Topo

"Amor Profundo" retrata conflitos com "silêncios" e diálogos contundentes

Mariana Pasini

Do UOL, em São Paulo

09/05/2013 20h40

"Amor Profundo" é uma produção marcada por muitos momentos de silêncio, mas a força do filme está mesmo nas conversas travadas pelos seus personagens. O longa dirigido por Terence Davies que estreia nesta sexta-feira (10) no circuito nacional permite que os atores Rachel Weisz, Tom Hiddleston e Simon Russell Beale entreguem atuações contundentes através de diálogos simples mas incisivos e trejeitos próprios, que passam ao espectador a exata noção do desespero ou alegria de seus papéis.

A produção lembra muito a atmosfera de uma peça de teatro, com poucos atores e cenários singelos, e o clima "de palco" não é para menos. O filme é baseado na peça “The Deep Blue Sea”, de 1952, do dramaturgo inglês Terence Rattigan. Na Inglaterra, o filme é homônimo à peça.

A trama não é exatamente original. Hester Collyer, papel de Weisz, é a entediada esposa inglesa de William Collyer (Beale), um juiz mais velho que ela. Hester tem conflitos com a sogra e parece apenas conviver com o marido num cotidiano sem muitas surpresas. É no personagem de Hiddleston, o ex-piloto de guerra Freddie Page, que ela encontra uma válvula de escape para sua vida tediosa, mas também alguém que ama e para quem realmente quer se entregar. Ao ser confrontada pelo marido, ela será insensivelmente direta ao explicar o que sente e o que quer dali para a frente.

O que torna a história da mulher traidora tão interessante é a simplicidade e a densidade que Davies combina para retratar as agitações internas de cada personagem e os conflitos subsequentes, dispensando até cenas picantes ou de violência. William, por exemplo, pergunta à sua mulher: "O que aconteceu com  você?', ao que ela responde, simplesmente: "O amor, Bill. É só". Page, por sua vez, não hesita em apresentar sua versão para as exigências de Hester: "Não posso ser Romeu o tempo todo!".

VEJA TRAILER LEGENDADO DE "AMOR PROFUNDO"

O aposto de cada um é relativamente simples: Hiddleston é um piloto que nunca superou a guerra – ele vive em 1940, como Hester bem define – ; Hester é uma esposa de classe média que encontra no amante uma razão para viver; William é um esposo apaixonado que se recusa a libertar a mulher traidora e a parar de encontrar-se com ela. É a combinação desses comportamentos e caracteres que complica e dá sentido à trama: eles não podem conviver na situação que criaram por muito tempo.

Hester não esperava, por exemplo, que viriam à tona tantos embates com o amante, tornando a relação algo muito complicado para sustentar – e ainda mais para abandonar. A solução virá lenta e silenciosamente ao longo do filme. A fotografia de época, como se o filme tivesse realmente sido gravado na década em que se passa (1950), que pode lembrar um filtro do Instagram, também ajuda a ambientar a trama.

Tom Hiddleston dá um espetáculo à parte: vai da animação à tristeza e do amor ao desprezo num pulo. De Rachel Weisz, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “O Jardineiro Fiel”, já era possível esperar coisas boas. Mas o ator mais conhecido pelo público pelo papel do vilão Loki em “Os Vingadores” e “Thor” prova que é mais do que um intérprete de blockbusters.

Além dos diálogos, o silêncio é cortado por poucas músicas, mas que quando surgem são dominantes, tornam-se quase personagens independentes, e que causam um susto depois de tanta quietude. Algumas canções, típicas de pubs britânicos, dão sentido à nacionalidade do local. Um dos momentos mais emocionantes, porém, não tem diálogos, e a falta de música traduz de forma terrível como o fim de um relacionamento pode ser devastador.