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Vilões do Homem-Aranha são "mais humanos" que a concorrência, diz produtor

Eduardo Graça e Natalia Engler*

Do UOL, em Nova York (EUA)

01/05/2014 06h00

Criado há mais de 50 anos, o Homem-Aranha coleciona nos quadrinhos uma galeria de vilões de fazer inveja a qualquer super-herói, com inimigos que vão de mentes brilhantes transformadas por acidentes terríveis a criaturas estranhas, como um criminoso com DNA de mosca (veja o álbum). Mas, mesmo assim, são personagens em que o lado humano prevalece em meio à bizarrice.

"Esta é uma das coisas que me intriga muito no universo Marvel, e no universo do Homem-Aranha em particular: você quer entender os vilões. Eles não são vilões num sentido estrito, apenas têm visões diferentes do que é o bem. Acreditam no que fazem", avalia Marc Webb, diretor da franquia "O Espetacular Homem-Aranha". Estamos em um estúdio em Long Island, próximo a Nova York, e um Webb tenso e cansado conversa com jornalistas no que sobrou de uma reprodução da Times Square, a poucos dias de terminar as filmagens de seu segundo longa com o herói, que estreia nesta quinta (1º).

Este raciocínio, segundo Webb, se aplica ao vilão que dá título ao novo longa, Electro (Jamie Foxx). "Ele tem uma motivação compreensível neste filme. Quer ser visto, reconhecido. Começa como alguém de segunda classe e solitário. E, como todos os adversários do Homem-Aranha, há um paralelo com Peter. Há vínculos entre Peter Parker e seus adversários. Eles apenas reagem à vergonha de maneira diferente".

Seguindo este raciocínio, o ator Jamie Foxx conta que assistiu e leu tudo sobre Electro, mas concluiu que o que funcionaria era entender a origem do personagem antes de se transformar em vilão. "No roteiro, eu pedi: 'Max Dillon pode ser aquele cara com quem ninguém fala, mas vamos adicionar uma camada: é seu aniversário, e ninguém lembra'. Então, terminamos de delinear Max como o cara que foi traído pelo amor, pela família e por seu trabalho. Essas são as três coisas em que trabalhamos para fazer a transição quando ele se torna Electro. Você sente a maldade melhor porque ele era aquele cara que vivia nas sombras, e ele só quer que todo mundo saiba que é seu aniversário", explica Foxx, caracterizado com a maquiagem azul de Electro.

"Jamie entende como transformar o humor em algo real. Uma das coisas principais que queríamos fazer com este filme em termos de tom é deixá-lo divertido", afirma Webb, que era praticamente um novato antes de assumir esta franquia milionária. "Mas humor pode ficar brega, e ele sabe como encontrar algo real dentro do absurdo. Ele inventou Max Dillon do zero. Há poucas pessoas que podem alcançar aquele nível de detalhe ao criar um personagem, porque ficou engraçado, meio maluco, tem aquele cabelo por cima da careca, mas tem uma coisa trágica também".

Vilão divertido

Outro personagem que explora a veia cômica é o Rino vivido por Paul Giamatti. "O vilão principal é o Electro. O que tentamos fazer é estabelecer o universo. E há personagens que entram e saem. Electro é o inimigo principal, mas tentamos criar um mundo que é mais complexo, com nuances, e pode se expandir. E nesse mundo, a Oscorp está fazendo muitas coisas malucas", explica o diretor Marc Webb.

"Temos o vilão principal e o vilão divertido", conta o produtor Avi Arad, um dos responsáveis por levar os personagens da Marvel para o cinema. "Salpicamos o universo ali. Há um vilão com quem você vai passar mais tempo e há vilões que apenas vão trazer um sentimento muito especial aos fãs".

"Mas mesmo os vilões divertidos têm seu lugar na história", complementa o outro produtor, Matt Tolmach. "Acho que vilões se tornam irrelevantes quando não são de fato parte da história, quando não são algo substancial contra o qual o herói tem que lutar. Não apenas porque se trombam e têm que lutar, mas porque há em suas histórias algo que colide".

Segundo Webb, essa colisão tem a ver com a relação de Peter Parker (Andrew Garfield) com sua namorada, Gwen Stacy (Emma Stone). "Começamos este filme apenas alguns meses depois do primeiro. Peter vai se formar na escola e está perseguindo um certo vilão interpretado por Paul Giamatti, e esta perseguição vai levar a um conflito que se desenvolve entre ele e a Gwen no restante do filme", explica o diretor, sem entrar em detalhes.

"Ele não é uma parte enorme da trama do filme, mas adiciona um tempero incrível, e aparece em uma sequência de ação grandiosa. E daí volta mais tarde no filme", dá a dica Tolmach, que classifica Giamatti como "hilário".

Jamie Foxx, Dane DeHaan e diretor falam sobre vilões de "O Espetacular Homem-Aranha 2"

Ciência e fantasia

Parte deste caráter hilário vem de algo que faz a ponte entre o humor e o drama do filme: a falibilidade. Mesmo quando o universo do Homem-Aranha envereda pela pseudo-ciência que o sustenta, acaba dando espaço para as falhas de personagens que, apesar de bizarros, não deixam de ser humanos --e de surgir a partir de erros humanos no uso desta ciência.

"É ciência que beira o misticismo. E há um componente mitológico de fantasia, que é incrível de filmar, mas é um pouco surreal, com lagartos e pessoas explodindo em pulsos elétricos. É fantástico, é louco, mas ao mesmo tempo se apoia em um tipo de realidade emocional", acredita Webb.

"Uma das coisas divertidas do Homem-Aranha é que ele combate os mais esquisitos entre os mais esquisitos", concorda Arad. "Esses quadrinhos foram escritos há muito tempo, são quase ficção científica. E desde então há mais ciência e menos ficção. E quando você vê alguns desses vilões, percebe que eles se ligam a algo muito importante para os nossos filmes, que é a Oscorp. Ciência e vilania emanam desse lugar".

Trailer de "O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro"

Duende Verde

É da Oscorp que vem também o terceiro vilão da trama, e responsável pelo lado dramático: Harry Osborn (Dane DeHaan), o herdeiro da corporação, que, ao mesmo tempo, vê o pai morrer, descobre uma doença degenerativa, reencontra seu grande amigo da infância Peter Parker e caminha para se transformar no Duende Verde, um dos vilões mais simbólicos do universo do Homem-Aranha.

"Não para atacar a DC, mas personagens da Marvel são muito mais humanos. E precisávamos de alguém que tivesse essa conexão emocional múltipla conosco e com o público. Mesmo o vilão tem que ser um ator simpático. E achamos que Dane [DeHaan] é estimulante e traz algo realmente único, vocês vão ver no filme, acho que esse garoto tem futuro", elogia Avi.

Testado para o filme por sugestão de Andrew Garfield, DeHaan ficou com o único vilão que já tinha aparecido na trilogia de Sam Raimi, mas que era encarnado naquele universo por Norman Osborn (Willem Dafoe), pai de seu personagem (aqui, uma ponta de Chris Cooper). Seu Harry Osborn também já havia sido interpretado por James Franco.

"É claro que eu vi os filmes antigos, porque estrearam quando eu era garoto, e eu adorava ir ao cinema para vê-los", contou DeHaan, 27, em entrevista ao UOL, na reta final da divulgação do filme (veja o vídeo). "Mas Harry Osborn é um personagem que existe há 50 anos. Então, voltei à fonte original para sentir quem Harry é e quem ele tem que ser no universo do Homem-Aranha, para honrá-lo como personagem. Mas o que é legal é que eu tinha que trazê-lo para a atualidade e ver como este arquétipo se encaixa nos dias de hoje, para dar um novo Harry Osborn ao mundo", explica.

Entre drama, comédia e perturbações ao Homem-Aranha,  ao menos dois dos três vilões de "O Espetacular Homem-Aranha 2" também já garantiram seu lugar na franquia e devem voltar às telas em "O Sexteto Sinistro", que já está em desenvolvimento pela Sony, mas ainda não tem data para estrear.

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