Apoiado por Del Toro em "Mama", diretor estreante quer conquistar Hollywood

Andres Muschietti quer que o mundo veja seu trabalho, "Mama".

Em 2006, ele e a irmã, Barbara, fizeram um curta de terror em seu país de residência, a Espanha, que acabou chamando a atenção de muita gente, inclusive a de Guillermo del Toro, cineasta famoso por apoiar profissionais novatos. Agora, o público poderá se assustar de verdade com a versão em longa metragem do trabalho dos Muschietti, realizada com o apoio do mexicano, que também foi o produtor executivo.

"Chegou a hora", diz Andres. "O curta é de 2006 e só depois de um ano resolvemos levar a pós-produção adiante, já que eu normalmente só fazia comerciais. Foi lançado em 2008. Na verdade não era nem um curta, mas sim um exercício do estilo que estava usando para promover outro filme."

"Era um longa chamado 'The Yearning'", ele continua. "Bom, também não era um longa e sim um roteiro que eu estava escrevendo com a minha irmã. Era uma história de fantasmas, mas não tinha nada a ver com 'Mama', a não ser o estilo. Aí o Guillermo se envolveu e a coisa começou a andar."

"Mama" conta a história de duas garotinhas que desaparecem depois que seus pais são assassinados. As irmãs Victoria (Megan Charpentier) e Lilly (Isabelle Nelisse) sobrevivem, passando cinco anos na floresta. Quando são encontradas num chalé abandonado, vão morar com o tio, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), e a namorada dele, Annabel (Jessica Chastain), que faz o possível para ajudar as meninas a se acostumarem com o novo ambiente, aos poucos criando com elas laços maternais.

Porém, uma entidade fantasmagórica ronda a casa e começa a ficar cada vez mais furiosa. Seria a verdadeira mãe, já morta, querendo proteger suas filhas?

"Esse filme é um suspense sobrenatural com emoção", explica Muschietti, por telefone, de sua casa em Barcelona. "Significou muito para mim realizar um filme que envolve o público emocionalmente. Adoro filme de terror, mas nem todos são bons e nem todos são comoventes. Meu objetivo era assustar, mas também envolver a plateia porque é isso que o diferencia dos outros."

"Para mim, um dos detalhes interessantes é que temos uma vilã, sim, mas só por uma questão de ponto de vista", defende ele. "Ao ver o filme, você percebe que Mama não é má. Você caracteriza todos os malvados de todos os gêneros porque eles têm um objetivo, necessidade ou obsessão, e para alcançá-lo precisam causar dor e ferir os outros; nesse caso, a única coisa que Mama quer é ficar com as filhas, tirá-las daquela gente que também as quer."

"Essa é a tensão da história", prossegue Muschietti, "e é também o que a diferencia do curta, no qual Mama era um enigma. Todas as dúvidas e questões que levantei nele, tive que responder depois. Tudo bem brincar com os mistérios, mas é preciso resolvê-los. O que eu fiz foi recriar a tensão ao longo do filme e responder às questões que ele levanta".

E o que não falta a Mama é tempo de tela: Javier Botet, um ator espanhol de mais de dois metros de altura, encarnou a personagem no curta e volta na nova versão. Muschietti complementou sua interpretação com próteses no set e depois com efeitos de computação gráfica, para criar o efeito que queria.

"Basicamente eu quis criar o mistério de Mama", revela Muschietti. "Você tem que dar algumas dicas, mas não queria ser explícito, pelo menos durante três quartos do filme. Como desenvolvi o roteiro com o Guillermo, começamos a desvendá-la aos poucos. Acho que uma das características dele que mais dá para notar é essa, a de mostrá-la um tico a mais para aumentar a tensão."

"Você assistiu a 'O Enigma do Mal?'", pergunta Muschietti, referindo-se ao filme de Sidney J. Furie de 1982 estrelado por Barbara Hershey e Ron Silver. "É um dos meus filmes de fantasma favoritos. Você não vê nada, principalmente porque o negócio é invisível. Por isso era tão importante que Mama não fosse vista durante a maior parte do tempo, embora Guillermo – que é um ótimo companheiro de trabalho e me abriu muitas portas – tenha me convencido a revelar mais do que eu pretendia a princípio."

O bom desempenho da produção --que já arrecadou US$ 127 milhões em todo mundo, quase dez vezes seu custo--, pode ser sua chave de entrada para Hollywood. O cineasta reconhece que agora está mais interessado em fazer filmes e ansioso para saber o que o futuro lhe trará.

"Sinto que tenho muito a oferecer nesse gênero e gostaria de revisitá-lo", ele confirma. "Fantasma é a coisa que mais me assusta no mundo do terror e, com certeza, gostaria de criar outra história em cima disso."

"Também sou fã de ficção científica", ele prossegue. "E fiz carreira injetando humor nos meus comerciais, ou seja, curto comédia. E musicais."

"Acho que deu para entender, né?", ri Muschietti. "Eu adoraria fazer qualquer um desses gêneros e não tenho medo de fundi-los."

"Uma das minhas ideias é fazer um musical de terror, mas ainda não comecei a trabalhar nela."

(Ian Spelling é jornalista freelancer de Nova York.)