Fã de animes e videogames, Robin Williams tinha orgulho de sua faceta nerd
Pablo Miyazawa
Especial para o UOL, em São Paulo
12/08/2014 06h00
Ele foi um dos comediantes mais prolíficos da história do cinema. Robin Williams, que morreu nesta segunda-feira (11), aos 63 anos, tinha uma faceta nerd desconhecida até mesmo para a maioria dos fãs de seus filmes. E, em diversas ocasiões, o ator declarou com orgulho sua fixação por cultura pop além do universo cinematográfico de Hollywood.
Em uma entrevista coletiva ao estilo "Pergunte-me Qualquer Coisa" no site Reddit, em 2013, Williams revelou que um de seus livros favoritos quando criança era "As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", do britânico C.S. Lewis. "Eu li toda a série para meus filhos. Um dia eu estava lendo para [a filha] Zelda e ela reclamou: 'Não faça essas vozes, leia como você mesmo'. Então eu comecei a ler normalmente, e ela falou: 'Assim é melhor'".
Na mesma entrevista, Williams confirmou ser um especialista em animação japonesa, citando "Ghost in the Shell", "Akira", "Cowboy Bebop" e "Blood: The Last Vampire" como alguns de seus títulos favoritos. "Havia uma loja em San Francisco que vendia laserdiscs, e depois encontrei uma livraria maravilhosa chamada Green Apple que vendia DVDs de animes", ele explicou sobre como se tornou fã do estilo japonês de desenhos animados.
Há quem diga que o ator fazia questão de propagar o gosto pessoal nos filmes de que participou: no thriller psicológico "Retratos de Uma Obsessão" (2002), Williams sugeriu que uma das cenas apresentasse um brinquedo inspirado no anime "Neon Genesis Evangelion", outro de seus favoritos.
Caso raro entre os atores de sua geração, Williams foi um dos poucos a celebrar a diversão proporcionada pelos games e o potencial dessa mídia como forma alternativa de narrativa. Mais do que isso, ele eternizou sua paixão em 1988, quando batizou a segunda filha com o nome de um personagem de um game da empresa japonesa Nintendo: Zelda Rae Williams. Hoje uma atriz de 25 anos, ela ganhou o nome em homenagem à Princesa Zelda da série "The Legend of Zelda".
A escolha do nome foi ideia do filho mais velho de Williams, Zachary, que costumava jogar o game com o pai. "Quando Zach sugeriu Zelda, eu pensei: 'Que nome ótimo'. É mágico. Assim como ela", disse Williams em um vídeo promocional divulgado pela Nintendo em 2011. "Muita gente acha que o nome veio da mulher do [escritor] F. Scott Fitzgerald, mas não. É Zelda por causa de 'The Legend of Zelda'".
No mesmo vídeo, Zelda contou que as colegas da escola tiravam sarro dela por causa do nome. "Eu dizia: 'Mãe, vou mudar de nome quando fizer 18 anos'. Mas daí acabei me apaixonando por ele de novo. As pessoas acham que é o nome mais incrível de todos os tempos", ela disse. "Você tem sorte de não se chamar Mario. Ou Luigi. Ou Samus", brincou Williams, citando outros personagens do universo Nintendo. "Peach teria sido horrível", Zelda respondeu. "Peach é mesmo um nome horrível para uma menina", concordou o pai.
Apesar de também ter sido fã assumido de games de tiro em primeira pessoa, como "Call of Duty", "Battlefield" e "Portal" no console Xbox 360, Williams jamais deixou de se relacionar com a saga mais famosa da Nintendo. Em 2011, o ator consolidou a relação com a empresa quando foi convidado, ao lado da filha, para ser o garoto-propaganda de três lançamentos da série "Zelda": "Skyward Sword", para o console Nintendo Wii, "Ocarina of Time 3D" e "Four Swords", ambos para o Nintendo 3DS.
"Eu comprei um dos primeiros consoles da Nintendo, com uma TV enorme, com o jogo 'Zelda'", ele declarou sobre o primeiro contato com um game da série, em 1987. "E era incrível, viciante. Jogamos por horas e horas". Em entrevista para a revista "Empire", em 2011, Williams afirmou ainda que gostaria de interpretar o vilão Ganondorf em um possível longa-metragem inspirado na franquia.
* Pablo Miyazawa é jornalista especializado em cultura pop. Foi editor-chefe da revista Rolling Stone Brasil e editor das revistas Herói, EGM Brasil e Nintendo World