"Os chineses causam estranhamento, não é estereótipo", diz Casé sobre filme
O envolvimento de imigrantes chineses no comércio popular é um fenômeno muito conhecido nas grandes cidades brasileiras. Produtos baratos, muitas vezes de origem duvidosa, e a indefectível dificuldade dos orientais com a língua portuguesa servem como munições para gracejos no dia a dia. Nada é diferente em "Made in China", comédia de Estevão Ciavatta, estrelada por sua mulher, a atriz e apresentadora Regina Casé, sobre a chegada dos chineses no calor do maior centro de comércio popular do Rio de Janeiro, o Saara, antes dominado por judeus e árabes.
O filme, que estreia no próximo dia 6, se esforça para não cair no escracho, mas não perde a piada. A vendedora Francis (Regina Casé) percebe a queda nas vendas da loja do patrão libanês (Otávio Augusto) após a chegada dos orientais na loja em frente. Curiosa e comunicativa, ela tenta investigar a origem dos produtos da concorrência e a razão para que o pisca-pisca de Natal custe R$ 1,99 na mão deles. Com carisma e o indefectível jeitão popular, Casé protagoniza inúmeras cenas em que a comunicação falha com os imigrantes.
Em determinado momento, até a curvatura do sexo de uma jovem chinesa é discutida pelo personagem Carlos Eduardo (interpretado por Xande de Pilares, na estreia do sambista no cinema): "Disseram que é atravessada", ele observa.
Comédia e estereótipos
Em sua volta ao cinema, após "Eu Tu Eles" (2000), Casé disse que se preocupou em não parecer ofensiva aos imigrantes. "Vocês acham que pegamos pesado com os chineses?", perguntou aos jornalistas, durante entrevista coletiva nesta quarta-feira (29), em São Paulo.
Para ela, sua personagem é o retrato do que realmente acontece quando alguém é confrontado com o novo. "Isso gera medo. E o medo é o pai da violência, do fanatismo e da intolerância. Ao mesmo tempo que não queríamos fazer algo politicamente correto, também não queríamos algo incorreto. Os chineses chegam e causam estranhamento. Não é estereótipo. Mas você vai comparar a bunda da brasileira com a da chinesa?", defende.
Trailer de "Made in China"
Regina fala especificamente da cena que a jovem Din Din (Yili Chang) revela que quer ser "popozuda" como a vendedora Andressa (Juliana Alves). "O humor está nisso, na realidade. O estereótipo revela as diferenças", defende Alves. Humorista do Porta dos Fundos, Luis Lobianco provoca: "humor do bem não tem graça".
Em sua primeira ficção, após o documentário "Programa Casé", sobre o radialista Adhemar Casé, avô de Regina, Ciavatta relembra o curso de roteiro que fez nos Estados Unidos com Robert McKee, considerado o guru dos roteiristas, para falar do tom das piadas no filme. Segundo o cineasta, McKee começava cada aula perguntando: "de quem vamos falar mal hoje?".
"Você precisa do estereótipo para fazer comédia", defende o diretor. "O riso tem que vir assim. Não tem como fugir disso. A única coisa que poderia ser delicado (abordar) é a origem dos produtos chineses. O resto foi tranquilo", disse.
Saara
Ciavatta conta que passou dez anos com o projeto nas mãos. No início, a história girava em torno dos judeus e árabes que deram fama aos quarteirões no centro do Rio. "Eles diziam que era quase uma pequena ONU", brincou. "A cada visita lá, percebemos que a novidade era a chegada dos chineses. Algo que não acontece só no Rio. Todo brasileiro vai entender ao ver o filme. Achei que geraria conflito e boas confusões".
O elenco chinês entrou na dança e colaborou para o humor. "Poderia ser um filme de suspense, essa chegada dos chineses com mercadorias importadas, super baratas, mas ser feliz é o que há de melhor. Prefiro comédia", afirma o diretor.
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