Após ameaça suspender estreia, cinemas cancelam sessões de "Team America"

As ameaças dos hackers direcionadas aos estúdios da Sony fizeram mais uma "vítima" nas programações dos cinemas americanos . Após a comédia “A Entrevista” ter sua estreia suspensa pelo estúdio, sessões de uma animação com fantoches, "Team América: Detonando o Mundo", também foram canceladas.

Produzido pelos criadores de "South Park", o filme de 2004 também levantou polêmica por envolver uma conspiração terrorista com o líder norte-coreano na época, Kim Jong-il, pai de Kim Jong-um.

Pelo menos três cinemas -- Alamo Drafthouse Cinema no Texas, The Plaza Atlanta Theater na Georgia, e Capital Theatrer em Ohio – anunciaram a exibição de “Team América” em reação ao cancelamento de “A Entrevista”. Na quarta-feira (18), no entanto, todas as sessões foram canceladas. Assista abaixo o trailer de "Team America".

Um dos cinemas, o Capitol Theatre, avisou  pelo Twitter  que a sessão estava cancelada “pela Paramount Pictures”. O estúdio responsável pela animação não comentou a notícia.

Mike Furlinger, responsável pelo cinema Plaza Theatre, em Atlanta, contou ao “The Hollywood Reporter” que a gerência havia entrado contato com a Paramount na quarta-feira, para obter informações sobre a exibição. Um dia depois, segundo ele, o estúdio respondeu que o filme estava “fora de serviço” no catálogo.

Antes do cancelamento, o gerente da Alamo Drafthouse, James Wallace havia defendido a exibição de “Team America” para “tentar fazer o melhor em uma situação lamentável". "Isso é como verdadeiros heróis americanos estarão comemorando este ano, mas se você quer deixar os terroristas ganharem... bem, isso é um direito seu", criticou.

Entenda o caso
Sob a ameaça de ataques terroristas de hackers, a Sony Pictures chocou Hollywood ao cancelar a estreia do filme “A Entrevista”, com Seth Rogen e James Franco, na quarta-feira (17).  A estreia da comédia também está cancelada “até segunda ordem” no Brasil, segundo a assessoria de imprensa do estúdio no país. No longa, James Franco e Seth Rogen interpretam dois jornalistas recrutados pela CIA para exterminar o líder norte-coreano Kim Jong Un.

Anteriormente, a Sony estava estudando lançar “A Entrevista” online, sob demanda. No entanto, de acordo com a “Variety”, o filme não deve ser lançado nem mesmo em DVD, em uma decisão sem precedentes na história de Hollywood. Segundo o site especializado “The Wrap”, o prejuízo do estúdio pode chegar a US$ 90 milhões (cerca de R$ 230 milhões).

Por conta do caso, a Fox divulgou também que não irá lançar em março, como previsto, o longa "Pyongyang", do diretor Gore Verbinski, estrelado por Steve Carell. Baseado na graphic novel de Guy Delisle, o suspense retrata experiências de um ocidental que trabalha na Coreia do Norte por um ano.

Nesta semana, hackers denominados Guardians of Peace chegaram a ameaçar a Sony caso o filme fosse lançado, evocando, de forma obscura, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Os hackers, que disseram também ser responsáveis por invadir os sistemas da Sony Corp no mês passado, alertaram na terça-feira (16) para que as pessoas ficassem longe dos cinemas que exibissem o filme estrelado por Franco e Rogen. "Recomendamos que vocês se mantenham distantes desses lugares nesse período", escreveram os hackers. 

Desde o dia 24 de novembro, o Guardians of Peace vem divulgando centenas de dados sigilosos do estúdio, como documentos de folhas de pagamentos, endereços e e-mails constrangedores trocados entre executivos.

Em entrevista coletiva nesta quinta, o secretário de imprensa da presidência americana Josh Earnest disse que o ataque à Sony é considerado "uma séria questão de segurança nacional" e que o governo está considerando uma série de respostas possíveis para quando as investigações do FBI e do Departamento de Justiça forem concluídas. Earnest também teve o cuidado de não afirmar que a Casa Branca acredita no envolvimento da Coreia do Norte.

O escritor Paulo Coelho surpreendeu seus seguidores nesta quinta (18) ao oferecer à Sony US$ 100 mil para adquirir os direitos sobre o longa "A Entrevista".

Em conversa com a reportagem do UOL nesta quinta-feira (18), ele defendeu que a ameaça abre um precedente terrível. "Eu acho uma ameaça a qualquer artista em qualquer lugar do mundo. Na minha juventude acompanhei o caso de Salman Rushdie [autor do polêmico livro "Versos Satânicos"]. Os editores suspenderam, mas depois resolveram publicar. Foi um horror. Teve editor assassinado, teve livraria queimada, mas a liberdade de expressão foi mantida", disse o escritor.