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Diretor de "Som ao Redor" contrata publicista de "Piaf" na corrida ao Oscar

Kléber Mendonça Filho, diretor de "O Som ao Redor"  - Leo Caldas/Folhapress
Kléber Mendonça Filho, diretor de "O Som ao Redor" Imagem: Leo Caldas/Folhapress

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

13/12/2013 14h52

Até o final da próxima semana, Kleber Mendonça Filho e --todo o mundo-- saberá se "O Som ao Redor", longa de estreia do pernambucano e o escolhido para representar o Brasil no Oscar, continua na disputa por uma indicação ao prêmio de melhor filme estrangeiro. Nos próximos dias, a Academia divulgará quem são os nove finalistas e no dia 16 de janeiro sai, finalmente, a lista dos cinco indicados.

 Pessoas que não são da área de cinema --o senhor da padaria, minha vizinha-- ficaram muito impressionadas com a notícia porque saiu até no 'Jornal Nacional'. Era o mesmo filme 24 horas antes, mas 24 horas depois era o filme do Oscar, o filme que tinha passado no 'Jornal Nacional'

Mais de dez anos depois de "Central do Brasil" (1998) concorrer ao mesmo prêmio no Oscar, o Brasil volta a ter grandes chances de disputar uma estatueta. Para o "New York Times", o filme está entre os dez melhores do ano. Para o "Los Angeles Times", é um dos mais fortes do século ("De tirar o fôlego"). A expectativa é grande, mas o diretor diz que nunca espera nada e prefere assim. "Essa não expectativa é saudável para mim porque, quando acontece alguma coisa, eu fico muito feliz. E esse filme já me surpreendeu muitas vezes".

A conversa de Kleber com o UOL aconteceu em uma livraria em São Paulo, entre um autógrafo e outro, durante o lançamento do DVD e Blu-Ray de "O Som ao Redor". Kleber parecia tranquilo, mas ter um filme representando o Brasil na principal premiação do cinema vem com uma nova carga de trabalho, atenção de todos os lados e até uma certa cobrança. "Essa coisa patriótica é um pouco estranha", disse ele. "As pessoas me perguntam: 'O filme vai ganhar, né?' Eu digo: 'Não sei. Não sei de nada'".

Mesmo depois de levar o filme para mais de cem festivais, ele disse que as pessoas só passaram a perceber o longa depois que ele foi associado à palavra "Oscar". "Pessoas que não são da área de cinema --o senhor da padaria, minha vizinha-- ficaram muito impressionadas com a notícia. Isso porque saiu até no 'Jornal Nacional', na imprensa toda. Era o mesmo filme 24 horas antes, mas 24 horas depois era o filme do Oscar, o filme que tinha passado no 'Jornal Nacional'".


Campanha em Los Angeles

A Ancine (Agência Nacional do Cinema) e o Ministério da Cultura também entram em ação para ajudar "O Som ao Redor" a se destacar entre os 76 concorrentes ao prêmio de língua estrangeira. O filme recebeu R$ 284 mil dos dois órgãos, que foram gastos em anúncios nos principais jornais, revistas e sites norte-americanos e na contratação dos mesmos publicistas que promoveram o japonês "A Partida" (2008) e o francês "Piaf - Um Hino ao Amor" (2007) na corrida ao Oscar, ambos vencedores de estatuetas. 

Kleber embarcou para os Los Angeles no final de novembro e lá ficou por cinco dias para participar de exibições, debates e entrevistas. A campanha é parte fundamental da estratégia para conseguir uma indicação ao Oscar, especialmente para exibir o filme ao maior número de votantes possíveis, já que estes não necessariamente assistem a todas as produções concorrentes.

O diretor garante que seu comportamento é o mesmo desde que o filme começou a ser exibido em festivais, em 2012. "O importante é fazer o que eu sempre fiz. O filme vai na frente e eu vou atrás. Não empurro o filme ladeira acima. Não fico falando coisas como: 'Vejam 'O Som ao Redor'. Olhem como ele é premiado", disse. A produção já ganhou prêmio de melhor filme na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Festival do Rio 2012, na edição 2012 do Festival de Cinema de Gramado, no CPH Pix 2012 (em Copenhagen, na Dinamarca) e o Prêmio da crítica Fipresci no Festival de Roterdã, na Holanda.

Aceitação no exterior

Kleber também diz ter sentido que o filme foi muito bem recebido e também compreendido no exterior. "Eu não precisei explicar muito o filme nos Estados Unidos. Ele estreou lá e recebeu críticas espetaculares". A crítica do jornal "The New York Times" ressalta o caráter universal da trama, que retrata o cotidiano de moradores de uma rua de classe média no Recife. "Alguns eventos que ocorrem dentro daquelas paredes poderiam ser episódios de uma novela da banalidade doméstica criada em Singapura, San Francisco, Cidade do Cabo ou Dubai", escreveu o crítico A.O. Scott. 

Se o filme for realmente indicado ao Oscar, Kleber Mendonça Filho participará de uma nova campanha em Hollywood. Isso é igual a mais entrevistas, mais sessões, mais debates. No momento, o diretor só pensa em passar o Natal com a família em Recife. Quando passar o trabalho todo que "O Som ao Redor" exige, ele vai dirigir um roteiro que Mark Peploe, corroteirista de "Profissão: Repórter" (1975), escreveu nos anos 1970 baseado em história de Michelangelo Antonioni. Vencedor do Oscar por "O Último Imperador" (1987), Peploe convidou o brasileiro para dirigir "The Crew" ao conhecê-lo no Festival de Locarno em 2012.