"A Memória Que Me Contam" mostra conflitos de geração da ditadura
As angústias e conflitos de uma geração que sobreviveu a torturas durante o regime militar no Brasil são exploradas em "A Memória Que Me Contam", novo filme de Lúcia Murat, uma diretora ligada ao drama que os personagens sentem, já que ela mesma passou pela repressão da ditadura. O filme foi exibido em 2012 na 36ª Mostra de Cinema de São Paulo e no Festival de Tiradentes.
Reunidos por conta da iminente morte de Ana, uma ativista que viveu com sequelas depois de ter sido torturada, um grupo de amigos reflete sobre a época que viveram, revelando ao espectador todo tipo de contradição e emoções que os personagens, todos acima de 50 anos, sentem.
Irene Ravache retorna à parceria com Lúcia Murat quase 25 anos depois do lançamento de "Que Bom Te Ver Viva", longa de estreia de Murat e que também abordava a temática da ditadura, ainda que com um formato mais documental.
TRAILER DE "A MEMÓRIA QUE ME CONTAM"
Entre os amigos também está o ministro da Justiça José Carlos, interpretado pelo experiente Zé Carlos Machado, que é confrontado pela opinião pública por conta dos documentos ainda não revelados referentes à ditadura. Mesmo distante dos companheiros por conta dos deveres como político, o personagem mostra os mesmos conflitos e reflexões internas dos amigos.
Parte sobre o que refletem os personagens é o conflito entre a visão política que possuem com a dos jovens, encarnados especialmente pelos atores Miguel Thiré e Patrick Sampaio, filhos da geração anterior. Com personagens homossexuais, eles representam uma contestação dos valores dos pais -- incluindo o preconceito velado, algo inesperado de um grupo de pessoas tido como intelectualizado.
Já Simone Spoladore interpreta a versão jovem de Ana, uma memória com a qual dialogam amigos e parentes, sempre calma e pronta para analisar a vida que os resistentes tiveram entre uma baforada e outra de seu cigarro também virtual. Inspirada na militante Vera Sílvia Magalhães, amiga pessoal de Lúcia Murat e vítima da ação, a atriz é o elo de ligação entre todos no longa, servindo como espírito crítico para suas ações e reflexões.
O filme também traz pequenas críticas à mídia e mostra como uma mensagem pode ser confusa quando transmitida durante o telejornal. Uma das cenas traz o personagem de Zé Carlos Machado tendo suas palavras deturpadas por conta da edição de uma reportagem de televisão. A mensagem chega aos velhos amigos do político, que reagem de forma variada ao que ele diz.
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