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Bana traz sinceridade para trama, diz diretor do terror "Livrai-nos do Mal"

Eduardo Graça

Do UOL, em Nova York (EUA)

18/09/2014 15h44

Chove sem parar no lado de fora dos estúdios Kaufman, em Astoria, bairro do Queens com maior concentração de brasileiros da cidade. Também chove, e muito, na Nova York imaginada pelo diretor Scott Derrickson – o mesmo de “A Entidade” e “o Exorcismo de Emily Rose” – para o cenário de “Livrai-nos do Mal”, que chega nesta quinta-feira (18) aos cinemas brasileiros.

Baseado no livro escrito pelo policial Ralph Sarchie, o filme traz Eric Bana vivendo o protagonista inspirado no oficial nova-iorquino e em suas experiências com o paranormal em idas e vindas pelas ruas do Bronx. O elenco conta ainda com Joel McHale (o Jeff da série televisiva “Community”), Edgar Ramírez como um ex-padre exorcista e Olivia Munn como a extra-paciente mulher de Sarchie.

Boa parte das cenas externas foram gravadas em imóveis do distrito mais sinistro da maior metrópole americana – de seu famoso zoológico a uma igreja abandonada – enquanto os treinamentos de luta, as coreografias para cenas como a do exorcismo final e as que retratam alguns dos corredores imundos e porões lúgubres da história foram realizadas em estúdio, no bairro mais tranquilo do Queens.

Derrickson diz que Bana traz algo precioso para o filme, inspirado em fatos reais: “ele é um ator que imprime na tela um senso de sinceridade único. Você é compelido a acreditar nele, por mais incrível que pareça ser a narrativa”. Ao se tocar as paredes escuras de edifícios antigos do Bronx, recriados em Astoria, já fica mais complicado duvidar de uma história que inclui possessões demoníacas, um preâmbulo no Oriente Médio e uma sequência envolvendo crianças e animais no maior zoológico de Nova York, de tirar o fôlego de almas mais sensíveis.

"É mais fácil para ele falar de mim do que eu mesmo. Mas, honestamente, acho que esta ‘credibilidade’ vem do fato de que, quando eu digo SIM, bem alto, para algum projeto, é porque de fato acredito ser capaz de viver aquele personagem em sua plenitude. Não encaro trabalho algum como um experimento, gosto de pensar que, antes de mais nada, esta sensação vem do fato de que eu estou acreditando no que faço, não duvido de mais de mim mesmo nesta altura do campeonato", diz o ator, em conversa com o UOL.

Aos 45 anos, em forma, o australiano protagoniza um filme bem distante de títulos mais densos em sua trajetória, como “Munique”, de Steven Spielberg, ou sua apresentação extra-oficial a Hollywood, “Falcão Negro em Perigo”, de Ridley Scott, produzido pelo mesmo Jerry Bruckheimer que está por trás de “Livrai-nos do Mal”.

Trailer Legendado de "Livrai-nos do Mal"

"Eric é um ator sensacional e fez uma transição em Hollywood bem interessante. Lembro que havia visto 'Chopper - Memórias de um Criminoso', filmado em 1999, e fiquei muito impressionado com ele. Que ator intenso! Aí mostrei ao Ridley e decidimos que ele era o ator ideal para fazer o Hoot em 'Falcão Negro'. De lá para cá, ele fez filmes dramáticos, de ação e comédias românticas. Quantos protagonistas em cinema têm esta versatilidade? E Eric é uma face que definitivamente se relaciona com o mercado internacional, algo em que preciso pensar hoje em dia muito mais cuidadosamente do que quando lançamos 'Falcão', lá nos idos de 2001", diz Bruckheimer.

“Livrai-nos do Mal” custou cerca de US$ 30 milhões e não foi um estrondoso sucesso de bilheteria nos EUA, amealhando o mesmo valor em seis semanas em cartaz. No entanto, mais do que duplicou o lucro com as exibições em mercados internacionais, uma comprovação da lógica do produtor. A aposta em um elenco internacional, puxado por um australiano e um venezuelano, se mostrou igualmente certeira. Bana, que vive em Sidney, e Ramírez, cujo endereço oficial ainda é em Caracas, se uniram no set no Queens e amargaram um dos verões mais chuvosos da história de Nova York, para alegria do diretor, .

"Era importante para o ambiente que queria dar ao filme, centrado no medo. Eu gosto de ir ao cinema para sentir medo. É como ir ao parque de diversões para andar de montanha-russa, libera-se algo único. Pode ver quando as pessoas saem de um bom filme de terror: elas estão rindo. É uma sensação de prazer com a qual eu compactuo. Agora, para se fazer um bom filme de terror, os ingredientes, para mim, são claros: bons personagens, história original e muita, muita tensão", diz Scott Derrickson.

Heróis e terror

Lá se vão quase 13 anos desde que Bana iniciou as filmagens do controverso – e, vá lá, tenso - “Hulk” de Ang Lee, pouco antes da explosão dos filmes de super-heróis e do nicho renovado de filmes de horror como uma das poucas opções de produções com orçamento mais modesto para os padrões do cinema americano.

"Não sou a pessoa mais indicada para reclamar do foco em ficção científica e fantasia em Hollywood, já que além de 'Hulk' também fiz 'Jornada nas Estrelas'. Mas diminuiu muito o espaço para filmes de orçamento médio, seria mais interessante um equilíbrio, até para desenvolvermos mais. Mas o público parece adorar os filmes de ação. A diferença com 'Hulk' foi o fato de ter sido Ang Lee dirigindo, o que deu um tom singular ao filme, acredito, em relação a tudo o que a Marvel produziu depois. Mas já faz tanto tempo...", diz Bana.

Em “Livrai-nos do Mal” seu Sarchie é o durão da história, que reluta em acreditar no caráter sobrenatural da série de crimes que assola a Nova York contemporânea. Ele encontra no ex-padre Mendoza, vivido pelo ator venezuelano Edgar Ramírez o improvável parceiro – o tradicional, vivido por Joel McHale, oferece o contraponto irônico do filme – que acabará se tornando crucial em momento decisivo, na conclusão da história, quando religião, fé e destreza são necessárias para a resolução das mortes aparentemente inexplicáveis.

"Não é preciso, para nenhum de nós, acreditar piamente na história contada no livro de Sarchie. Mas seria de uma arrogância intelectual enorme, além de uma traição ao meu personagem, interpretá-lo duvidando daqueles eventos. Não é preciso ser religioso para entender o sofrimento de todos os envolvidos nesta história. Está lá a chave desta história tão impressionante quanto incrível", diz Ramírez.