Topo

Após dois anos, Festival de Paulínia volta com maior prêmio e estrelas

Convidados passam pelo tapete vermelho na abertura do 2º Festival Paulínia de Cinema, no Teatro Municipal de Paulinia (09/07/2009) - Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Convidados passam pelo tapete vermelho na abertura do 2º Festival Paulínia de Cinema, no Teatro Municipal de Paulinia (09/07/2009) Imagem: Eduardo Anizelli/Folha Imagem

Do UOL, em São Paulo

22/07/2014 12h18

Suspenso desde 2012, por culpa de um imbróglio político, o Festival de Cinema de Paulínia está de volta, e quer provar que ainda é um dos eventos mais relevantes do cinema nacional. Mesmo com a pausa, lança mão de uma seleção interessante de filmes nacionais, títulos internacionais, presença de estrelas (do diretor norte-americano Abel Ferrara à atriz carioca Deborah Secco) e o maior prêmio em dinheiro entre todos os festivais --são R$ 300 mil para o longa escolhido como melhor filme. A exibição gratuita para o público completa as cartas na manga que o festival vai dispensar nesta sexta edição.

O festival começa na noite desta terça-feira (22) com a pré-estreia mundial de "Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho", fora da competição. A cinebiografia do escritor que é interpretado por Julio Andrade foca no lado alternativo e menos conhecido do escritor. Paulo Coelho já confirmou: não estará presente na exibição. 

Sete títulos internacionais também farão estreia no Brasil durante o evento: "O Samba", de Georges Gachot; "As Férias do Pequeno Nicolau", de Laurent Tirard; "A Pedra da Paciência", de Atiq Rahimi; "Paraíso", de Mariana Chenillo; "Geronimo", de Tony Gatlif; e "O Casamento de May", de Cherien Dabis. No encerramento do festival, quando haverá cerimônia de premiação dos filmes em competição, será exibido o longa "Bem Vindo a Nova York", de Abel Ferrara, junto com uma homenagem ao cineasta brasileiro Cacá Diegues.

Para o júri de longas foram convidados a cineasta e roteirista Anna Muylaert; o colunista de "O Globo" Artur Xexeo; o representante do Ministério de Cultura da Espanha, Carlos Cuadros; a diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Renata de Almeida; e o roteirista Thiago Dottori. No júri de curtas estão o diretor Arthur Nunes; a produtora Lucia Caus; o ator Nonato Freire; o produtor Rafael Sampaio; e o distribuidor Sandro Fiorin. 

Filmes brasileiros

Deborah Secco em cena de "Boa Sorte", onde vive Judith, portadora do vírus HIV em fase terminal - Divulgação - Divulgação
Deborah Secco em cena de "Boa Sorte", onde vive Judith, portadora do vírus HIV em fase terminal
Imagem: Divulgação

A volta de Deborah Secco ao cinema, no papel de uma portadora do vírus HIV em estágio terminal, também é destaque no festival. Dirigido por Carolina Jabor, "Boa Sorte" é uma adaptação do conto "Frontal com Fanta", do escritor e cineasta Jorge Furtado. Para interpretar Judite, que reencontra o sentido da vida com João (João Pedro Zappa), Deborah precisou emagrecer 12 kg. O elenco também conta com Felipe Camargo, Cássia Kiss Magro e participação de Fernanda Montenegro. 

A seleção de filmes nacionais contará com mais sete longas e oito curta-metragens inéditos. Entre eles estão os novos filmes de Murilo Salles ("Aprendi a Jogar Com Você"), Domingos Oliveira ("Infância"), Lírio Ferreira ("Sangue Azul") e Juliana Rojas ("Sinfonia da Necrópole"), que após dividir a direção com Marco Dutra em "Trabalhar Cansa" volta a flertar com o terror.

O documentário "Cássia", sobre a cantora Cássia Eller, dirigido por Paulo Henrique Fontenelle ("Loki - Arnaldo Batista" e "Dossiê Jango"), chegou a ser anunciado como um dos selecionados, mas o diretor informou que não conseguiria concluí-lo para ser exibido no evento. Em seu lugar, o festival anunciou o pernambucano "A História da Eternidade", primeiro longa-metragem de Camilo Cavalcante, com Irandhir Santos. O filme mostra três histórias de amor ambientadas no sertão.

Entre os documentários, "A Neblina", de Fernanda Machado, revisita as ruínas de Paranapiacaba, em São Paulo. Completam a seleção "Casa Grande", de Fellipe Barbosa (do curta "Beijo de Sal") e "Castanha", de David Pretto. Exibido no festival de Berlim deste ano, na seção "Fórum", "Castanha" narra a existência de João Carlos Castanha, que interpreta a si mesmo, mostrando com crueldade a luta de um transformista que trabalha em um bar de variedades enquanto procura completar suas aspirações como ator sério. 

Nesta edição, o festival conta ainda com seis filmes infantis com entrada gratuita: "Amazônia", "Meu Pé de Laranja Lima", "O Pequeno Nicolau", "Zarafa", "A Guerra dos Botões" e "Minhocas - O Filme".

A seleção foi realizada pelo curador do Festival, Rubens Ewald Filho. As obras cinematográficas concorrerão a prêmios em 23 categorias, que somam R$ 800 mil. 

Veja a seleção da 6° Festival de Paulínia:

Longas-metragens
"Neblina", de Fernanda Machado e Daniel Pátaro (Doc, SP)
"Aprendi a Jogar com Você", de Murilo Salles (Doc, RJ)
"Boa Sorte", de Carolina Jabor (Ficção, RJ)
"Casa Grande", de Fellipe Barbosa (Ficção, RJ)
"A História da Eternidade", de Camilo Cavalcante (Ficção, PE)
"Castanha", de David Pretto (Ficção, RS)
"Infância", de Domingos Oliveira (Ficção, RJ)
"Sangue Azul", de Lírio Ferreira (Ficção, PE)
"Sinfonia da Necrópole", de Juliana Rojas (Ficção, SP)

Curtas-metragens
"De Bom Tamanho", de Alex Vidigal
"Edifício Tatuapé Mahal", de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum
"Jessy", de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge
"190", de Germano Pereira
"O Clube", de Allan Ribeiro
"O Bom Comportamento", de Eva Randolph
"O Menino que Sabia Voar", de Douglas Alves Ferreira
"Recordação", de Marcelo Galvão

Premiação
Filmes de longa-metragem
Melhor filme: R$ 300 mil
Melhor direção: R$ 50 mil
Melhor ator: R$ 30 mil
Melhor atriz: R$ 30 mil
Melhor ator coadjuvante: R$ 15 mil
Melhor atriz coadjuvante: R$ 15 mil
Melhor roteiro: R$ 15 mil
Melhor fotografia: R$ 15 mil
Melhor montagem: R$ 15 mil
Melhor som: R$ 15 mil
Melhor direção de arte: R$ 15 mil
Melhor trilha Sonora: R$ 15 mil
Melhor figurino: R$ 15 mil
Especial júri: R$ 100 mil

Filmes de curta-metragem
Melhor filme: R$ 30 mil
Melhor direção: R$ 20 mil
Melhor roteiro: R$ 15 mil
Especial júri: R$ 20 mil

Júri Popular
Melhor longa-metragem: R$ 50 mil
Melhor curta-metragem : R$ 20 mil

Hollywood brasileira

Festival de Paulínia estava suspenso desde 2012, quando o então prefeito José Pavan Junior anunciou o cancelamento do festival de cinema realizado na cidade, que iria para sua quinta edição, alegando que direcionaria a verba para programas sociais. A última edição completa foi em 2011, mas em dezembro de 2013 ocorreu uma espécie de prévia do festival, depois de a prefeitura ter anunciado a retomada das atividades do Polo Cinematográfico de Paulínia.

A retomada das atividades foi anunciada em novembro de 2013 pela secretária de Cultura Mônica Trigo, que, na época, informou ao UOL que estúdios, cursos e editais seriam retomados e confirmou a realização do festival para julho deste ano. "Vamos dar ao projeto nova roupagem para que se estabeleça como uma política permanente", disse.

Idealizada para ser a "Hollywood brasileira", estima-se que cerca de R$ 490 milhões já tenham sido gastos no polo de Paulínia, desde a década de 1990, quando iniciaram as obras. Os recursos são oriundos dos royalties do petróleo. Entretanto, um imbróglio político interrompeu as atividades do complexo, que possui estúdios de gravação, teatro, escola, escritório de captação de projetos e um restaurante.

O projeto foi criado pelo ex-prefeito, Edson Moura (PMDB), que elegeu o filho Edson Moura Júnior (PMDB), na eleição de 2012, como manobra para escapar da Lei da Ficha Limpa. Moura disputou a eleição por força de uma liminar a seu favor, mas já havia sido condenado duas vezes pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por improbidade administrativa.

Depois de recorrer na justiça, quem acabou ocupando o cargo na ocasião foi o segundo colocado em Paulínia, José Pavan Junior (PSB). Em abril passado, Pavan que já havia abandonado a estrutura do polo e interrompido editais, cancelou o festival de cinema da cidade.

A prefeitura anunciou, em fevereiro, a abertura de editais para retomar as produções no Polo Cinematográfico de Paulínia. No valor total de R$ 8,98 milhões, os editais visavam financiar a produção de 14 curtas e dez longas metragens. Entre as produções que se beneficiaram com verbas de Paulínia nos últimos anos estão filmes como "Bruna Surfistinha", "De Pernas Pro Ar", "Ensaio sobre a Cegueira" e "O Palhaço".