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No Rio, Vincent Cassel lança "Em Transe" e diz que deve filmar com Cacá Diegues

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

29/04/2013 18h25

Há quatro meses morando no Rio de Janeiro, o ator francês Vincent Cassel, de 46, já se considera um cidadão carioca e gosta de viver a vida como qualquer morador da cidade do Rio. Em uma conversa descontraída com jornalistas, Cassel se disse fã da cultura brasileira e, já com um trejeito de sotaque brasileiro, disse que saiu da França “fugindo do astral ruim” no país.

“O momento agora na França é difícil por causa da crise e por causa desse governo perdido, uma esquerda que não existe, uma esquerda caviar. O clima agora na França é ruim, negativo. Eu estava fugindo disso mais que tudo. Se eu não estivesse morando aqui no Rio, estaria em Nova York, é outro lugar que eu gosto. Hoje sou residente brasileiro, tenho até CPF”, sorriu o ator, que passa grande parte do tempo no Brasil.

Aproveitando que vive no Brasil, Cassel lançou nesta segunda-feira (29) o suspense “Em Transe”, de Danny Boyle (“Quem Quer Ser um Milionário?”), que estreia no Brasil nesta sexta (3).

O longa conta a história de Simon (James McAvoy), um negociante de arte que se envolve em um grupo de criminosos, mas após uma crise de amnésia, se esquece de onde escondeu uma pintura valiosa. Vincent Cassel vive Frank, o líder do grupo que, ao perceber que Simon é incapaz mesmo sob tortura de se lembrar, contrata uma hipnoterapeuta (Rosário Dawson).

Cassel, que já estrelou "Cisne Negro" (2011), conta que, depois de tantos papeis de gângster no cinema, neste de Danny Boyle decidiu fazer um criminoso “mais normal, mais homem de negócios, um gângster simpático”. “Eu sempre fiz muito gângster na minha carreira. Eu gosto e a culpa é minha”, brincou.

A próxima produção que atua é a “Bela e a Fera” de Christophe Gans, diretor de “O Pacto dos Lobos”, que será a maior produção francesa do próximo ano.

TRAILER DO FILME "EM TRANSE"

Filmar com Cacá Diegues
Cassel quer aproveitar sua estadia no Brasil para desenvolver projetos com diretores e atores brasileiros. Sua primeira experiência foi o “À Deriva”, de Heitor Dhalia (2009).

Até o momento, o projeto que está prestes a sair do papel é com Cacá Diegues, que deve acontecer ainda este ano. Sem dar muitos detalhes, Cassel adianta que se trata de uma “história bem brasileira” e que deve ser filmado em parte na Europa, em parte no Brasil.

Há alguns anos, Cassel começou a tocar um projeto ambientado no Carnaval carioca e no mundo do samba, mas o diretor, que seria Kim Chapiron (“Dog Pound”, “Satã”) – deixou o filme. “Mas se Deus quiser vai, como se fala aqui”, comentou.

Cassel assegurou que gostaria de fazer um filme falando português e enumerou uma lista de artistas brasileiros que admira. “Gostaria muito de trabalhar mais em português. Tem um monte de atores que eu gosto. Lázaro Ramos é um dos atores brasileiros mais carismáticos. O Seu Jorge é um puta ator e puta cantor. Eu adoro Seu Jorge, já fui muitas vezes no show dele. Para mim, ele é a MPB moderna e tem um jeito de sambista antigo”, destacou.

Na sua lista estão também Wagner Moura e Selton Mello. “Eu conheço menos atrizes, trabalhei com Deborah Bloch, que estava maravilhosa [em "À Deriva"]. No mercado internacional, eu sempre falei para a Laura Neiva que ela tem que trabalhar o inglês se quer sair do país para fazer cinema”.

Para Cassel, talentos não faltam, mas o problema é dinheiro. “Aqui o dinheiro vai para a televisão e não para o cinema”. Ele admitiu que não pensa em fazer novela e não gosta de ser famoso e muito menos assediado.

“As pessoas gostam muito de ser famosas. Uma estrela da novela não pode caminhar na rua. Eu gosto muito do Cauã Reymond, mas não posso caminhar com ele. Não quero isso. A liberdade é mais importante que tudo. Se você está cortado do mundo, ser famoso por quê? Para ficar sozinho no seu Land Rover?”, questionou.

Estilo carioca
No Rio, o francês vive próximo da praia de Ipanema com a esposa, a atriz italiana Monica Bellucci, 48 ("Matrix", "As Idades do Amor"). O casal trouxe suas duas filhas, Deva, 9, e Leonie, 3.

Sobre a vida no Brasil, Cassel já disse estar adaptado. “Eu conheço o Brasil há 25 anos, antes da eleição do Collor”, brincou. “Minhas filhas falam português melhor que eu, sem sotaque nenhum, eu até tenho ciúmes às vezes. Elas cantam, sambam, dançam funk. A  Monica está melhorando, é mais fácil entender que falar”.

“A minha vida é mais ou menos a mesma que a de vocês cariocas. Ainda não fui muito à praia, mas gosto de caminhar na orla, tomar um chope com os amigos. Tenho moto e uma das coisas que eu gosto de fazer aqui é me perder de moto”.

Já conhecedor do estilo carioca, Cassel também é crítico do jeito do brasileiro. “Aqui no Rio tem uma parte da sociedade super fofoqueira. Sabendo que aqui nesse país tem coisas dramáticas acontecendo todo o dia, é estranho essa desconexão total da realidade. É muito estranho para mim que sou gringo. As pessoas ricas aqui no Rio gostam de chamar a atenção e de se mostrar”.

A escolha pelo Rio de Janeiro se deu pelas facilidades que a cidade oferece. “Não iria sair da França para morar em São Paulo, é cinza, tem trânsito pra caraca e não tem mar. Eu queria uma qualidade de vida melhor. Gosto de Salvador, fui para lá durante muitos anos, mas não dá, é uma bagunça terrível e agora virou um lugar violento. E o Rio tem escola internacional para as crianças, tem um aeroporto internacional para sair e voltar de um jeito mais fácil”.

Questionado se pretende pedir cidadania brasileira, ele brincou: “Eu tô chegando, sou muito francês na verdade, isso não vai mudar. Mas sou residente, estou morando só há quatro meses”.