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Alunos da rede pública do Rio são capacitados para mercado de animação

Akemi Nitahara

Da Agência Brasil, no Rio

08/07/2014 10h47

Mercado profissional novo e em expansão no Brasil, a animação é uma área carente de mão de obra especializada. A partir dessa constatação, foi criado o Estúdio Escola de Animação, que está com a terceira turma em andamento e recebe estudantes de ensino médio de escolas públicas do município do Rio de Janeiro.

Um dos criadores do projeto e coordenador do estúdio, Zé Brandão, explica que o Brasil não tem tradição na área, e pouca gente vê animação como possibilidade real de profissão. "Tem até bastantes cursos de formação para quem quer ser profissional, talvez não seja o suficiente, mas tem iniciativas de universidades, cursos de pós-graduação em animação. Mas a gente sentia que faltava um primeiro incentivo para os jovens, porque tem jovem que já está no final do período escolar e nem sabe que animação é uma opção de profissão", disse ele.

Trabalhando profissionalmente com animação há cinco anos, Brandão diz que não há levantamento sobre a demanda de mão de obra do setor, mas o mercado está em expansão, com aumento da produção, e há trabalhos brasileiros com reconhecimento internacional.

"Hoje, a gente tem séries brasileiras distribuídas em outros países, como 'Peixonauta', 'Meu Amigãozão', 'Escola pra Cachorro', o próprio 'Tromba Trem' [produção do estúdio de Brandão] está sendo exibido na América Latina. Temos também 'Historietas Assombradas para Crianças Malcriadas', que já estão bastante populares, fora o 'Sítio do Pica Pau Amarelo', a 'Turma da Mônica', que está há tanto tempo na estrada, e agora estão produzindo muito mais séries de animação do que nos anos 1980/1990. E tem os casos dos longas-metragens brasileiros, que estiveram muito presentes na mídia, porque dois [filmes] venceram, em dois anos seguidos, o principal festival de animação do mundo: o Annecy”, segundo Brandão.

O Estúdio Escola de Animação é divulgado em escolas públicas, nas quais os profissionais falam sobre o mercado e as possibilidades de trabalho, como fotografia, cenografia, roteiro e composição de trilha sonora para games, séries para TV por assinatura ou longa-metragem. Depois, é feito um processo seletivo com os alunos interessados, que recebem auxílio para transporte e alimentação. O curso dura cinco meses, com oito horas de aulas por semana. A turma atual tem 45 alunos, divididos em três turmas, e termina em outubro.

A estudante Isa dos Santos, 22 anos, participa do projeto pela terceira vez, já no nível avançado, e teve o curta produzido pela turma, no ano passado, selecionado para o festival Anima Mundi deste ano. "Eu ainda não trabalho na área, estou fazendo alguns curtas independentes com colegas do Estúdio Escola e fiquei sabendo que o nosso curta Suspeitos foi selecionado para o Anima Mundi. É um reconhecimento do trabalho que você teve --eu nem imaginava-- porque antes eu queria ser engenheira, e hoje, saber que pude participar de uma produção, é simplesmente maravilhoso".

Ela diz que sempre gostou de animação, mas não tinha ideia de como eram produzidas. Atualmente, além do Estúdio Escola, Isa faz curso de ilustração "para melhorar o desenho de animação", e pretende trabalhar com roteiro e storyboard (técnica de ilustração para pré-visualizar um filme ou animação antes da filmagem).

Brandão destaca que a tecnologia está mais acessível, mas ainda falta formação de todo o mercado de animação. "Não basta só a técnica, a gente tem que criar todo o mercado e toda a indústria que envolve os produtos de animação. É novo para todo mundo, não só para quem produz animação, mas também para quem distribui, quem licencia produtos derivados, as TVs, todo mundo meio que está aprendendo a lidar com esse novo fenômeno. Tudo precisa ser solidificado, isso tudo no Brasil está começando".