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Elenco saúda escolhas e edição "generosa" da cineasta estreante Juliana Reis em "Disparos"

Gustavo Machado (à esquerda) e Caco Ciocler contracenam em "Disparos" - Divulgação
Gustavo Machado (à esquerda) e Caco Ciocler contracenam em "Disparos" Imagem: Divulgação

Mário Barra

Do UOL, em São Paulo

22/11/2012 05h00

Se a estreante em longas-metragens Juliana Reis pode se gabar de um trunfo junto ao elenco de "Disparos", este feito é o de preservar a tensão entre os personagens vividos por Caco Ciocler e Gustavo Machado, dois ex-colegas na Escola de Arte Dramática da USP. O filme estreia em todo o Brasil nesta sexta-feira (23), após ser bem-recebido durante a exibição no Festival do Rio de 2012.

Na trama, pequenas violências urbanas – como o próprio elenco define – são narradas ao redor da história principal: uma tentativa de roubo que termina com o atropelamento fatal do assaltante.

Sem saber direito se é vítima ou culpado pelo incidente, o protagonista Henrique (Gustavo Machado, de "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios") se vê obrigado a ir para a delegacia para prestar depoimento. É quando se depara com o personagem interpretado por Caco Ciocler, o inspetor de polícia Freire.

Misturando tensão e humor em momentos pouco prováveis, o longa foca na extensa madrugada entre os dois personagens, entrecortada por histórias paralelas, todas ligadas de alguma forma ao atropelamento.

Respeito ao jogo

Durante a pré-estreia em São Paulo, o elenco comentou sobre a liberdade conferida por Juliana em respeito aos silêncios e improvisações, quase sempre respeitados na montagem final do longa.

Acostumado com o ambiente do teatro, Ciocler diz admirar a liberdade emprestada por Juliana aos atores. Segundo o ator, a diretora foi generosa na hora de edição e salvou momentos de interação entre o elenco. “Eu senti muito isso, o jogo mantido no set de filmagens foi respeitado no corte final”, diz o ator, que faz questão de dividir com Gustavo Machado os louros pelo prémio como ator coadjuvante no festival carioca.

“Foi tudo meio solto, a gente esquecia que tinha câmera, era um jogo meio de improvisação”, lembra. “Podia sair qualquer coisa dali e por isso senti que o jogo foi muito respeitado.”

TRAILER DE "DISPAROS", COM CACO CIOCLER E GUSTAVO MACHADO

Gustavo Machado, amigo de longa data de Ciocler, concorda. "É uma conjunção do momento e do talento dos atores, mas tem um quê de acaso também. Senti que ele me escutava, que eu alterava ele durante as filmagens", explica. Embora nunca tivessem atuado juntos, ambos já frequentaram o mesmo ambiente em peças e festas e não foram estranhos ao trabalharem pela primeira vez no cinema. "Foi muito natural, a bola vinha redonda da parte dele, foi muito fácil."

Para Juliana, a troca entre Ciocler e Machado era um dos elementos a serem preservados na trama. “A gente ensaiou bastante junto”, diz. ”É como se os três, antes de ir para a cena, já tivessem entendido qual era o ritmo, a pegada."

A princípio, Juliana pretendia montar o filme com outra estética, que descreve melhor a simultaneidade dos acontecimentos. Aconselhada pelo elenco, a diretora optou por uma montagem que agradou aos dois atores principais.

“O filme foi pensado para que a trama principal entre o Gustavo e o Caco durasse uma hora e meia, enquanto todas as outras intrigas secundárias apareceriam em telas periféricas”, conta. "Eu estava mais interessada, na verdade, nas outras histórias. É como se a história do fotógrafo fosse um pretexto para eu mostrar esses pequenos casos parelelos."