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"A sociedade não fala a verdade sobre o velho", diz Nelson Xavier

Mariane Zendron

Do UOL, em Gramado

19/08/2014 05h00

Para viver um personagem 20 anos mais velho em "A Despedida", o ator Nelson Xavier, 72, ficou preocupado em passar com verdade as limitações físicas dessa idade. Conversou com um médico especialista para entender os movimentos de braços e pernas e até respiração. "O problema não é ser velho. O problema é já ter sido jovem", diz o personagem que lhe deu o prêmio de melhor ator do Festival de Gramado.

Em "A Despedida", Xavier precisa de uma andador para se locomover, usa fraldas geriátricas, aparelho auditivo e disserta sobre suas limitações. Em certo momento do filme, o personagem diz que não queria estar lúcido para entender sua condição. O longa busca mostrar com mais verdade, mas de uma maneira delicada, a situação dos velhos na sociedade.

Para ele, o fato da produção nacional para TV e cinema ter receio em mostrar mais essa realidade é uma consequência da história do Brasil. "A ditadura ensinou, geração após geração, a se preocupar consigo próprio. A gente começa a se dar conta que estamos numa sociedade profundamente desigual. Uma sociedade assim não fala a verdade sobre o velho".

No longa, Xavier divide cenas tórridas de amor com Juliana Paes, 37 anos mais nova --entre elas, uma dentro de uma banheira e outra na cama da personagem vivida pela atriz. A naturalidade com que encarou as cenas pode ter motivo: na vida real, Xavier é casado com uma mulher 30 anos mais nova que ele, Via Negromonte. "No início das filmagens, a Juliana me disse: 'Quanto ao meu corpo, fique à vontade'".

No Festival de Gramado, Paes --que ganhou prêmio de melhor atriz-- contou que estava preocupada com a reação de Xavier. "Tive medo que ele ficasse constrangido. Falava para ele: 'Pode colocar a mão, não tem problema. Eu não vou achar que você está querendo se aproveitar de mim. Na verdade, eu quero que você se aproveite de mim'", contou ela.

A intenção de Xavier, Juliana Paes e do diretor Marcelo Galvão foi dar humanidade ao protagonista de "A Despedida", um homem que não tem muito tempo de vida e que está consciente disso. "A gente tentou ser verdadeiro. Esse cara tinha que amar a vida sem mágoa, sem rancor".