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Festival de Brasília faz aposta ousada com diretores novos e filmes experimentais

Cena do filme brasileiro ""A Alegria"", sobre juventude - Divulgação
Cena do filme brasileiro ''A Alegria'', sobre juventude Imagem: Divulgação

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb

23/11/2010 07h00

A 43ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que começa na próxima terça (23) e acontece até o dia 30 de novembro, promete ser das mais imprevisíveis da história deste que é o mais antigo do Brasil, criado em 1965, sob a inspiração do crítico e professor Paulo Emílio Salles Gomes.

Uma rápida olhada na seleção dos seis longas concorrentes na seção principal, 35 mm, compreendendo três filmes cariocas, dois mineiros e um pernambucano, permite deduzir que a aposta da comissão de seleção deste ano foi procurar os novos. Assim pode ser considerada a maioria dos diretores selecionados, em que os nomes mais conhecidos são os concorrentes do Rio, João Jardim ("Janela da Alma", "Pro Dia Nascer Feliz"), Eryk Rocha ("Pachamama", "Rocha que voa") e a dupla Felipe Bragança (codiretor e corroteirista de "O Céu de Suely") e Mariana Meliande.

A busca de descobrir novos nomes e tendências pode ser, afinal, a vocação procurada pelo festival, que, localizado no final do calendário, tem tido cada vez maior dificuldade para encontrar concorrentes de peso, ainda mais inéditos, como exige o regulamento. Um detalhe que oferece um desafio extra,  com a concorrência de outros festivais, como Gramado, o Festival do Rio, a Mostra de São Paulo, todos imediatamente anteriores, no segundo semestre.

Veterenos abrem e fecham evento

O lugar dos veteranos está garantido, porém, na abertura e no encerramento, com a exibição das versões restauradas de "Lílian M - Relatório Confidencial", de Carlos Reichenbach (atração do dia 23) e "Os Deuses e os Mortos", de Ruy Guerra, fechando a programação, na noite da premiação, 30 de novembro.

Outra atração fora de competição será “O Leão de sete cabeças”, de Glauber Rocha (1970), um mergulho no colonialismo euro-americano na África, igualmente em cópia nova a partir de negativos preservados na Cineteca Nazionale, em Roma.

A nova geração

Dos seis longas concorrentes na seção principal, “A Alegria”, de Felipe Bragança e Mariana Méliande (RJ), já foi exibido na Quinzena dos Realizadores, no último Festival de Cannes – o que não é problema, porque o ineditismo exigido no regulamento limita-se ao Brasil.

Com a narrativa fragmentada que é marca registrada dos diretores – que já assinaram juntos “A Fuga da Mulher-Gorila”, em 2009 -, o filme acompanha as emoções instáveis da adolescente Luiza (Tainá Medina), 16 anos. Moradora do Catete, ela entra em contato com uma maior liberdade quando sua mãe viaja e a deixa morando sozinha no apartamento.

O pai (Márcio Vito, de “No meu lugar”) supervisiona o lugar. Mas é Tainá mesmo quem toma as rédeas de sua vida, dividindo experiências com os amigos. Uma situação estranha se instala quando um primo dela, que mora no subúrbio, é baleado e desaparece. O incidente torna-se pretexto para que o filme assuma uma linha narrativa paralela e um tanto surreal.

Documentarista premiado, João Jardim, concorre com “Amor?”, uma investigação sobre ligações amorosas relacionadas a algum tipo de violência, com situações envolvendo ciúme e jogos de poder. Atores como Julia Lemmertz, Lília Cabral, Eduardo Moskovis, Sílvia Lourenço e Fabiula Nascimento interpretam os depoimentos de pessoas diversas sobre o tema.

  • Divulgação

    Atriz Julia Lemmertz em cena do filme ''Amor?'', de João Jardim

Outro documentário concorrente é “Vigias”, do brasiliense radicado em Recife Marcelo Lordelo – autor de curtas como “Fiz zum-zum e pronto” e “27”, exibido no Festival de Brasília 2008. Neste seu primeiro longa, os protagonistas são diversos vigilantes da cidade de Recife, que comentam seu trabalho e os medos das pessoas para quem trabalham.

Primeira ficção de Eryk Rocha, “Transeunte” tem um quê documental ao contar a história de um aposentado, Expedito (Fernando Bezerra), que rompeu as ligações com a vida normal e cotidiana e paulatinamente começa a encontrar novos caminhos para sua expressão.

Os mais enigmáticos da seleção, são, indubitavelmente, os dois concorrentes mineiros. Um deles é “O Céu sobre os Ombros”, de Sérgio Borges (diretor do média “Mira”, premiado no É Tudo Verdade 2006), que, no limite entre documentário e ficção, retrata três personagens reais interpretando a si mesmos: um hare krishna que é chefe da Galoucura (torcida do Atlético Mineiro), um transexual que tem mestrado mas também se prostitui e um angolano dividido entre posições bem extremas. No elenco, Ewelyn Barbin, Murare Krishna e Lwei Bakongo.

O último selecionado é “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado – que substituiu “O Mar de Mário”, de Reginaldo Gontijo e Luiz F. Suffiati, desclassificado por não ter mantido o ineditismo, participando da Mostra de São Paulo, mas mesmo assim será exibido em mostra paralela em Brasília. “Os residentes” retrata um grupo de pessoas que ocupam uma casa abandonada, à qual chegam novos outros novos moradores. No elenco, Melissa Dullius, Gustavo Jahn e Jeane Doucas.

Um total de R$ 555 mil em prêmios será dividido entre os vencedores, sendo R$ 220 mil para longas-metragens em 35mm; R$ 70 mil para curtas ou médias-metragens em 35mm e R$ 65 mil para os curtas em formato digital. O júri popular premiará dois títulos em 35mm, oferecendo R$ 30 mil para o melhor longa-metragem e R$ 20 mil ao melhor curta.Além dos prêmios oficiais, outros são concedidos pela Câmara Legislativa do DF, que distribuirá R$ 150 mil para filmes produzidos em Brasília, e os prêmios de outros parceiros que ofertam serviços e/ou fazem aquisições de filmes, tais como Canal Brasil, TV Brasil, MegaColor, Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, jornal Correio Braziliense, prêmio da Crítica e ABCV – Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo.

Abaixo, a lista completa dos longas e curtas concorrentes:

Mostra competitiva 35mm

Longas

- "A Alegria", de Felipe Bragança e Marina Meliande (106min, RJ)
- "Amor?", de João Jardim (100min, RJ)
- "Os Residentes", de Tiago Mata Machado (120min, MG)
- "O Céu Sobre os Ombros", de Sérgio Borges (72min, MG)
- "Transeunte", de Eryk Rocha (100min, RJ)
- "Vigias", de Marcelo Lordello (70min, PE)

Curtas

- "A Mula Teimosa e o Controle Remoto", de Hélio Villela Nunes (15min, SP)
- "Acercadacana", de Felipe Peres Calheiros (19min58, PE)
- "Angeli 24 horas", de Beth Formaggini (25min09, RJ)
- "Braxília", de Danyella Neves e Silva Proença (16min,30, DF)
- "Cachoeira", de Sergio José de Andrade (13min47, AM)
- "Café Aurora", de Pablo Pólo (19min, PE)
- "Contagem", de Gabriel Martins e Maurilio Martins (18min02, MG)
- "Custo Zero", de Leonardo Pirovano (12min, RJ)
- "Fábula das Três Avós", de Daniel Turini (17min, SP)
- "Falta de Ar", de Érico Monnerat (21min, DF)
- "Matinta", de Fernando Segtowick (20min, PA)
- "O Céu no Andar de Baixo", Leonardo Cata Preta (14min59, MG)

Mostra Competitiva Digital

Curtas / Médias digitais selecionados

- "Com a Mosca Azul", de Cesar Netto (15min, SP)
- "Dalva", de Filipie Wenceslau (15min20, BA)
- "De bem com a vida" - Carlos Elias e o Samba em Brasília, de Leandro Borges (20min, DF)
- "Do Andar de Baixo", de Luisa Campos e Otavio Chamorro (13min, DF)
- "Entrevãos", de Luísa Caetano (19min50, DF)
- "Esta Pintura Dispensa Flores", de Luiz Carlos Lacerda (20min, RJ)
- "Herói", de Thiago Ricarte (20min, SP)
- "Lendo no Escuro", de Marcelo Pedrazzi (16min, RJ)
- "My Way", de Camilo Cavalcante (7min, PE)
- "Naquela Noite Ele Sonhou com Um Mar Azul", de Aristeu Araújo (20min, PR)
- "Negócios à Parte", de Juliana Botelho (15min, DF)
- "O Eixo", de Ricardo Movits (7min30, DF)
- "O Filho do Vizinho", de Alex Vidigal (6min09, DF)
- "O Gato na Caixa", de Cauê Brandão (19min59, DF)
- "O Silêncio do Mundo", de Bárbara Cariry (10min, CE)
- "Onde Você Vai?", de Victor Fisch (14min36, SP)
- "Queda", de Pablo Lobato (14min35, MG)
- "Queimado", de Igor Barradas (19min, RJ) Só mais um filme de amor, de Aurélio Aragão (18min, RJ)
- "Tempo de Criança", de Wagner Novais (12min, RJ)
- "Traz Outro Amigo Também", de Frederico Cabral (15min, RS)
- "Últimos Dias", de Yves Moura (15min, RJ)