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José Padilha descarta possibilidade de dirigir sequência de "Robocop"

Maria Martha Bruno

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/02/2014 12h20

José Padilha, que encara a difícil missão de dirigir a refilmagem de "Robocop", disse que não pretende fazer a continuação do filme protagonizado por Joel Kinnaman, que estreia nesta sexta-feira (21) no Brasil. “Eu não pensei em uma franquia. É problema do próximo diretor. Eu não tenho isso no contrato com o estúdio”, afirmou ele durante entrevista coletiva realizada nesta terça (18), em um hotel em Copacabana, no Rio de Janeiro. O longa será exibido em cerca de 700 salas em todo o país e foi orçado em aproximadamente US$ 130 milhões. O diretor também disse ser fã do primeiro "Robocop", de 1987. "Eu não gosto nem do segundo nem do terceiro”, disse, categórico. 

Ao lado de Joel Kinnaman (que interpreta o protagonista meio homem-meio máquina Alex Murphy) e Michael Keaton (Raymond Sellars, CEO da empresa que desenvolve Robocop), Padilha definiu o filme como essencialmente político. Ele admitiu que a proposta é difícil de ser realizada em um estúdio grande como a MGM:

“O nosso filme é bem diferente. Temos um vilão que não é um vilão. Eu não quis fazer uma vilania caricatural. Eu queria fazer que o personagem oposto ao Robocop fosse inteligente e tivesse bons argumentos. Todos os argumentos sobre o uso de drones nas guerras são válidos. Isso já é estranho para um filme em Hollywood. Além disso, o personagem principal só aparece 11 minutos após o inicio do filme. E ainda temos um personagem que critica a mídia americana (vivido por Samuel L. Jackson)”.

O cineasta acredita que o público americano é subestimado e disse que a reação a seu filme após a exibição do primeiro corte provou o interesse local em temas políticos. “No ‘focus group’, as pessoas que assistiram ao primeiro corte responderam que gostaram justamente porque é político. O público americano está mostrando que é mais inteligente do que as pessoas consideram. Basta ver as séries que fazem sucesso lá”, analisou o diretor.

Hollywood
Padilha falou do controle dos estúdios de Hollywood sobre as grandes produções e disse que seu trabalho não fugiu à regra. Entretanto, o diretor conseguiu romper as amarras mais importantes. “Todos os filmes lá têm esta questão. Mas foi criada uma estrutura para lidar com isso. Por isso existem agentes, advogados, managers. Eles fazem este meio-campo. No caso do 'Robocop', eu consegui fazer um filme político mesmo apesar de não ter o controle formal”. O diretor contou que, no momento dos testes de exibição, a MGM ainda estava reticente, mas que as dúvidas caíram por terra após a reação positiva do público.

O trabalho com Lula Carvalho (fotografia), Daniel Rezende (montagem) e Pedro Bomfman (trilha-sonora) foi outro exemplo de como o diretor de “Tropa de Elite” conseguiu manter seu estilo e método de trabalho, apesar das proporções da produção: “Sempre tive na minha cabeça que não vou fazer qualquer filme em qualquer situação. Mas coloquei para a MGM que queria ter o compositor, o montador e o fotógrafo. Porque, se houvesse no set um monte de profissionais que eu não conhecia, eu ficaria como um peixe fora d'água”.

Padilha contou que durante o trabalho com os parceiros, os demais profissionais no set olhavam com cara de que não entendiam nada. “Dias depois, alguém chegou com um dicionário ‘Como aprender português em dias’”, contou o diretor.

Armadura
O diretor disse não ter levado em consideração a opinião dos fãs ao definir a armadura do protagonista. Em um primeiro momento, a nova versão do “policial do futuro” aparece com uniforme prateado, mas o desenho final é preto. “A roupa mudou de prateada para preta devido ao gosto do Sellars (personagem de Keaton). Eu ignorei a expectativa dos fãs. Porque não há uma massa uniforme de fãs. Eles são diferentes entre si. Eu tentei e fui o mais fiel possível ao conceito básico do Robocop”, afirmou.

Ao falar sobre o assunto, Michael Keaton lembrou a originalidade do trabalho de Tim Burton, que inaugurou a estética sombria de super-heróis nas telas com o uniforme do primeiro Batman (1990). O ator brincou ao dizer que Sellars era um fã do homem-morcego:

“Acho que Sellars viu o lado comercial ao escolher a roupa do Robocop. O Tim Burton criou um visual que foi sendo diluído ao longo dos anos, mas essencialmente baseado na estética do Frank Miller, que incluía mesmo as tonalidades negra e azul. E não eram apenas tons escuros do lado de fora. Havia um subtexto ali. Talvez Sellars fosse um fã do Batman”.

Mais calado e sonolento durante a coletiva, Joel Kinnaman falou sobre as dificuldades de atuar com a roupa do protagonista: “Tive que separar a linguagem corporal da linguagem facial. Mas isso está mesmo entre as dificuldades técnicas. Seria como se fizesse um personagem com deficiência física. Foi desafiador me manter concentrado enquanto o pessoal fazia os ajustes no uniforme”.

O ator sueco assistiu a “Ônibus 174” e aos dois “Tropa de Elite” em sua terra natal e disse que considera José Padilha um dos diretores mais interessantes do mundo: “Fiquei honrado em saber que ele sabia quem eu era”.

Trama
A trama se passa em 2028, quando a multinacional OmniCorp domina a tecnologia robótica. Fora dos Estados Unidos, seus drones (aviões não tripulados) foram usados durante anos pelas Forças Armadas. Em um novo esforço para convencer os políticos a permitirem o uso de robôs na segurança interna, a companhia aposta em uma nova arma: um agente da lei metade homem, metade máquina.

O "modelo" escolhido é Alex Murphy (Joel Kinnaman), marido, pai e policial que combate a corrupção na cidade de Detroit. Após sofrer um atentado que o deixa a ponto de morrer, a OmniCorp vê nele a chave para arrecadar uma fortuna procedente de seus acionistas, mas esquece que na máquina também existe uma pessoa.