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Ryan Gosling diz que personagem de "Caça aos Gângsteres" "tem atitude do 'dane-se'"

Ryan Gosling grava cenas do filme "Caça aos Gangstêres"  - Reprodução/Daily Mail
Ryan Gosling grava cenas do filme "Caça aos Gangstêres" Imagem: Reprodução/Daily Mail

Cindy Pearlman*

Do Hollywood Watch, em Nova York (EUA)

01/02/2013 05h00

Sabe aquela ideia que se tem de como um astro de cinema deve se vestir? Não vale para Ryan Gosling.

Num dia frio de inverno em Los Angeles, o ator – que se tornou objeto de desejo da mulherada depois das cenas sem camisa que fez para "Diário de uma Paixão" (2004) – apareceu usando um jeans desbotado, uma camisa de flanela xadrez e uma barba por fazer que o confundiria com um dos operários que trabalhavam no pátio externo do Hotel Four Seasons de Beverly Hills.

Bebericando um Dr. Pepper ao sentar para a entrevista, o canadense de 32 anos não tem a postura e o charme calculado de um galã de Hollywood; aliás, ele já começa detonando minha primeira questão.

"Como é que é a pergunta mesmo?", diz ele, depois de uma pausa. "Desculpa, é que eu acabei de tomar um Red Bull. Preciso me concentrar."

Gosling está ali para falar sobre seu novo trabalho, "Caça aos Gângsteres", que entra em cartaz nos EUA em onze de janeiro. Dirigido por Ruben Fleischer, o filme (mais ou menos inspirado em fatos reais) mostra a briga secreta da polícia de Los Angeles para manter a cidade livre dos chefões da Máfia da Costa Leste – incluindo o chefão Mickey Cohen (Sean Penn) – durante os anos 40 e 50. No elenco também estão Josh Brolin e Emma Stone.

Esse filme não promete ser aquele filme de gângster que o seu pai via. Promete surpresas. Na verdade, acho que é uma declaração de amor a Los Angeles

Ryan Gosling

Gosling é o sargento Jerry Wooters, um oficial cujo desejo de fazer a coisa certa é comprometido pelo pavio curto, pela mentalidade intrépida e por uma dose cavalar de fatalismo.

"É o cara que tem aquela atitude do 'Dane-se', sabe?", Gosling explica. "Para ele, algo ou alguém vai acabar o acertando, então que seja numa briga boa ou fazendo o bem a alguém."

Ele também tem um caso com a namorada de Cohen, interpretada por Stone.

"O tom desse longa é bem interessante", prossegue, "porque promete não ser aquele filme de gângster que o seu pai via. Promete surpresas. Na verdade, acho que é uma declaração de amor a Los Angeles".

"É um filme sério, mas tem uns lances bem engraçados", acrescenta. "Eu venho da comédia e, para mim, esse trabalho é mais uma transição para a ação, sabia que tinha muita coisa para aprender."

Talvez suas raízes na comédia é que o tenham ajudado a fazer a caracterização (meio esquisita) de seu personagem, inspirado num policial de verdade da época.

"Admiro o fato de o Pernalonga ser muito mais do que só um coelho que de vez em quando se disfarçava de mulher para escapar de problemas", começa o ator. "Sempre achei essa abordagem interessante. Com o meu personagem, tentei evitar mostrá-lo de maneira discreta. Estava tentando me basear no fato de que era uma pessoa de verdade que tinha uma missão a cumprir."

"Vale notar que o cara era muito mais corajoso do que a minha versão dele no filme; tivemos que mudar algumas coisas por causa do efeito dramático."

O momento culminante do filme, para ele, foi quando o engraxate com quem Wooters faz amizade é morto numa troca de tiros entre policiais e criminosos.

"O meu personagem é movido a angústia e conflito", ele explica. "Acho que ficou muito abalado com a morte do garoto. Emocionalmente também, porque o menino foi praticamente forçado a se envolver e acabou pagando caro por isso."

Para o ator, era também muito importante que "Caça aos Gângsteres" refletisse a realidade e não fosse só mais um filme sobre a Máfia.

"Vi uma foto do policial em que meu personagem é baseado e também falei com alguns de seus familiares", explica Gosling. "O filho dele inclusive foi ao set e me contou várias histórias. Uma delas era que o pai dele apagava os cigarros na barra da calça e, no fim do dia, jogava a calça fora. Achei esse detalhe muito interessante."

Interpretar o policial num filme de gângster lhe rendeu uma única decepção.

"Sabia que nunca ia ganhar uma metralhadora", suspira ele. "Cheguei achando que ia usar uma, claro, mas que nada... tive que usar uma arma de moça porque só o Josh Brolin é que podia usar as grandonas."

Trabalhar ao lado de Emma Stone também não foi novidade, pois ambos interpretaram um casal apaixonado em "Amor À Toda Prova" (2011).

"Só entrei nesse projeto porque a Emma está me devendo uma grana", ele brinca. "O único jeito de tentar receber é fazendo filmes com ela. E, pelo visto, vou ter que fazer outros porque ela ainda não me pagou."

"A pior parte foi conseguir ficar séria o tempo todo", disse a atriz em outra entrevista. "A gente tinha acabado de fazer uma comédia juntos e, na vida real, parecemos dois bobocas, rindo de tudo."

Gosling foi criado em Ontário com os pais e a irmã mais velha. Estudou em casa, mas acabou cursando o Cornwall Collegiate and Vocational High School em Burlington, dedicando-se ao drama e às Belas Artes. Os concursos de atuação organizados pela nova escola despertaram sua paixão pela interpretação. Era também bom cantor, mas sempre pensou em ser ator – e se dedicar principalmente ao cinema.

  • Divulgação

    Ryan Gosling em cena de "Caça Aos Gângsteres"

"Os filmes me enfeitiçavam quando eu era garoto", ele relembra. "Era pequenininho quando vi 'Rambo: Programado para Matar' (1982), mas saí do cinema achando que era o próprio. Até a expressão do meu rosto tinha mudado."

Sua vida também mudou quando foi a Montreal para fazer o teste para "O Clube do Mickey". Dezessete mil crianças foram avaliadas, mas Gosling foi selecionado e passou dois anos, de 1993 a 1995, na Flórida, gravando. Durante esse tempo, morou com a família de um dos colegas, Justin Timberlake.

Porém, o jovem continuava determinado a trabalhar no cinema e, depois de passar um tempo na TV canadense, foi para Hollywood. Lá, seu primeiro filme foi "Duelo de Titãs" (2000), mas o grande sucesso foi em "Tolerância Zero" (2001), drama baseado em fatos reais em que interpretava um jovem judeu que se transforma num violento antissemita. O filme ganhou o prêmio do Grande Júri do Festival de Sundance e despertou o interesse geral no ator canadense.

"Diário de uma Paixão" o colocou ao lado da então novata Rachel McAdams, transformou-o num astro e o levou a trabalhar numa série de dramas que incluem "Encurralados" (2005) - pelo qual foi indicado a Melhor Ator, "Um Crime de Mestre" (2006), "Namorados para Sempre" (2010) e "Drive" (2011), além das comédias alternativas "A Garota Ideal" (2007) e "Amor A Toda Prova".

A seguir, veio o trabalho com a namorada, a atriz Eva Mendes, em "The Place Beyond the Pines", que mostra um motociclista misterioso (Gosling) que é tentado a cometer um crime para conseguir sustentar a mulher e o filho. Recentemente concluiu as filmagens de "Only God Forgives", no qual interpreta um tenente de polícia em Bancoc numa disputa com um gângster (Tom Burke) sob a direção de Nicholas Winding Refn, o mesmo de "Drive".

Ele também será visto ao lado de Christian Bale, Cate Blanchett e Natalie Portman num longa ainda sem título de Terrence Malick, um drama romântico que se passa no meio musical de Austin, no Texas.

Uma sequência de trabalho intenso, sim, mas Gosling ainda quer mais.

"O pessoal comenta que ando muito ocupado, mas eu gosto", ele conta. "A minha vida também está diferente. Não sei por quê, mas me sinto mais criativo, quero diversificar os papéis. Quero interpretar todo mundo, até você!"

Gosling pode não gostar do título de "galã", mas os fatos – incluindo as centenas de fãs em sites com nomes como The United States of Gosling e ryangoslingaddicted.com – provam que ele é um.

Elenco de "Caça aos Gângsteres" fala sobre o filme

"Minha vida mudou, sim", admite. "Não há como negar."

Na maior parte do tempo, ele afirma que a atenção das fãs não o incomoda.

"O que mais me deixa feliz é quando alguém chega dizendo: 'Gostei de você em tal filme'", revela ele. "Aí trocamos opiniões. Isso para mim é o que mais importa."

Em relação ao título de símbolo sexual, ele só balança a cabeça, divertido.

"Sempre achei que eu tinha uma cara meio esquisita", ri ele, "mas cada um tem o direito de ter sua opinião, né?".

* (Cindy Pearlman é jornalista freelancer de Chicago)