento em Las Vegas, nos EUA (20/05/2010) Imagem: Getty Images

THAÍS FONSECA

Enviada especial a Londres

08/11/2010 11h19

Alguns fãs podem não acreditar, mas pessoalmente Tom Felton é atencioso, sorridente e, esperto, sabe aproveitar brechas na entrevista para fazer boas piadas. Intérprete de Draco Malfoy há dez anos, o ator tem a difícil tarefa de provar que sua personalidade é bem diferente da do mal-humorado vilão de “Harry Potter”.  “Recebemos várias visitas aqui no estúdio e as pessoas se mostram muito felizes de conhecer Daniel [Radcliffe], mas nem sempre em me conhecer ”, contou Felton em conversa com um grupo de jornalistas  - do qual UOL Cinema fez parte - no estúdio Leaveasden, na Inglaterra, durante as filmagens de “Relíquias da Morte” em abril deste ano.

A rejeição de uma parte do público – principalmente de fãs mais novinhos – existe desde o início da saga. “Já recebi cartas dizendo ‘deixe Harry em paz’”, disse, sorrindo. O sorriso deve-se a dois principais motivos. Um deles é pelo tom inofensivo dos pedidos e “ameaças”. O outro, por uma certa vaidade em interpretar um  papel tão popular com veracidade. 

Como ator, acumulou pontos na medida em que Draco foi deixando o posto de criança mimada e implicante para ganhar peso na série, principalmente em “Enigma do Príncipe”, onde apareceu mais solitário e dono de uma missão decisiva para a história. O sexto filme lhe rendeu um prêmio como melhor vilão no MTV Movie Awards e serviu como prelúdio para que explorasse a ambigüidade do personagem em “Relíquias da Morte”. “Ele continua com seus amigos malvados, mas ao mesmo tempo tenta ajudar Harry”, adiantou.

  • Divulgação

    Draco (Tom Felton) segura a varinha mágica em cena de "Harry Potter e a Câmara Secreta" (2002)

  • Divulgação

    Da esquerda para a direita: Draco Malfoy ao lado de Lucius Malfoy, Narcissa Malfoy e Bellatrix Lestrange em ''Relíquias da Morte - Parte 1"

A visibilidade para a performance está garantida, mas o que virá depois de “Harry Potter”? Embora “Relíquias da Morte”, dividido em duas partes – um delas estréia em 19 de novembro e a segunda em 2011 –, continue como principal projeto, o ator diz estar de olho em papeis mais “pé no chão” para breve. “Acho que não será muito difícil conseguir algo diferente de um bruxo loiro malvado”, brincou. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

UOL Cinema - Fico imaginando o que as pessoas falam quando te encontram. Há as que te ofendem, pensando que você é como Draco?
Tom Felton -
Sim, com certa frequência (risos). Depende da idade das pessoas.  Houve uma jovem mãe em Londres que pediu que eu tirasse uma foto com as filhas dela,  uma mais nova com cerca de seis anos.  Quando a garotinha percebeu qual personagem eu interpretava não ficou muito contente de tirar uma foto comigo e eu mal consegui ganhar um aperto de mão (risos). Alguns fãs são mais flexíveis, outros me ignoram. Recebemos várias visitas aqui no estúdio e as pessoas se mostram muito felizes de conhecer Daniel [Radcliffe],  mas nem sempre em me conhecer, mesmo que eu tente ser legal (risos).

UOL Cinema - E como você enxerga esta “rejeição”?
Felton -
É um elogio, de certa forma. Um lado é que muitas pessoas acreditam que eu não sou muito legal, acreditando no papel que interpreto, acredito.  É até engraçado que as pessoas acabem levando o personagem tão à risca. Mas eu nunca tive nenhuma aproximação muito negativa.  Já recebi algumas cartas dizendo “deixe Harry em paz”, mas nada mais ameaçador que isto (risos).

UOL Cinema - Você ainda recebe cartas deste tipo ou foi mais no começo?
Felton -
Agora não recebo mais tantas (risos). Nos primeiros filmes recebia mais. Chegavam mais cartas de fãs novinhos (risos). Eles também eram muito fofos, mas deixavam claro que queriam que eu deixasse Harry em paz, que eu estava sendo cruel...

UOL Cinema - Existem atores que acham mais desafiador interpretar um “bad boy” do que eu cara bonzinho. Você concorda?
Felton -
Sim, eu ouvi isso há um tempo e levei alguns anos para entender o motivo. É fantástico.  Existem as frustrações do dia a dia, como trânsito no caminho para o trabalho, ou coisas do tipo, e você pode colocá-las para fora [ao atuar].  Enquanto os caras bonzinhos têm que colocar um sorriso no rosto,  os maus podem demonstrar, fazer cara de tristes e bravos,  algo fácil de fazer (risos).  E geralmente, na vida real, eu costumo ser um cara família e simpático, então é legal interpretar um personagem tão diferente de mim.

TRAILER DUBLADO DE ''RELÍQUIAS DA MORTE - PARTE 1"

UOL Cinema - Como foi saber o final da história?
Felton -
Foi uma aventura quando o livro chegou em minhas mãos. Eu prometi a mim mesmo que leria um capítulo por mês, mas li tudo em cerca de 40 horas.  Acho que ela [J. K. Rowling] criou uma ambigüidade para o Draco, que é muito bom explorar agora, mas a história toda é incrível. Pessoalmente, gostei muito do fato de podermos ver os personagens quando estão mais velhos, com filhos. Vai ser algo estranho de ver no filme, mas algo ótimo ao mesmo tempo.

UOL Cinema - Como é trabalhar com atores experientes nos filmes da série? Eles dão conselhos para vocês nas cenas?
Felton -
Um das coisas irônicas no filme é que nós somos estudantes numa escola de magia, mas poderíamos ver isso como uma escola de atuação, com jovens atores aprendendo com os ótimos atores que interpretam nossos professores. É uma ótima forma de aprender. Você aprende coisas sem nem perceber. Jason Isaac, que interpreta meu pai no filme, sempre me deu vários conselhos, me dizia para tentar coisas de outro jeito. Eu sempre prestei atenção nos conselhos dele. Acho incrível que queiram ajudar os jovens atores. Ficar frente a frente com esses caras é mais proveitoso que ir a uma escola de interpretação.

UOL Cinema - Você freqüenta uma escola de atuação?
Felton -
Não, nunca freqüentei. Eu costumava ir por diversão depois da escola, mas nunca fui a uma escola integral de atuação.

UOL Cinema - Como você vê o seu futuro sem Draco Malfoy?
Felton -
Vou sentir falta dele, definitivamente. Eu e Draco tivemos uma boa caminhada juntos. Mas é tempo de deixá-lo ir, nos divertimos bastante. Estou ansioso para fazer algo completamente diferente. Acho que não será muito difícil fazer algo diferente de um bruxo loiro malvado (risos). Quero fazer algo um pouco mais “pé no chão” agora.

UOL Cinema - Já tem planos em vista?
Felton -
Muitos! Mas estou deixando as opções em aberto, não assinei nada ainda, pois não sei bem se vou querer fazer teatro ou TV...há muitas oportunidades legais por aí. E estou vivendo o momento [de “Harry Potter”] por enquanto, pois quando isto acabar, sei que vou sentir falta.

UOL Cinema - O que há em Draco que você mais gosta?
Felton -
Não gosto de nada nele (risos), ele não é um personagem muito amável. Sinto pena do Draco, na verdade. É uma criança solitária, com pais malvados e péssimas influências. Daniel e eu pensamos que Harry e Draco eram dois lados de uma moeda. E no meu lado [do Draco] havia as más referências, enquanto Harry tinha o oposto, incluindo influências de Dumbledore e Hagrid a seu favor.

UOL Cinema - Mas você já teve vontade de interpretar Harry?
Felton -
Originalmente eu fiz teste para ser Harry. Depois para ser Rony, Hermione, Hagrid...(risos). Draco foi minha 26ª audição (risos). Chris Columbos e eu nos demos muito bem e ele me fez mudar o cabelo para marrom, ruivo e depois loiro, cor que eu mantive pelos últimos dez anos.

UOL Cinema - Qual livro da série é o seu favorito?
Felton -
Eu sempre fui fã de “A Câmara Secreta”, não sei por que, até o título para mim é bom. A ideia de uma cobra gigante sempre me pareceu fascinante.

UOL Cinema - O que se pode esperar de Draco neste filme?
Felton -
Muitas coisas ficaram em aberto em relação ao Draco. E David [Yates, o diretor de “Relíquias da Morte”] e eu falamos sobre o fato de ele ficar dividido entre o lado bom e o mal. Ele continua com seus amigos malvados, mas ao mesmo tempo tenta ajudar Harry. E há uma ocasião em que salva sua vida, e Harry faz o mesmo por ele. Há um clima de os dois apertarem a mão um do outro e dizer “me desculpe”. E há um momento do filme em que eles observam os filhos pegando o trem para Hogwarts como nós fazíamos anos atrás. Foi como ver um ciclo se concluir. É um dos melhores momentos entre Harry e Draco neste filme, estou ansioso para ver.

UOL Cinema - Você diria que é uma forma de punição para Draco, quando sua vida é salva por Harry?
Felton -
Pode ser, mas Draco salva a vida dele antes. Harry paga o favor depois. Acho que Draco se sente mal por tudo que aconteceu de mal na escola nos últimos anos. E ele mal sabe o que está fazendo, é inconsciente.

DANIEL RADCLIFFE FALA COM FÃS BRASILEIROS DE "HARRY POTTER"

UOL Cinema - Os filmes “Harry Potter” já tiveram quatro diretores (Chris Columbus, Alfonso Cuarón, Mike Newell e David Yates). Você gostaria de trabalhar com algum deles novamente,  fora da franquia?
Felton -
Claro, adoraria. David e eu somos mais próximos, pois trabalhamos juntos nos últimos anos. Nós nos damos muito bem, eu gosto do estilo de direção dele.

UOL Cinema - Como vocês trabalham?
Felton -
É difícil explicar. David parece saber como falar para cada ator o que ele precisa ouvir para que tenha o que quer. Ele diz o que quer de você. Pois cada ator reage de uma forma, eu e Daniel, por exemplo, precisamos de outra forma de direção, e o mesmo com outros atores...Ele é bom em pegar atores diferentes e fazer com que tenham um resultado em conjunto e consegue fazer as coisas fluírem muito bem.

UOL Cinema - Em relação aos efeitos especiais, como é atuar imaginando que as coisas estão ali, quando na verdade vocês só as verão na tela, após os efeitos especiais serem incluídos nas cenas?
Felton  -
Nós nos acostumamos, vimos muitas telas verdes no cenário. Tivemos que nos acostumar, por que nunca tivemos o luxo de contracenar com dragões ou com vassouras voadoras (risos).

(A jornalista viajou para Londres a convite da distribuidora Warner Bros)