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Com "W.E.", Madonna faz mais uma tentativa de consolidar uma carreira no cinema

Madonna apresenta-se no intervalo do Super Bowl - Christopher Polk/Getty Images
Madonna apresenta-se no intervalo do Super Bowl Imagem: Christopher Polk/Getty Images

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

10/03/2012 07h00

A apresentação de Madonna no intervalo do Superbowl, pouco mais de um mês atrás, deu o que falar: a maior estrela da música pop recebeu diversos elogios por sua performance, que ajudou a impulsionar o lançamento de um novo disco, o 12º de sua carreira. Aos 53 anos, a cantora parece estar numa boa fase. Ela é dona de uma fortuna de quase US$ 350 milhões, vendeu mais de 300 milhões de discos, ganhou 7 Grammys. Mas Madonna nunca se satisfaz.

A chegada de "W.E. - O Romance do Século" aos cinemas brasileiros é mais uma de suas tentativas para consolidar uma carreira no cinema. Um sonho que a diva já alimenta há quase 30 anos, quando estrelou "Procura-se Susan Desesperadamente". O novo filme é o segundo dirigido por Madonna, que se escondeu atrás das câmeras para tentar mudar a sorte de um currículo que nunca deu muito certo na tela grande.

CONEXÃO COM A PERSONAGEM

  • AFP

    Para seu segundo filme como diretora, Madonna escolheu a história de Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada por quem o rei Edward 8º da Inglaterra abdicou o trono. A cantora diz que sentiu uma "conexão simbiótica" com a personagem.


Os primeiros anos
A primeira experiência de Madonna no cinema teria rendido um cachê de US$ 100 para a aspirante a atriz. Foi em "A Certain Sacrifice", longa rodado em 1979, mas só lançado (ainda em VHS) seis anos depois, na carona do sucesso da cantora. A essa altura, Madonna já tinha estourado com seu segundo disco, "Like a Virgin", que vendeu 25 milhões de cópias. No melhor estilo Xuxa Meneghel, a estrela tentou impedir o lançamento do filme, mas não teve sucesso. O consolo para ela é que quase ninguém assistiu a sua estreia no cinema.

No mesmo ano, 1985, Madonna estrelou dois filmes. Desta vez, no cinema. O primeiro foi "Em Busca da Vitória", em que faz uma ponta como cantora de bar. É nele que aparece "Crazy for You", primeira música interpretada por Madonna, composta especialmente para o cinema. O segundo filme do ano virou um clássico pop dos anos 1980. "Procura-se Susan Desesperadamente", coestrelado por Rosanna Arquette, era um hit na Sessão da Tarde da TV Globo, mas a popularidade da cantora não se reverteu para a atriz. O filme rendeu US$ 27 milhões de dólares. Não chegou nem entre as 30 maiores bilheterias de 1985. "De Volta para o Futuro", campeão do ano, rendeu US$ 210 milhões.

Um ano depois, Madonna se juntou ao então marido, o ator Sean Penn, para estrelar "Surpresa de Shangai", que fez pouco mais de US$ 2 milhões nos cinemas e levou seis indicações ao Framboesa de Ouro, o prêmio dos piores do ano. Sean Penn e o beatle George Harrison, que fez a música-tema, só concorreram, mas Madonna ganhou o primeiro dos nove Framboesas que coleciona até hoje. O segundo desses "prêmios" viria no ano seguinte, por "Quem É Essa Garota?".

O filme, dirigido pelo padrinho de casamento de Madonna, James Foley, foi um novo fracasso: fez apenas US$ 7 milhões de bilheteria e não ajudou a pavimentar a carreira cinematográfica da estrela pop. Para fechar os anos 1980, Madonna se aventurou num filme em episódios chamado "Doce Inocência", onde nem os pesados figurinos de época a livraram de uma nova indicação ao Framboesa de Ouro. Desta vez, como pior atriz coadjuvante. Mas, desta vez, Madonna não ganhou.


O ensaio de uma virada
A sorte começou a mudar para Madonna quando, já separada de Sean Penn, a cantora engatou um romance com o ator-diretor Warren Beatty, que a selecionou para coestrelar "Dick Tracy", baseado nos personagens de Chester Gould, nona maior bilheteria de 1990, US$ 103 milhões. Madonna, além do papel de femme fatale, fez um disco inspirado no longa, "I’m Breathless", que reúne várias canções usadas no filme. Entre elas, "Sooner or Later (I Always Get My Man)", música composta por Stephen Sondheim, que ganhou o Oscar.

Com o sucesso de "Dick Tracy", Madonna ganhou algum gabarito e, em 1991, em versão multimídia, lançou o disco "Erotica", o livro "Sex" e o documentário "Na Cama com Madonna". A bilheteria foi modesta, US$ 15 milhões, mas a repercussão, enorme. Embora a polêmica tenha rendido à cantora outra indicação ao Framboesa de Ouro, não impediu que Madonna ganhasse um papel pequeno em "Neblina e Sombras", filme de Woody Allen. A fase boa continuou no ano seguinte, quando a atriz lançou "Uma Equipe Muito Especial", seu maior sucesso no cinema até hoje. Uma bilheteria de US$ 107 milhões.

Baixos e altos
Os filmes seguintes de Madonna estão entre os mais polêmicos. "Corpo em Evidência", em que a cantora aparece sem roupa em fortes cenas sensuais ao lado de Willem Dafoe, ganhou 6 indicações ao Framboesa de Ouro e rendeu mais um prêmio de pior atriz para Madonna. Em seguida, "Olhos de Serpente", do cultuado Abel Ferrara, foi ignorado até pelos fãs da cantora. Segundo o BoxOfficeMojo, site especializado no mercado do cinema, o filme tem a pior bilheteria da carreira de Madonna como atriz. Rendeu míseros US$ 23 mil dólares.

Mas nem a polêmica de um, nem o desdém desanimaram a estrela. Na sequência, ela ganhou um papel pequeno em "Sem Fôlego", estrelou um dos episódios do filme coletivo "Grande Hotel" e fez uma ponta em "Garota 6", longa de Spike Lee. Nenhum teve grande repercussão, mas também não davam conta do que estava por vir. Em 1996, Madonna ganhou sua maior chance no cinema: o papel principal no musical "Evita", de Alan Parker.

MADONNA E ELENCO FALAM SOBRE "W.E. - O ROMANCE DO SÉCULO"


Na pele de Eva Perón, Madonna ganhou elogios por sua performance e recebeu o Globo de Ouro de melhor atriz em comédia ou musical. No tapete vermelho desta festa, um jornalista perguntou a estrela se ela seria indicada ao Oscar. "Sim", ela respondeu. Mas não foi bem o que aconteceu. A estrela não conseguiu vaga entre as finalistas ao prêmio da Academia, mas não faltou a cerimônia. Como boa perdedora, cantou "You Must Love Me", música que venceu o Oscar, e partiu para um período de reclusão cinematográfica que durou 4 anos.

Madonna só se arriscou como atriz principal de um filme outras duas vezes. Na comédia "Sobrou Pra Você", de 2000, bilheteria capenga de US$ 14 milhões, dividiu a tela com o amigo Rupert Everett. O pessoal do Framboesa de Ouro não perdoou: outro prêmio de pior atriz. Em 2002, convenceu o marido da vez, Guy Ritchie, a comandar um remake de um filme da diretora italiana Lina Wertmüller. "Destino Insólito" foi um desastre completo: fracasso de crítica, vencedor de cinco Framboesas de Ouro e dono de uma bilheteria miserável, de apenas US$ 598 mil.

Neste mesmo ano, fez sua última aparição nas telas, uma ponta em "007 – Um Novo Dia para Morrer". Nem foi creditada, mas, acreditem, recebeu outro Framboesa de Ouro como pior atriz coadjuvante. Depois disso, nunca mais deu as caras no cinema. Sua voz ainda aparece em "Arthur e os Minimoys", de 2006. Mesmo com tantas derrapadas, Madonna não desistiu e resolveu virar cineasta. "Sujos e Sábios", de 2008, foi ignorado ao redor do mundo. Nunca chegou a ser lançado no Brasil. Nos Estados Unidos, o filme teve um lançamento reduzidíssimo, que não deixou a bilheteria passar dos US$ 22 mil.

"W.E." teve um pouco mais de sorte, talvez por causa da natureza do projeto, que retrata o romance entre o então rei da Inglaterra e uma americana casada. A bilheteria nos EUA passou um pouquinho dos US$ 300 mil. Os figurinos ganharam o prêmio do sindicato da categoria e concorreram ao Oscar. A canção-tema levou o Globo de Ouro. Coisa pouca, mas para alguém que se reiventou várias vezes, dentro e fora do cinema, o indicativo de que as coisas podem mudar mais uma vez.