Lars Von Trier mostra tudo, mas choca pouco em "Ninfomaníaca"
Como fazer um filme polêmico? O dinamarquês Lars Von Trier sabe a resposta. Seu novo "Ninfomaníaca" está tendo a maior campanha de lançamento já feita para um filme de autor na internet: foram sete cenas e um trailer divulgados até agora no site oficial do filme. A primeira parte do longa, que estreia no Brasil no dia 10 de janeiro, mistura cenas pornográficas, frases de efeito e uma embalagem de "filme de arte" para convencer o espectador de que está vendo algo "artístico e original".
"Ninfomaníaca" conta a história de Joe (Charlotte Gainsbourg), uma moça que se descobre ninfomaníaca desde a adolescência. Quando o filme começa, ela está desmaiada com o rosto sangrando em meio à neve. Um pescador (Stelan Skarsgard) a leva para casa. Joe começa a contar a sua vida sexual desde a infância, rememorando passagens que hoje a enchem de culpa.
O filme não vai decepcionar quem for ao cinema atrás de pornografia soft. Contam-se mais de dez cenas de sexo entre a Joe jovem (a bela Stacy Martin) e seus parceiros. Ela perde a virgindade com o jovem Jerome (Shia Labeouf), num ato de exatas oito penetrações. Mais tarde, com uma amiga, brinca de pegar homens casados e solteiros no trem, transando com eles no banheiro.
Já nesta primeira parte vemos cenas de sexo oral masculino e feminino, sexo anal, uma bateria de closes de pênis em série, o close de uma punção numa vagina --uma imagem incômoda que lembra a vagina decepada de "Anticristo". Numa montagem paralela, Joe transa com quatro caras diferentes, dizendo a cada um deles que é sua primeira vez. Há até uma penetração mostrada em close, numa das cenas de sexo entre Joe e Jerome --e na internet as pessoas devem passar as próximas semanas comentando se o pênis em close é mesmo de Shia Labeouf.
Von Trier fez um filme pornográfico? Pode-se dizer que sim, mas seu filme só deve chocar quem passou os últimos 20 anos longe do cinema.
Versão censurada
Em meio a toda essa sacanagem, Joe e sua amiga nos bombardeiam com frases de efeito para tornar mais artística a jornada sexual da moça. "Minha diferença em relação aos outros é que eu sempre esperei mais de um pôr do sol"; "Para mim, o amor sempre foi apenas luxúria somada ao ciúme"; "O ingrediente secreto do sexo é o amor".
Como em seus outros filmes ("Anticristo", "Melancolia", "Ondas do Destino"), Von Trier insiste em carregar o sexo com muita, muita culpa. Para os brasileiros, que encaram a coisa de forma mais leve, tudo pode não passar de masturbação mental de um cineasta em crise. Mas atenção: estamos falando da versão censurada do filme, feita "com a permissão de Von Trier, mas sem seu envolvimento".
É a primeira parte dessa versão que chega ao Brasil em janeiro, com 110 minutos. A segunda parte, com 130 minutos, estreia em março. A versão integral sem cortes, do jeito que o diretor quer, será exibida no Festival de Berlim, em fevereiro. A Califórnia Filmes, distribuidora de "Ninfomaníaca" no Brasil, tem a intenção de lançar também essa versão integral nos cinemas.
Para não dizer que o filme será brochante para boa parte do público, ele se salva por duas grandes sequências: uma com Uma Thurman como a esposa abandonada, e outra com Christian Slater como o pai de Joe à beira da morte. Quanto ao conteúdo sexual, porém, pode valer mais a pena levar a namorada ao motel mais próximo do que ao cinema ver "Ninfomaníaca".
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