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Cinema nacional se apaixona por mulheres em crise em cinco novos filmes

Marjorie Estiano (Beatriz) e Sergio Guizé (Marcelo) de "Beatriz", de Alberto Graça - Divulgação
Marjorie Estiano (Beatriz) e Sergio Guizé (Marcelo) de "Beatriz", de Alberto Graça Imagem: Divulgação

Silvana Arantes

Do UOL, em São Paulo

30/10/2014 05h00

Elas não estão (apenas) à beira de um ataque de nervos. As crises que as mulheres enfrentam na nova safra de filmes brasileiros são bem mais complexas do que um simples chilique - envolvem depressão, dependência química, tentativas de suicídio, traições realizadas com o objetivo de preservar o amor. 

Algum homem é capaz de entender as razões de comportamentos assim? A resposta é variável, de acordo com a visão de cinco diferentes cineastas. Os longas-metragens recém-concluídos desses diretores refazem a eterna indagação masculina sobre “o que quer uma mulher?” contando histórias em que eles se sentem atordoados diante dos problemas (ou das soluções) delas. 
 
É assim com Eduardo (João Miguel), que convive com a depressão e as ideias suicidas de Julia (Marina Person), com quem é casado e tem dois filhos em “Voltando para Casa”, de Gustavo Rosa de Moura. 
 
Para interpretar a protagonista, a ex-VJ Marina Person procurou fazer um trabalho que não deixasse o espectador se lembrar da “Marina da MTV”. Até porque, “na TV eu sempre fui muito eu mesma”, diz ela. O interessante de um papel como o de Julia, afirma Marina, foi “poder explorar os muitos lados da personalidade de alguém que está em equilíbrio, mas pode se desequilibrar a qualquer momento”. 
 
Marina Person e João Miguel em cena de "Voltando para Casa" - Divulgação - Divulgação
Marina Person e João Miguel em cena de "Voltando para Casa"
Imagem: Divulgação
 
Desequilíbrio é o tom dominante na trajetória de Joli (Bianca Joy Porte) em “Prometo um Dia Deixar essa Cidade”, que deu o prêmio de melhor atriz a Bianca no Festival do Rio. 
 
Neste segundo longa do pernambucano Daniel Aragão, a jovem e rica Joli deixa uma clínica de reabilitação e volta para a casa do pai, interpretado por Zécarlos Machado (o Theo, de “Sessão de Terapia”), no momento em que ele tenta se candidatar à Prefeitura do Recife. 
 
Joli se vê envolvida nas artimanhas de uma política de exploração da miséria e tratos corruptos. A desconfiança do pai e do namorado (Sérgio Marone) sobre sua recuperação acentuam nela a sensação de inadequação e isolamento. A trama se encaminha para um final trágico.
 
“Vivi tudo o que eu tinha de viver para me preparar para esse filme”, diz Bianca, para quem “não há como um ator não se apaixonar” por um papel como o de Joli, “que envolve um desafio gigante de transitar por muitas camadas emocionais”. 
 
Nascida em Paris e criada no Rio de Janeiro, Bianca viveu durante meses no Recife, preparando-se para o papel. Todo o processo de ensaio e filmagens “foi duro, mas foi bom”, avalia a atriz, que atribui ao filme a qualidade de “falar ao mesmo tempo do micro e do macro, do regional e do universal, olhar muito para dentro e para fora”. 
 
O potencial de comunicação desses longas com plateias estrangeiras passa por um teste nesta semana, quando estão sendo realizadas em São Paulo sessões exclusivas para o diretor da seção Fórum do Novo Cinema do Festival de Berlim, Chirstoph Terhetche. A partir de informações preliminares sobre a nova safra nacional, Terhetche selecionou 12 longas inéditos em circuito comercial para assistir aqui. A 65ª edição do Festival de Berlim ocorre entre 5 e 15 de fevereiro de 2015. 
 
 
Se Terhetche se encantar por “Beatriz”, ele levará a Berlim um filme no qual o diretor Alberto Graça (“O Dia da Caça”) quis falar sobre o amor pela perspectiva do “erotismo como esse desafio que nos amedronta e nos fascina a vida toda” e discutir a questão “da liberdade e do prazer da mulher”. 
 
Na trama, a advogada Beatriz (Marjorie Estiano) se muda para Lisboa com o marido, Marcelo (Sergio Guizé), um escritor em fase de bloqueio criativo. Quando ele volta a produzir, usa a história do casal como fonte para o novo livro. Instigada, Beatriz passa a buscar experiências menos rotineiras e mais inusitadas.    
 
O cineasta diz que foi “um golpe de sorte” encontrar Marjorie para viver a protagonista. “Ela consegue um tom cotidiano nas falas poéticas, com um tempo próprio, e isso dá uma dimensão ao texto que eu raramente vi em atrizes brasileiras”, afirma Graça.
 
Também estão entre os filmes que o curador alemão quis ver no Brasil “Para minha Amada Morta”, de Aly Muritiba, e “Real Beleza”, de Jorge Furtado. No primeiro, Mayana Neiva é a evangélica Raquel, casada com Paulo (Fernando Alves Pinto), que descobre casualmente um surpreendente aspecto da personalidade da mulher, ao remexer em suas coisas, após a sua morte.
 
Em “Real Beleza”, o casal Adriana Esteves e Vladimir Brichta vive um triângulo amoroso que tem Francisco Cuoco como terceiro vértice. Anita (Adriana Esteves) é casada com Pedro (Francisco Cuoco) e mãe de Maria (Vitória Strada). O fotógrafo João (Vladimir Brichta) caça talentos no Rio Grande do Sul. Certo de que Maria é o novo rosto de modelo que ele estava buscando, conhece os pais dela _e se apaixona pela mãe. 
 
Não precisa ser um astro da adivinhação para saber que João será correspondido e que o romance dos dois tem todas as condições para ser complicado e nada perfeitinho.