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Com Mazzeo e atores do Porta dos Fundos, "Vai Que Dá Certo" faz comédia "social"

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

20/03/2013 05h00

O diretor Maurício Farias, que já esteve à frente de "A Grande Família", decidiu juntar em um mesmo filme grande nomes da comédia atual, como Lúcio Mauro Filho, Bruno Mazzeo, Fábio Porchat e Gregório Duvivier, esses dois últimos fazendo sucesso com o canal de comédia na internet "Porta dos Fundos". Com tantas referências do humor, o filme só poderia ser uma nova comédia, mas o diretor quis levantar questões sociais, como a falta das perspectiva entre jovens e até aonde uma pessoa poderia ir para se dar bem financeiramente.

"Vai que Dá Certo", que chega aos cinemas brasileiros na sexta (22), conta as trapalhadas de Amaral (Porchat), Vaguinho (Duvivier), Tonico (Abib) e Rodrigo (Danton Mello), um grupo de amigos que chegam na casa dos trinta anos com as contas bancárias quase zeradas e sem realizarem seus sonhos. Eles começam a se meter em sérios problemas quando são convencidos por Danilo (Lúcio Mauro Filho) a roubar um carro-forte. Natália Lage, que vive a periguete Jaqueline, também está no elenco.

Farias desenvolveu a primeira versão do roteiro há 20 anos, depois de ter lido nos jornais a história de um motorista que roubou um carro-forte para dar uma vida melhor à família. "Alguns amigos do homem estavam perplexos porque ele sempre havia sido honesto. Então fiquei me perguntando: Por que pessoas honestas se arriscam e até que ponto essa situação é engraçada?". 

Fazendo sucesso também como roteirista dos vídeos do "Porta dos Fundos", Porchat foi convidado pelo diretor para criar os diálogos de "Vai Que Dá Certo", um dos trunfos do filme. "As pessoas me perguntam se a gente improvisou muito no filme. Não sou bom nisso, mas se parece improviso é porque os diálogos são naturais", disse Danton Mello.

Assista ao trailer do filme

Cariocas em São Paulo
Apesar da naturalidade das falas, há algo no filme que parece artificial: o sotaque paulistano na boca dos atores cariocas. Farias explicou que decidiu de última hora que os personagens teriam sotaque. "Como o filme se passa em São Paulo, achei que seria ridículo se todos mantivessem o sotaque do Rio", disse Farias.

Mazzeo explicou que foi pego de surpresa com a notícia de que seu personagem, o político Paulo, também seria paulistano. "Tive que criar o sotaque em cinco minutos, por isso ficou isso aí que vocês viram", disse ele em uma exibição do filme para jornalistas, em São Paulo. "A gente não queria tirar sarro do sotaque. Como já morei em São Paulo, pensei que se cada personagem tivesse um sotaque diferente, pareceria mais real", justificou Porchat.

Amizade no elenco
Para filmar o longa, elenco e produção passaram 40 dias juntos em Paulínia, no interior de São Paulo. Mazzeo foi o único que foi para a cidade apenas no início e fim das filmagens. "Eu iria fazer o papel interpretado por Danton, mas achei que sentiria muitas saudades do meu filho", disse o humorista, pai de João, de 8 anos.

Quando voltou a Paulínia no fim das gravações, Mazzeo se deparou com um grupo de amigos inseparáveis. A estadia em Paulínia fez com que os atores ficassem ainda mais próximos. "Confesso que fiquei com uma invejinha de ver como eles ficaram íntimos", conta Mazzeo.

Única menina do elenco, Natália Lage diz que, às vezes, não entendia as piadas dos homens do elenco, mas que se divertiu muito ao lado deles. "É uma delícia trabalhar com esses talentos e gosto de ser sempre chamada para trabalhos de humor. Claro que quando vejo Tatá Werneck e Dani Calabresa em ação me sinto humilhada, mas gosto muito de trabalhar com comédia", diz a atriz que também está no elenco de "Tapas & Beijos", da Globo. 

Globo Filmes X Cinema Autoral
Com orçamento de cerca de 3 milhões e apoiado pela Globo Filmes, Farias também comentou a polêmica envolvendo o diretor Kléber Mendonça Filho, de "O Som ao Redor", e a distribuidora. Em uma entrevista à "Folha de S.Paulo", Mendonça Filho falou: "Se meu vizinho lançar o vídeo do churrasco dele no esquema da Globo Filmes, ele fará 200 mil espectadores no primeiro final de semana". Mendonça ainda disse que a empresa faz mal à ideia de cultura no Brasil e atrofia o conceito de diversidade no cinema brasileiro.

Questionado sobre o assunto, Farias disse que admira muito o trabalho de Kléber, mas discorda dele sobre esse assunto. "A Globo Filmes não patrocina só um tipo de projeto e já apoiou filmes que não tiveram bom desempenho nas bilheterias". Farias também não acredita que uma grande empresa pode ser totalmente responsável pela boa audiência. "Trabalho há muitos anos na Globo e lá, quando um programa não vai bem, simplesmente não tem ibope". 

Para o diretor, não é só no Brasil que o cinema autoral, como o feito por Kléber, enfrenta dificuldades. Farias ainda disse que gosta de fazer filmes populares. "Gosto de fazer um cinema de entretenimento. O melhor momento é quando o entretenimento encontra a arte. Grandes filmes são assim".