Renovado, Superman volta com fúria no filme "O Homem de Aço"
No clímax de "O Homem de Aço", reinvenção cinematográfica do herói pelas mãos de Zack Snyder, David Goyer e Christopher Nolan, Superman enfrenta o General Zod em uma batalha de superseres jamais vista no cinema. Em outras palavras: o número de corpos nos destroços é imenso, a destruição é quase interminável. Imagine o clímax de "Os Vingadores" turbinado por um Michael Bay em escala maior do que no terceiro "Transformers". É alto, barulhento, supersônico, muitas vezes nem dá para ver o que acontece. E é sensacional!
Afinal, este não é o Superman a que estamos acostumados. Não é Christopher Reeve, nem Bryan Singer, muito menos o dos Novos 52 nas HQs. E nem deve ser mesmo. Com 75 anos de história, o Último Filho de Krypton é ideal para ser reinventado e, principalmente reinterpretado. O trabalho de Snyder, escolhido para dirigir a aventura depois de criar universos ultra estilizados em "300", "Watchmen" e "Sucker Punch", é traçar um novo caminho para o herói, mostrando um mundo de consequências severas que abale o que seus pais (Jor-El e Jonathan Kent) lhe disseram: que ele é capaz de salvar a todos, e que o homem que ele escolher se tornar vai mudar o mundo.
O ponto em "O Homem de Aço" é justamente a criação de um mundo. Aqui o Superman, que tem sua origem recontada com um ou outro twist, surge pela primeira vez para o resto do planeta. Mas não é uma decisão fácil. Criado pelo casal Jonathan (Kevin Costner) e Martha (Diane Lane) Kent, ele é alguém que nunca se permitiu descobrir seu potencial.
TRAILER LEGENDADO DO "O HOMEM DO AÇO"
É assim que o jovem Clark Kent é criado, sempre mantendo-se sob absoluto controle. Jonathan acredita que o mundo não está pronto para alguém como Clark -- e as evidências apontam que ele pode estar absolutamente certo. Clark Kent cresce não só sem saber quem é ou de onde veio, mas também emasculado, seu direito de nascença sublimado pela preocupação de um pai bondoso. Em algum momento, a gente sabe, a bomba explode.
E as sementes são plantadas ainda em Krypton. Longe do design do filme que Richard Donner dirigiu em 1978, o planeta natal do heroi aparece aqui como um mundo majestoso, mas quebrado. Dividido em castas, cada habitante de Krypton nasceu em uma encubadeira especial, seu código genetico – e seu destino –determinados antes do nascimento.
Mas Jor-El (Russell Crowe), seu pai natural, quer algo diferente para seu filho que está para nascer: uma vida de escolhas, o primeiro parto “à moda antiga” em um milênio. Isso não cai bem para o General Zod (Michael Shannon), determinado a manter a linhagem de seu planeta intacta e disposto a matar se for preciso para Jor-El não interferir no estado das coisas. Exilado com seus aliados, Zod está longe de Krypton quando, segue a história, o planeta explode – e o pequeno Kal-El vem parar na Terra.
O Homem de Aço é meticuloso em construir a herança do herói e oportuno ao revelá-la, o que causa a libertação de Zod e cia., uma visita à Terra e a revelação de seu protetor -- mesmo que Clark Kent, um fantasma que vaga pelo mundo sempre ajudando a quem necessita, seja o alvo de uma investigação pela reporter Lois Lane (Amy Adams). Snyder, que faz aqui seu filme mais “naturalista”, dá tempo para cada elemento respirar, mas engata uma segunda quando é hora de o Superman abraçar sua herança e lutar por seu novo lar.
TRAILER ALTERNATIVO DE "O HOMEM DO AÇO"
O filme peca pelo desenvolvimento apressado de alguns personagens-chave em detrimento de outros -- Perry White (Laurence Fishburne), editor-chefe do Planeta Diário, assim como outros empregados do jornal, não passam de bucha de canhão em um combate cósmico, e o tempo gasto neles poderia ser limado sem maiores consequencias. A trama de fazer da Terra um novo Krypton também ecoa inclusive o malfadado polano de Lex Luthor em erguer um novo continente no meio do Atlântico em "Superman – O Retorno".
Mas isso não arranha um filme plasticamente deslumbrante e estrategicamente importante para o futuro do Superman -- e de outros heróis da DC -- no cinema. Não que isso faça diferença quando estamos de olho em uma única produção, mas é bacana ver o mundo nu de pessoas super poderosas testemunhando o nascimento de uma nova era, sem saber que ele é o primeiro de muitos.
Snyder também acerta no tom: longe de ser sombrio e “realista” como a trilogia "O Cavaleiro das Trevas" de Nolan, "O Homem de Aço" não economiza na atmosfera soturna mas deixa claro que o Superman é um símbolo de esperança -- o que é explicitado de forma nada sutil quando o próprio revela o significado do emplema em seu peito.
Ah, é verdade, Henry Cavill! Para ser honesto, difícil alguém substituir Christopher Reeve -- por isso que foi bom ver o ator britânico nem tentar! Em sua interpretação, Clark Kent, Kal-El e Superman são a mesma pessoa. Pensar em identidades secretas é coisa para o futuro. Assim ele fica livre para criar um herói único, dividido entre duas heranças e duas forças: a que de um lado o faz se conter, e a que do outro lhe diz para usar todos os seus poderes em público e em prol do bem maior.
O rastro de destruição deixado em sua batalha com Zod -- e as vidas perdidas – certamente fazem parte da formação de seu caráter e também vão afetar suas decisões no futuro. O que, de cara, já faz do Superman em O Homem de Aço uma interpretação única e muito interessante. Como a última cena deixa claro, agora que a origem ficou para trás, é hora de explorar as possibilidades de um novo mundo, um mundo que, nas mãos de Zack Snyder, se mostra explosivo, furioso e, por que não, espetacular.
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