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"Eu era o americano ingênuo e ela, a europeia louca", diz Ethan Hawke sobre Julie Delpy

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

13/06/2013 06h00

O que começou em 1994 com um teste de elenco entre dois atores de 20 e poucos anos, dando seus primeiros passos como profissionais adultos, tornou-se, ao longo dos anos, uma parceria criativa que gerou três filmes de sucesso: "Antes do Amanhecer" (1995), "Antes do Pôr do Sol" (2004) e "Antes da Meia-Noite" (2013).

Em entrevista ao UOL, Julie Delpy e Ethan Hawke contam que a parceria profissional também se transformou em uma sólida amizade.

  • Divulgação

    De cima para baixo, cenas de "Antes do Amanhecer" (1995), "Antes do Pôr do Sol" (2004) e "Antes da Meia-Noite" (2013)

UOL - Como o relacionamento entre vocês dois evoluiu ao longo desses 18 anos?
Julie Delpy -
Desde o começo houve uma conexão criativa muito forte entre nós dois. E, mais importante até, com Richard  [Linklater, diretor]; ele é essencial no projeto criativo. Todos os filmes são o resultado do trabalho de nós três, e temos essa felicidade de, no momento em que nos reunimos, imediatamente nos conectamos num nível criativo. São muitas ideias, uma  atrás da outra. Richard me escolheu, 18 anos atrás, porque viu a sintonia que eu tinha com Ethan. Ele tinha testado muitas outras atrizes, mas imediatamente me ofereceu o papel. E da mesma forma eu senti uma conexão instantânea com os dois. Nosso relacionamento é o mesmo ao longo desse tempo. Nós é que fomos crescendo, amadurecendo, evoluindo como pessoas.

Ethan Hawke - Julie e eu temos muita coisa em comum. Nós dois começamos a atuar muito jovens. Ela fez um filme de Godard quando tinha 13 anos, eu fiz "Explorers", do Joe Dante, mais ou menos com a mesma idade. A diferença é que, quando finalmente nos encontramos e começamos a trabalhar, ela era uma atriz muito mais madura e experiente, com muito mais conhecimento de cinema. Ela já tinha trabalhado com Volker Schlondorff, Kozlowski... A dinâmica entre nós sempre foi perfeita, e serviu muito bem nossos personagens: eu era o americano meio ingênuo e ela, a europeia meio louca. Essa dinâmica permaneceu ao longo dos anos e dos filmes. Acho que, aos olhos dela, ainda sou o adolescente americano meio bobo (risos) E, claro, outro traço de união entre nós é Richard. Ele é que, esses anos todos, tem nos provocado e empurrado na direção da verdade, da autenticidade.

O que você aprendeu sobre Ethan e sobre os homens com esses três projetos em comum?
Julie -
Eu acho que aprendi mais sobre os homens em geral. O processo de criar os personagens e a evolução deles nos obrigou a abrir nossas almas um para o outro, sem segundas intenções. Num relacionamento de verdade, em geral, há sempre alguma coisa por trás das interações de um casal. Neste trabalho, não. E é maravilhoso. Desenvolvi uma grande empatia com os homens. Acho que compreendo os homens muito bem. As mulheres são complicadas, mas os homens também. Eu só poderia ter escrito o roteiro de "2 Dias em Nova York" (2013) com o conhecimento que ganhei neste trabalho. A colaboração que Ethan e eu temos é muito especial. É uma amizade verdadeira.

TRAILER LEGENDADO DE "ANTES DA MEIA-NOITE"

O que você aprendeu sobre Julie e sobre as mulheres com esses três projetos em comum?
Ethan -
Eu aprendi muito. Eu não ia dizer isso, mas aprendi muito mais do que eu achava que tinha aprendido quando era jovem. Minha amizade com Julie realmente foi o que me fez conseguir ver o mundo pelos olhos de uma mulher. Eu acho difícil uma amizade verdadeira entre homens e mulheres, mas nós dois criamos uma intimidade entre nós que, para mim, é a marca de uma amizade verdadeira. Graças a Julie, eu realmente pude compreender os sentimentos complicados que são parte de um relacionamento. E ganhei um respeito tremendo pelas mulheres. É muito difícil ser mulher neste ambiente, nesta indústria.

Vocês se consideram românticos ou pragmáticos?
Julie -
Sou as duas coisas. Sou romântica, mas minha vida tem raízes profundas na realidade. Não sonho com coisas impossíveis. Ser romântica, para mim, não quer dizer cobrir a cama com pétalas de rosas todos os dias ou ser felizes para sempre. Quer dizer felizes depois de algumas brigas, depois dos problemas, depois das dificuldades.

Ethan - É impossível fazer estres três filmes e não ser, no fundo, um romântico absoluto. Para mim, o desafio destes filmes é ser honesto a respeito do romantismo. Tudo começa de um modo tão mágico, dois estranhos num trem, em suspenso, sem ter que pensar nas banalidades da vida. Neste terceiro filme, os dois estão na realidade, nas partes mais difíceis do romance. O que descobri escrevendo e atuando nestes dois filmes é que o romance é, claramente, minha obsessão.