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Tom Hanks diz que passou mal em filmagens de "Capitão Phillips" no mar

Natalia Engler

Do UOL, em Cancún (México)*

06/11/2013 06h00

Em abril de 2009, o capitão Richard Phillips teve seu navio cargueiro invadido por piratas somalis quando se dirigia ao Quênia. Ele passou cinco dias como refém, parte deles a bordo de um pequeno bote salva-vidas. No início de 2012, Tom Hanks reviveu as mesmas situações em mar aberto, na costa de Malta, e, embora não corresse os mesmos riscos que o personagem real, sua missão também não foi nada fácil.

"Todo dia íamos ao porto, subíamos no navio e partíamos. E o navio realmente balança. Você acha que vai ser estável, mas não é. Não tive nenhum problema de verdade com enjoo --acho que a equipe também não teve-- até começarmos a trabalhar na cena do bote salva-vidas. Era uma atmosfera muito desconfortável e desagradável. Gravamos também em um estúdio em Londres, com uma estrutura que balançava e que não é igual a estar no mar. Ela girava para todos os lados, mas quando você está no mar, aquela coisa chacoalha muito mais. Tivemos algumas cenas em que, mais cedo ou mais tarde, todo mundo golfou, vomitou, chamou o Hugo, como você quiser chamar", contou Hanks, estrela de "Capitão Phillips", durante uma teleconferência com jornalistas de todo o mundo, na qual o UOL esteve presente. O filme estreia no Brasil nesta sexta (8).

"Acho que filmar no mar é uma daquelas coisas que podem colocar diretores e estúdios em apuros", afirmou o cineasta Paul Greengrass, que já comandou grandes produções como "O Ultimato Bourne", "Voo United 93" e "A Supremacia Bourne", e é filho de um marinheiro mercante. "Uma das coisas que mais me orgulho neste filme é que fomos para mar aberto. Ele foi filmado majoritariamente no oceano, não em baías protegidas. Isso dá uma qualidade especial ao filme, mas traz dificuldades. Em algumas das cenas em que os botes a motor atacam o navio cargueiro, as ondas eram muito altas. É um trabalho muito perigoso. Você está trazendo pequenos botes para perto de um cargueiro em movimento, há toda sorte de questões de segurança".

Estas dificuldades, conta Greengrass, transformaram a equipe praticamente em uma verdadeira tripulação de navio. "Porque vivemos em mar aberto, e comemos em mar aberto, vomitamos em mar aberto --e certamente fizemos isso muitas vezes--, e começamos a entender um pouquinho dos ritmos do oceano".

Para garantir o efeito de realismo, além de filmar no mar, em navios reais (tanto o cargueiro quanto os navios da Marinha norte-americana que vêm em resgate da embarcação atacada), Greengrass decidiu escalar verdadeiros somalis para os papéis dos piratas, recrutados entre candidatos das comunidades nos Estados Unidos e na Inglaterra, com pouca experiência de atuação.

"Uma das minhas decisões cruciais era ter somalis nos papéis desses quatros jovens que atacam o navio. Primeiro porque a Somália tem uma história muito interessante e conflituosa, e os jovens do país querem contar essa história. Segundo porque jovens somalis têm uma aparência muito específica, e eu queria que fosse autêntico. Esses jovens essencialmente vão ao meio do oceano e atacam navios, e é uma aposta muito arriscada do ponto de vistas deles. Para capturar isso, você precisa de jovens daquela cultura que possam entender essa situação".

Sempre em nome do realismo e da autenticidade, Greengrass também não deixou que os quatro atores somalis e Tom Hanks se conhecessem antes de filmarem a cena em que os piratas confrontam o capitão Phillips pela primeira vez, depois de invadir o navio.

"Foi extraordinário, porque eu estava na ponte de comando com [o ator] Michael Chernus e dois outros atores, e realmente passamos, como seres humanos, pelo que os personagens passaram. Escutamos eles chegando, se aproximando, os disparos das armas. E então, quando finalmente invadem a ponte, vemos essas criaturas de carne e osso pela primeira vez. São incrivelmente magros, são os seres humanos mais magros que já vi, e são muito assustadores, porque têm a cabeça enorme e os dentes podres, e estavam apontando armas automáticas e pistolas para a nossa cara e gritando conosco. Isso nos deixou arrepiados. Foi um momento muito emocional e visceral. Estávamos realmente petrificados", relembrou Hanks.

"Acho que Tom estava curioso com o que iria acontecer, e eu estava muito nervoso. E esses jovens arrombam a porta e literalmente roubam a cena. No fim do primeiro take, lembro que toda a equipe aplaudiu, porque não é fácil interpretar um vilão", afirmou o diretor.

"Mas isso foi só no primeiro take", ponderou Hanks. "No terceiro take, eles já estavam dizendo: 'Cara, só quero dizer que não acredito que estou trabalhando com o cara que interpretou Forrest Gump'. E porque era nosso primeiro encontro, foi o ponto máximo da experiência, estabeleceu uma ligação com eles. Muitas vezes, quando você faz um filme, o primeiro encontro realmente impregna a relação que terá no resto da produção".

Aparentemente, a busca de Greengrass pelo realismo e as dificuldades enfrentadas pela equipe serão recompensadas: "Capitão Phillips" vem sendo citado por inúmeras publicações especializadas em cinema como forte candidato a uma indicação ao Oscar de melhor filme. Tudo aponta que Hanks também deve ser lembrado pela Academia como melhor ator (seria sua sexta indicação e possível terceira estatueta), e pode sobrar até uma indicação como melhor ator coadjuvante para o estreante Barkhad Abdi, no papel do líder dos piratas somalis, Abduwali Muse.

* A jornalista viajou a convite da Sony Pictures