De brasileiro premiado a meme de Shia Labeouf: veja destaques da Berlinale

A 64° edição do Festival de Berlim, encerrada neste domingo (16), apostou no cinema chinês entregando o Urso de Ouro a "Black Coal, Thin Ice". Mas o evento alemão de cinema, que vendeu cerca de 300 mil ingressos este ano, também ficou marcado pela provocação do diretor Lars Von Trier ao festival de Cannes, o reconhecimento do filme brasileiro "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" nas mostras paralelas e o saco de papel na cabeça de Shia LaBeouf.

O festival atraiu o público para comer na rua com a iniciativa da chamada Street Food, apresentou jovens atores em filmes sobre temas familiares, foi palco de homenagens ao documentarista brasileiro Eduardo Coutinho e ao ator norte-americano Philip Seymour Hoffman (que morreram no dia 2 de fevereiro em diferentes ocasiões) e apresentou documentários em formatos inusitados.

Shia La Beouf vira meme e Von Trier provoca Cannes

Este ano, o festival de cinema será relembrado por dois momentos relacionados a "Ninfomaníaca - Versão 1" --e não pelas cenas da versão sem cortes. Começou com Von Trier exibindo uma camiseta com os dizeres "persona non grata", ironizando o fato de ter sido banido no festival de cinema francês em 2011 após dizer que sentia empatia por Adolf Hitler. LaBeouf tentou criar polêmica citando o jogador de futebol e ator Eric Cantona no evento para a imprensa, mas virou motivo de piada após aparecer no tapete vermelho usando um saco de papel na cabeça com a frase "Não sou mais famoso".  

"Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" é destaque e "Praia do Futuro" divide opiniões  

Entre os destaques nacionais, "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", estreia do diretor Daniel Ribeiro, lotou as salas de exibição da Mostra Panorama e foi reconhecido com três prêmios: escolha da crítica, escolha do público e do Teddy Awards, que premia as melhores iniciativas e personagens que ajudam a promover a igualdade e tolerância.

"Praia do Futuro", outro representante brasileiro na competição, não levou prêmio e dividiu opiniões. O jornal "Tagesspiegel" escreveu que "não se sabe se [o diretor Karim] Aïnouz quer contar uma história de amor em dois países, um melodrama gay ou uma história sobre amadurecimento, a trama se afoga em beleza".

Ao mesmo tempo, o filme com Wagner Moura foi elogiado por veículos especializados, como a "Hollywood Reporter" que disse que "o filme tem uma extraordinária beleza e profundidade de sentimento e lançará um feitiço sobre admiradores de cinema inspirado por imagens poéticas". Mesmo sem estrear no Brasil, o longa tem chamado a atenção por causa das cenas de sexo e o nu de Moura.

Discussões familiares e jovens protagonistas

A Berlinale deste ano teve jovens protagonistas e discussões sobre crescimento em família como um de seus temas principais. O mais novo deles é Ivo Pietzcker, de 10 anos, ator do alemão "Jack", personagem que se vê obrigado a procurar a mãe desaparecida.

Ramasan Minkailov, de 11 anos, é a estrela do iraniano "Macondo", sobre um jovem que precisa lidar com a morte do pai e uma nova vida como refugiado de guerra. "Boyhood", de Richard Linklater, segue a trajetória de Mason (Ellar Coltrane, 19) da infância à vida adulta, mostrando os conflitos do amadurecimento.

E em "Stations of The Cross", Lea Van Acken, de 15 anos, interpreta Maria, uma jovem afetada pelo fanatismo religioso da mãe e que deixa a vida como uma garota normal para seguir os passos de Jesus Cristo.

Martin Scorsese e a primeira apresentação de "New York Review of Books"

Martin Scorsese ansioso não é algo que se vê todo o dia. O cineasta atraiu fãs de cinema para a porta da Haus Der Berliner Festpiele, onde ele apresentou o documentário sobre a revista nova-iorquina pela primeira vez. Durante uma conversa após o filme, Scorsese junto com o criador da publicação, Robert B. Silvers, de 84 anos, e o autor Robert Greenberg foram ao lançamento para discutir jornalismo e cinema. Scorsese disse que, assim como seus filmes, o longa foi produzido para as futuras gerações.  

Eduardo Coutinho e Philip Seymour Hoffman homenageados

Dois importantes nomes do cinema mortos recentemente foram homenageados no festival. O brasileiro Eduardo Coutinho foi relembrado pelos diretores Cao Guimarães e Marcelo Gomes durante a estreia de "O Homem das Multidões", e o norte-americano Philip Seymour Hoffman foi citado com a exibição de "Capote", que rendeu um Oscar ao ator em 2006. Hoffman tinha planos de ir ao festival este ano para tentar promover seu novo filme, "Ezequiel Moss".   

Mostra Panorama agradou com variedade nos formatos de documentários

Entre os destaques que esgotaram ingressos nas salas de cinema estavam "20,000 Days on Earth", misto de documentário e ficção sobre um dia na vida do roqueiro Nick Cave; "Finding Vivian Maier", história sobre uma babá na década de 1920 que ganhou reconhecimento póstumo após um acervo de cem mil fotos ser encontrado em seu apartamento em Chicago; e "Is The Man Who Is Tall Happy?", do francês Michel Gondry, animação psicodélica que ilustra uma conversa do diretor com o linguista Noam Chomsky.

Iniciativa gastronômica atraiu público para comer na rua

O festival organizou trailers de alimentação caseira com preços justos próximos aos cinemas que exibiam filmes do festival.

Entre as opções havia uma salada de rúcula com camarões que era vendida por 7 euros; um lanche de pernil saía por 5 euros, e cervejas artesanais e de marcas locais eram vendidas por até 3 euros.

O espaço, batizado de Street Food, foi organizado pelo curador do festival, Dieter Rosslick.