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Vin Diesel diz que 1º "Velozes e Furiosos" é "clássico" e relembra filmagens no Rio

Eduardo Graça

Do UOL, em Cabo San Lucas (México)*

23/05/2013 17h19

Vin Diesel, produtor e estrela de “Velozes e furiosos 6”, que estreia nesta sexta (24) nos cinemas brasileiros, não se avexa em comparar sua franquia bilionária com uma das marcas registradas de Sylvester Stallone, a cinessérie “Rocky”. Foi o receio de fazer sequências menos eletrizantes – o ator  considera o primeiro “Velozes” (2001) “um clássico” – que fez Diesel deixar seu personagem, Dominique Toretto, em segundo plano até o retorno triunfal no quarto filme, em torno de um grupo de anti-heróis, sempre às voltas com a lei, ases em pilotar e destruir carros. É ele quem dá as rédeas em “Velozes 7”, com previsão de estreia em julho de 2014.

Para Michelle Rodriguez, "Velozes" é a única franquia hollywoodiana com protagonistas do "gueto"

  • Divulgação

    Michelle Rodriguez é mais parecida com Letty Ortiz do que se imagina em um primeiro momento. Sentada na varanda da suíte do hotel de luxo, ela parece fora de contexto, desviando o olhar do sol, movendo-se de costas para o azul do Pacífico mexicano e enterrando a cabeça pescoço abaixo. Quando percebe a chegada do repórter inicia a conversa com um "Respecto!" e fala, com velocidade impressionante, alternando o espanhol com forte sotaque caribenho --parte de sua família é porto-riquenha, parte dominicana-- e o inglês apreendido tanto no Texas natal quanto nas ruas de San Juan e no subúrbio de Nova Jersey, seus principais endereços nos dias de juventude.

    "Amo a Letty. Ela representa para mim a menina que se criou nas ruas. Da menina que surgiu depois que minha avó, religiosa da Testemunha de Jeová, nos deixou e saímos da República Dominicana, onde tínhamos algum conforto, para viver às custas do serviço social nos EUA. Ela me lembra da realidade dura dos guetos americanos, das meninas aprendendo a falar palavrão e tendo filhos com 14, 15 anos. Não é tão distante assim da vida nas favelas do Rio", diz.

    A atriz, que volta às telas este ano como a Luz, personagem de outra franquia barra-pesada, “Machete”, de Robert Rodriguez, revela a paixão pelo Brasil em um dos momentos de inspiração para a reencarnação de sua Letty em “Velozes 6”. A emoção da personagem --que reaparece intacta, mas desmemoriada, ao lado das forças do vilão Shaw-- já era encontrada nos vídeos gravados por Diesel em sua passagem pelo Brasil. É de Letty a fala “parece que a temperatura no Rio é ideal nesta época do ano”, em “Velozes 4”, uma indicação de onde a trama se desenrolaria na sequência da franquia.

    "Os cariocas deram tanto amor a ele. Foi tão 'cool'. Acho que todos estamos cansados de ver cenas de rua em Hollywood serem apenas sobre apreensão de drogas e mortes de traficantes e usuários e prisão de prostitutas. Pense na mistura, nas possibilidades de interação, na riqueza cultural do Rio ou de Nova York. Estamos todos na mesma merda, juntos. Somos todos mais ou menos pobres, mais ou menos sobreviventes, enfrentando o caos nosso de cada dia. É esse o espírito que queríamos trazer para a tela. O espírito dos guetos não só americanos, mas ocidentais".

    As semelhanças da cultura das ruas americanas e do mundo afora, um fenômeno cada vez mais veloz devido à globalização e à natureza do capitalismo contemporâneo, são, aposta Rodriguez, as razões principais para o sucesso global de "Velozes e Furiosos".

    "Por conta de Hollywood, como sabemos, os EUA cunharam a imagem do capitalismo mundo afora. As ruas do sul do planeta recebem os mesmos valores do capitalismo liberal, mas sejamos francos, o recebem enquanto possibilidade de consumo. Nós tentamos mostrar no filme um pouco de como as ruas do planeta tentaram se apropriar, de forma mais ou menos subversiva, da indústria do luxo, dos carros, em busca de uma possível inclusão. Fica meu desejo de que o desejo dos excluídos ultrapasse o limite do consumo e chegue na vontade de se ficar mais inteligente, mais culto".

    A bela atriz de 34 anos jura não exagerar ao estabelecer uma conexão entre o tamanho do público de "Velozes e Furiosos" e a sensação mundo afora de pessoas serem tratadas por seus líderes como "pagadores de imposto" e não como cidadãos.

    "Há uma certa rebelião mundo afora. Estas pessoas se sabem relegadas, sem qualquer acesso aos benefícios da classe média e se identificam com nosso filme. Muita gente em Hollywood nos critica, diz que batemos na mesma tecla, que a trama é ridícula, mas, queridos, vocês estão deixando de enxergar o óbvio: em um mundo ocupado por super-heróis ricos e em quase sua totalidade caucasianos, esta é a única franquia cujos protagonistas não são bem-nascidos, são de todas as etnias possíveis e representam o caubói urbano globalizado como ninguém. Quem mais faz isso?".

Não por acaso, a revista “Entertainment Weekly” colocou na capa de sua edição Diesel, Paul Walker, Dwayne Johnson, Michelle Rodriguez e toda a "família" (como são chamados o tempo todo pelos atores, na tela e fora dela), elegendo “Velozes” a mais improvável franquia de sucesso da Hollywood contemporânea, com seus personagens oriundos das ruas dos EUA (“trazemos para a tela o espírito dos guetos não só americanos, mas ocidentais”, diz Michelle Rodriguez, a Letty, em entrevista exclusiva ao UOL) e sua estética, assumidamente, vá lá, "clássica", sem namoros com o 3D ou efeitos especiais mais sofisticados. Para Diesel, esta "autenticidade" é um dos segredos dos US$ 1,605 bilhão arrecadados pela franquia até agora, de acordo com o site especializado Box Office Mojo.

Depois da aventura brasileira – “O grande momento de minha carreira em Hollywood foi filmar em uma favela no Rio”, diz Diesel – Dom e Brian (Paul Walker) querem relaxar e aparecem felizes, ao lado de Mia (Jordana Brewster) e da agente brasileira Elena (Elsa Pataky, mulher na vida real do ator australiano Chris Hemsworth, o "Thor"), em um refúgio das Ilhas Canárias, de onde não podem ser extraditados para os EUA. Mas o vilão da vez, o misterioso Shaw, vivido pelo galã britânico Luke Evans (o Apolo de “Fúria de Titãs” e o Zeus de “Imortais”, finalmente liberto da mitologia grega), dá motivo para o agente Luke Hobbs (Dwayne Johnson) convocar toda a gangue para uma batalha nas ruas de Londres e em uma base militar na Espanha.

Em conversa com o UOL em um hotel paradisíaco na Baixa Califórnia mexicana, Diesel, 45, músculos à mostra em uma camiseta branca com gola marinheiro azul-escura, falou sobre sua relação com a franquia, com o Rio e com um certo Dom Toretto. (Atenção, a entrevista abaixo revela detalhes da trama)


UOL - No início de “Velozes 6” há uma sequência de imagens clipadas dos outros filmes, com belas tomadas do Rio de Janeiro. Há menção ao Brasil, quase sempre de forma, digamos, jocosa. O quão importante foi ter o Rio como cenário para a franquia?
Vin Diesel - Não posso dizer em palavras o quanto eu amo o Rio. Amo, amo, amo. Filmar em uma favela carioca foi o momento mais importante de minha carreira, indiscutivelmente. Sempre sonhei em ir ao Rio e foi uma loucura o que vi lá. “Velozes 5” é, para mim, um filme carioca. Talvez por isso mesmo tenha sido o de maior sucesso de toda a cinessérie. Queríamos algo sexy, carnavalesco, divertido, completamente distante da tensão, da coisa para baixo de Los Angeles e dos cartéis mexicanos do quarto filme. Também achei que, no Rio, estava fazendo algo que Hollywood nunca havia feito.

A que o senhor se refere exatamente?
Todo mundo sabe que a cidade é linda, mas é tão linda que, às vezes, o calor humano do carioca é deixado de lado para se tecer loas, óbvias, e reais, à beleza física, tanto da cidade quanto de seus moradores. O que fizemos de original, em termos de Hollywood, de uma grande produção, não de algo independente, mas escancaradamente parte da indústria do cinema americano, foi trazer a credibilidade e o respeito de quem veio do gueto para celebrar personagens vistos como fora da lei em um ambiente muitas vezes também percebido pelos de fora da mesma maneira. Ter sido recebido pelos moradores com aquela festa, com aquela identificação, foi a melhor confirmação de que estamos fazendo algo certo com nossa história, que ela tem seu lugar no cinema comercial contemporâneo. Não vamos parar tão cedo.

Na apresentação especial que fez antes de o filme ser exibido, o senhor disse que a principal razão de ser de “Velozes 6” se chama Michelle Rodriguez, cuja personagem tínhamos dado como morta desde “Velozes 4”...
Sim. Honestamente, eu nunca pensei que “Velozes e Furiosos” chegaria à sua sexta edição. Quando terminei o primeiro filme, saí determinado a não participar de eventuais sequências. Tinha quase certeza de que os filmes números 2, 3 e 4 acabariam arruinando o que conquistamos com o primeiro.

Mas esta é mesmo uma regra?
Olha, quando pensamos no que aconteceu com a maioria das franquias nos anos 1980 e 1990, meio que é, né? Elas acabavam necessariamente diminuindo o impacto do primeiro filme. O exemplo mais clássico é “Rocky - Um lutador”. O filme de 1976 é sensacional. Os outros foram até bons, mas perdem em estilo para o original, acabam diminuindo o impacto do filme original. Meu medo era o de que o público deixasse de ver o quão clássico é o "Velozes" original. Mas o público não estava nem aí. Eles já haviam decidido que eram donos do Dom e queriam ver a continuação daquela história.

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Todo mundo sabe que a cidade é linda, mas é tão linda que, às vezes, o calor humano do carioca é deixado de lado para se tecer loas, óbvias, e reais, à beleza física, tanto da cidade quanto de seus moradores.

Vin Diesel, sobre filmar "Velozes 5" no Rio

Daí a sua participação em “Desafio em Tóquio”...
Exatamente. E aí eles me disseram: "olha, você recusou os outros filmes, e se você também fosse o produtor agora?". E aí o jogo começou de novo em 2009 com “Velozes e Furiosos 4” (curiosamente, nos EUA, o filme marca de fato, em seu título, um recomeço da franquia, chegando aos cinemas como “Fast & Furious”, apenas, sem o artigo "The" do original de 2001). Ali teria muito mais controle. Imediatamente depois de "Tóquio" comecei a trabalhar com os dois roteiristas em cima do que seria uma nova proposta de trilogia.

E o que o senhor queria mudar na história da "família"?
Quando começamos a conversar, eu estava na República Dominicana (Diesel é um nova-iorquino descendente de latino-americanos, negros e italianos) trabalhando na escola de cinema que apoio em Santo Domingo. Eu queria levar para o universo pop de “Velozes” a cultura do reggaeton, aquele mix de dancehall, salsa, hip-hop latino e música eletrônica que era o som das ruas da cidade e em Hollywood ninguém nem sabia do que se tratava. Queria trazer aquele universo para a tela, e que ele fosse multi-étnico. Que ele tivesse um certo sabor de alguém que vive do lado leste das Américas, baseado em Nova York, olhando para o sul.

Meu medo era o de que o público deixasse de ver o quão clássico é o "Velozes" original.

Vin Diesel, sobre sua hesitação inicial em transformar "Velozes" em franquia

E com uma dívida enorme com os anos 1980, não?
Sim, com toda razão. Nos anos 1980 eu fui dos primeiros em Nova York a cair no break. Entrei fundo na cultura do breakdancing, dançando nos clubes da cidade frequentado pelas grandes estrelas do cinema mundial, que nada sabiam da cultura das ruas da cidade. Esta credibilidade das ruas, do filme que vem, que nasce, de quem passou pelas dificuldades comuns dos bairros mais pobres dos centros urbanos das grandes metrópoles ocidentais, é o sustentáculo da franquia. É o que nos dá fôlego.

Trailer legendado do filme "Velozes e Furiosos 6"

O senhor nunca pensou em incorporar “Velozes” à onda 3D ou ao festival de inovações tecnológicas de Hollywood nas últimas décadas?
Não. Mas o novo “Riddick” (franquia também protagonizada por Diesel, que estreia em outubro no Brasil) poderá ser visto em Imax, produzimos já com esta intenção. Em “Velozes” a cinematografia não foi jamais meu foco, sempre deixei isso com o estúdio (Universal). De qualquer forma, evoluímos neste aspecto também. Se no original tínhamos apenas dublês, contamos com computação gráfica desde “Velozes 5”. Mas o importante, para a trama, são os personagens, daí a questão, lá atrás, que eu acabei não respondendo, de fazer o “6” por conta da Letty, da Michelle. Minha preocupação era tentar finalmente desenvolver a história de amor deixada para trás no primeiro filme.

Eu queria levar para o universo pop de “Velozes” a cultura do reggaeton, aquele mix de dancehall, salsa, hip-hop latino e música eletrônica que era o som das ruas da cidade e em Hollywood ninguém nem sabia do que se tratava.

Vin Diesel, sobre as mudanças que levou para "Velozes" como produtor

O primeiro filme foi claramente uma tentativa de se criar uma franquia a partir do personagem de Paul Walker, que no “6” aparece feliz com o exercício da paternidade ao lado de Jordana Brester, sua irmã no filme. Agora o público vê Dom entre Elena e uma nova Letty...
Quando o primeiro filme foi lançado, em 2001, lembro de ler artigos dizendo ser um crime a relação entre Dom e Letty aparecer em segundo plano. Fiquei com aquilo na cabeça. E estava esperando este momento para resolver a história dos dois. Não havia sentido a continuidade da saga sem o reencontro dos dois.

“Velozes 6” também traz a novidade de um vilão britânico de olhos azuis. O senhor disse ontem no cinema que Luke Evans será o novo James Bond. Imagino que já deva ter conversado com Daniel Craig sobre o tema...
Eu e minha boca grande! Que merda! Ah, cara! Eu falei, né? O Daniel assinou para outros filmes? Olha, não importa, o que quis dizer é que Luke seria um grande Bond, no futuro. No futuro, ok? Comecei a campanha agora.

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O que quis dizer é que Luke [Evans] seria um grande Bond, no futuro. No futuro, ok? Comecei a campanha agora.

Vin Diesel, sobre comentário de que Luke Evans deveria ser o novo James Bond

Mas esta foi a ideia, criar um inimigo à la Bond?
Foi. Em “Velozes 5” queríamos algo “Fúria de Titãs”, King Kong contra Godzilla. Algo assumidamente estúpido, puxando pelo básico do corpo a corpo, encontrando alguém mais forte do que Dom, outra força formidável, o agente Luke de Dwayne, a antítese do traficante Braga de “Velozes 4” (e que volta no sexto filme). Agora queríamos trocar o Rio por Londres, e algo mais cerebral, mais "bondesco" mesmo. Alguém que possa encontrar na ideia de "família", tão importante para a nossa franquia, tão importante para o universo latino, das ruas, dos guetos, a fraqueza de Dom.

E assim nasce Shaw...
Isso. Este personagem que desafia tanto o filme quanto a plateia. É a primeira vez que questionamos: mas não será justamente o afeto, a união entre estes personagens, a fraqueza deste grupo?

Tenho hoje 42 milhões de fãs me seguindo nas redes sociais. Com tanta gente prestando atenção no que estamos fazendo, resolvi aproveitar o fato e perguntar qual seria a novidade mais interessante para um próximo filme, que me dessem uma sugestão sobre o ator e o tipo de inimigo ideal para o Dom.

Vin Diesel, sobre a participação de Jason Statham no final de "Velozes 6"

Mortes esperadas e inesperadas, além de uma quase ressurreição, marcam “Velozes 6”. O filme termina com uma ponte óbvia para “Velozes 7”. Quem é exatamente Ian Shaw, o personagem vivido por Jason Statham que aparece no fim do filme?
Tenho hoje 42 milhões de fãs me seguindo nas redes sociais. Com tanta gente prestando atenção no que estamos fazendo, resolvi aproveitar o fato e perguntar qual seria a novidade mais interessante para um próximo filme, que me dessem uma sugestão sobre o ator e o tipo de inimigo ideal para o Dom. Cerca de dez nomes ficaram ali na casa dos 300 apoios cada. Statham foi o preferido por mais de 1.200 fãs, ou seja, eu tinha de convencê-lo a vir para o “Velozes”, para realizar a fantasia das pessoas. A química que tivemos em Londres, quando ele chegou no set, foi imediata. E seu Ian é o irmão mais velho e mentor do personagem de Luke Evans. “Velozes 7” começa a ser filmado no mês que vem, em Los Angeles.

E o tema central, desta vez, imagino, será vingança.
Sim. E com toda família no elenco.

* O repórter viajou a convite da Universal Pictures