Topo

No elenco de "Alemão", Fagundes diz que se prepara há 48 anos para papéis

Fabíola Ortiz

DO UOL, no Rio

14/03/2014 09h14

Com um currículo de 50 filmes em quase cinco décadas de história nas artes cênicas, Antônio Fagundes, 64, volta às telas de cinema em mais um longa, “Alemão”, de José Eduardo Belmonte, dessa vez como o delegado Valadares.

Após dar vida ao médico Dr. César em “Viver A Vida”, da TV Globo, Fagundes retorna agora para promover seu personagem no longa, o chefe de uma operação secreta de inteligência que coloca um grupo de cinco policiais infiltrados no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, dias antes da invasão militar contra o tráfico de drogas no complexo.

“Digo que hoje me preparo há 48 anos para cada personagem que faço. O trabalho do ator é observação e compaixão. Se você observou ao longo de sua vida outras vidas e sofreu junto, já tem uma boa preparação. Já interpretei muitos delegados. Neste, o delegado tem uma relação mal resolvida com o filho (vivido por Caio Blat)”, comentou Fagundes.

Apesar do destaque, Fagundes faz apenas uma participação especial no longa, que também marca a primeira parceria com Belmonte e com Blat, um dos policiais que integra a missão sigilosa. “Espero que seja o primeiro filme de muitos. Já estamos pensando em outro. Só de ter a oportunidade de estar nesse já foi maravilhoso. Quando li o roteiro, fiquei encantado com o personagem e com a  proposta”, destacou.

Trailer de "Alemão"

Fagundes, que já participou de grandes produções televisivas, afirmou ter gostado da ideia de integrar um projeto de cinema de baixo orçamento. “Acho fabuloso o filme ter sido feito nesse esquema de guerrilha. Esse é um caminho para o cinema brasileiro, tentar se pagar com a bilheteria. Só é possível se o orçamento for baixo”, comentou.

Apesar dos riscos que envolvem um filme de ação com poucos recursos, Fagundes admitiu ter ficado contente com o resultado final. “O fato de concentrar as filmagens em 18 dias fez com que a atenção sobre o roteiro fosse redobrada. O roteiro ainda é o problema do cinema brasileiro. É extraordinário o resultado do filme. É inacreditável o que Belmonte e a produção conseguiram fazer nesse período de tempo e com essa verba”, enfatizou.

Em uma das cenas externas, Fagundes sai caminhando pelas ruas abarrotadas de gente do centro do Rio de Janeiro e isso foi feito sem que o trânsito fosse fechado. “Não teve nada (de superprodução). A gente saiu na rua filmando. Estávamos no meio do centro da cidade e é uma cena linda. É uma sabedoria! Ele sabe exatamente qual o resultado que quer e fez isso no filme inteiro”.

Fagundes admitiu que às vezes é assustador ter que improvisar, especialmente nesta cena em que filmou no centro da cidade. “O mais importante é a solução humana que o filme propõe. Eles deixam de ser policiais, bandidos, pessoas, seres humanos e, numa situação drástica, começam a aparecer as pontas de amor, carinho, compreensão e amizade”.

Quando conversou com o UOL, Fagundes tinha apenas visto uma "versão crua" do filme, uma primeira montagem sem música, e contou que já havia ficado “impressionado” com o que assistiu.