"É mais fácil mostrar o atual num outro tempo", diz diretor de "A Hospedeira"
"Gattaca - Experiência Genética" (1997), "Simone" (2002), "O Preço do Amanhã" (2011) e agora "A Hospedeira". Sem dúvida, Andrew Niccol é um cara de ficção científica.
"Geralmente é mais fácil mostrar uma situação atual num outro tempo; pelo menos eu acho", afirma o roteirista/diretor neozelandês. "É o método Cavalo de Troia de contar uma história e quase sempre pega o público de surpresa, se é que você me entende. É por isso que gosto de usá-lo."
"Escrever um roteiro de ficção científica e fazer um filme do gênero são duas coisas bem diferentes", acrescenta. "Enquanto você escreve, tudo é possível, ou seja, a liberdade é infinita; já quando está dirigindo, é claro que aparecem dificuldades. Aliás, tem uma frase muito boa sobre isso: 'No primeiro dia de filmagem, os caminhões chegam trazendo equipamentos e responsabilidade'."
"Ela descreve exatamente o que é fazer um filme", prossegue Niccol. "Ao mesmo tempo, você tem momentos de atuação que excedem as expectativas. É um trabalho que gera um prazer imenso, mas tem todas as dificuldades que você possa imaginar."
Com estreia nos EUA marcada para 29 de março, "A Hospedeira" é a adaptação de Niccol do primeiro romance pós "Crepúsculo" de Stephenie Meyer. Dessa vez, 98 por cento da população da Terra foi tomada por alienígenas chamados Almas. Apenas algumas pessoas conseguem lutar e recuperar o próprio corpo, entre elas Melanie Stryder (Saoirse Ronan).
"Acho uma história fantástica, essa luta, essa resistência interna", comenta Niccol, por telefone, de sua casa em Malibu, na Califórnia. "É também uma lição de perseverança, tema que quase sempre me atrai."
"Além disso, como toda história da Stephenie, ela é, em essência, uma história de amor", continua. "Essa é uma situação única; geralmente temos triângulos amorosos em histórias, livros e filmes. Esse é um quadrilátero. Eu digo que é como um caso de gêmeas siamesas, de certa forma, apaixonarem-se por dois homens tão diferentes (Jake Abel e Max Irons) – é muito complicado. E eu adoro esse tipo de complicação."
Ronan, de 18 anos, é a irlandesa mais conhecida por trabalhos como "Desejo e Reparação" (2007), "Um Olhar do Paraíso" (2009) e "Hanna" (2011); neste filme, ela interpreta dois papéis: Melanie e Wanderer, a Alma que habita dentro dela – ou pelo menos tenta. Niccol explica que ele e a atriz trabalharam bastante, antes das filmagens e no set, para conseguir o equilíbrio perfeito entre as duas atuações. E conseguiram.
"No livro, você ouve duas vozes", Niccol explica. "A conversa entre Wanderer e Melanie é basicamente composta de pensamentos, mas é claro que ouvir duas pessoas pensando enquanto se olha para o rosto de alguém, mesmo que seja tão expressivo quanto o de Saoirse, não funciona no cinema. Optei então por tornar os pensamentos de Melanie audíveis e fazer Wanderer conversar com ela, bem baixinho, para não ser notada por mais ninguém. Isso foi um detalhe importante para delimitar as duas personagens."
"Uma coisa que decidimos juntos foi que Wanderer usaria uma linguagem mais formal, já que é um meio de comunicação novo para ela; Melanie seria mais coloquial, usaria sarcasmo e ironia. Devagarzinho, ao longo da interpretação, Wanderer, que se torna Wanda, aprende também a ser sarcástica e a mentir."
TRAILER LEGENDADO DO FILME "A HOSPEDEIRA"
"Foi um desenrolar bem interessante", revela Niccol. "E especificamos bem em que ponto elas diriam 'Eu quero fazer tal coisa' em vez de 'Nós queremos fazer tal coisa'. Elas se tornam uma frente unida, mas nunca deixam de ser duas personalidades individuais."
Niccol e Ronan sabiam também que tinham Meyer a quem recorrer caso tivessem dúvidas sobre Melanie, Wanderer ou outros aspectos da história. A escritora estava no set praticamente todo dia e serviu de produtora executiva. O diretor a descreve como "incrivelmente participativa e sofisticada" e garante que ela aprendeu muita coisa sobre o processo de filmagem graças ao longo tempo que passou envolvida com a série "Crepúsculo".
"Por causa desse conhecimento, e embora se preocupe com as pessoas que amam o livro, ela sabe que não pode ser preciosista", explica. "O livro tem 600 páginas; o filme não pode ir muito além de duas horas. Muita coisa tem que ser limada. Ela também tem a consciência de que um romance é o trabalho de uma pessoa; um filme envolve mais de mil."
"Por exemplo, no livro, os Buscadores só vestem preto", diz Niccol, "mas eu sugeri que, para passar essa ideia de pureza, eles deviam usar branco; ela topou na hora e nem discutiu nem fez imposições, nada".
"Trabalhar com Stephanie foi um processo muito legal." Diz a lenda que Meyer já está trabalhando na primeira sequência de "A Hospedeira" (haverá duas); se o primeiro filme for um sucesso, é óbvio que ganhará uma continuação e Niccol não tem pudor em dizer que gostaria de dirigi-lo.
"Estou aberto ao projeto", afirma. "Adoro os personagens e tive a oportunidade de saber mais ou menos o que Stephenie pretende fazer no segundo livro, então é óbvio que me interessa."
"Com certeza, seria muito bom se eu pudesse continuar contando essa história."
(Ian Spelling é jornalista freelancer em Nova York.)
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